Correio braziliense, n. 20826 , 30/05/2020. Brasil, p.6

 

Mais mortos que a Espanha

Bruna Lima

Maria Eduarda Cardim

30/05/2020

 

 

CORONAVÍRUS » Brasil assume a trágica liderança de ter mais registros diários de óbitos pela covid-19 no mundo: ontem foram 1.124, elevando o total para 27.878 vítimas fatais. País está perto de alcançar a França e segue rápido para tirar a Itália do 3º lugar no ranking da pandemia

Com crescimento exponencial na curva de casos e mortes pelo novo coronavírus, o Brasil se tornou o país com mais registros diários no mundo, ultrapassando, inclusive os Estados Unidos nas atualizações. Pelo quarto dia consecutivo, o país registrou mais de mil mortes e 26 mil casos. Ontem, após assegurar mais 1.124 óbitos e 26.928 confirmações em 24 horas, o Brasil chegou a 27.878 vítimas fatais e 465.166 casos confirmados. Isso levou o Brasil a ultrapassar a Espanha, tornando-se o quinto país, em números absolutos, com mais mortes pelo vírus.

Segundo levantamento da Universidade Johns Hopkins, a Espanha tem 27.121 mortes. A França, com 28.717, também deve ser ultrapassada pelo Brasil que, por enquanto, ocupa a quinta posição em número de óbitos pela covid-19. Está atrás dos Estados Unidos (102.686), Reino Unido (38.243), Itália (33.229) e França, nesta ordem. No entanto, ao se falar em atualização diária de mortes e casos, o Brasil está com os piores números.

De acordo com levantamento do site de estatística Worldometer, os EUA, líderes do ranking geral, computaram 1.080 novas mortes –– 44 a menos que as registradas no Brasil ontem. Quanto aos acréscimos de casos, aumentou a lista em 20.837 confirmações. Ao se falar em números absolutos, os Estados Unidos mantêm a liderança, acumulando 1,74 milhão de infectados. O quantitativo de anotações positivas para o novo coronavírus no Brasil podem, no entanto, ser maior do que o dos EUA, pois a subnotificação aqui é alta.

Pelo levantamento do Worldometer, o Brasil realiza 12,5 a 19 vezes menos testes por milhão de habitante entre os cinco países com mais casos. Os EUA, por exemplo, fizeram 16,77 milhões de exames, que equivalem a 50,6 por 1 milhão de habitantes (soma entre testes pela rede pública e privada dá 871 mil testes, ou seja, avalia apenas quatro a cada milhão). A contagem do Ministério da Saúde, que considera somente as avaliações dos laboratórios centrais, tem um número ainda menor: apenas 488,8 mil exames realizados até ontem.

Enquanto os dados oficiais dão conta de 465 mil casos da doença, pesquisadores Portal Covid-19 Brasil, iniciativa da Universidade de São Paulo (USP) e da Universidade de Brasília (UnB), calculam que o número varia entre 3,9 e 5,5 milhões — estimativa 12 vezes maior do que o divulgado. O Ministério da Saúde admite a defasagem de testagem e afirma que aumenta a capacidade dos laboratórios para diminuir essa diferença. O secretário substituto de Vigilância em Saúde, Eduardo Macário, explicou que nem todas as unidades particulares informam ao Ministério da Saúde a quantidade de exames feitos e os resultados obtidos. "30% dos laboratórios privados ainda não informam o Ministério os resultados dos exames realizados em suas redes", explicou.

Estados
Só em São Paulo, a covid-19 matou 7.275 pessoas. Além de São Paulo, outros cinco estados têm mais de mil mortes: Rio de Janeiro (5.079), Ceará (2.859), Pará (2.827), Pernambuco (2.669) e Amazonas (2.011). Os seis somados apresentam 22.720 óbitos, ou seja, 81,4% de todas as mortes confirmadas. Todos os 26 estados do Brasil, além do Distrito Federal, registraram casos e mortes.

O Ministério da Saúde divulgou ainda o número de pacientes recuperados da covid-19. Foram liberados 189.476 dos 465.166 pessoas diagnosticadas com o novo coronavírus — representam 40,7% das que tiveram a doença. Já os brasileiros que não resistiram representam 6,4% desse montante. Outras 247.812 pessoas continuam em acompanhamento e 4.245 óbitos estão em investigação.