Título: Esforço para salvar vidas
Autor: Bernardes, Adriana
Fonte: Correio Braziliense, 21/12/2012, Cidades, p. 25

Com 398 mortes nas ruas até agora em 2012, o DF pode alcançar o recorde histórico de menor número de óbitos em um ano, caso a média da primeira quinzena de dezembro se mantenha até o fim do mês. Detran vai intensificar fiscalização para bater a meta

O Distrito Federal está a 11 dias de bater um recorde histórico: o de menor número de mortos no trânsito dos últimos 15 anos. De janeiro deste ano até o último domingo, 398 pessoas morreram em tragédias nas ruas da capital. Se, até o próximo dia 31, o número de registros se mantiver na média da primeira quinzena do mês, cerca de 50 vidas serão poupadas em relação a 2011, quando houve 465 óbitos. As mudanças na lei seca podem ser uma das ferramentas para ajudar no cumprimento dessa meta, caso a presidente Dilma Rousseff as sancione antes das festas de fim de ano.

Desde 1995, quando o Departamento de Trânsito (Detran) iniciou a contabilidade dos mortos em acidentes, o menor número de vítimas foi em 2006, com um total de 414 óbitos (veja arte). “Se, até o fim do ano, conseguirmos manter a média registrada neste mês, de menos de uma vítima por dia, pouparemos muitas vidas. Mas, para isso, todos temos que atuar juntos: o governo e a sociedade”, alerta José Alves Bezerra, diretor-geral do Detran.

Em busca da meta histórica, o departamento vai arrochar a fiscalização durante o período de festas, especialmente em Ceilândia e Taguatinga, cidades com o maior número de mortos nas vias. Além das blitzes, haverá fiscalização ostensiva, quando os carros oficiais circulam pelas vias. “Vamos atuar amparados pelas estatísticas que apontam os lugares, os dias e a hora em que mais ocorrem esses acidentes com morte”, adianta Bezerra.

Na avaliação do agricultor Everaldino Vêncio da Silva, 52 anos, a boa notícia — de redução das mortes — só virá se cada cidadão fizer a sua parte. “Depende muito mais do motorista do que do governo. Fiscalização é importante, a multa também. Mas o mais importante, na minha opinião é a consciência de cada um em cumprir as leis de trânsito”, acredita o morador de Planaltina, que defende a transformação da multa em prestação de serviço comunitário para inibir os infratores. “A multa, a pessoa paga e se livra logo daquilo. O serviço comunitário, não”, diz.

Rigor

A expectativa agora é pela sanção presidencial da nova lei seca aprovada pelo Senado Federal nesta semana. Os ajustes na legislação fortalecem o trabalho da fiscalização ao ampliar os meios de prova para comprovar a embriaguez do condutor. Além disso, dobram o valor da multa. O motorista flagrado pagará R$ 1.915,40, em vez dos atuais R$ 975.

A lei votada pelo Senado chegou ontem à Casa Civil. Regimentalmente, a presidente Dilma tem até 10 de janeiro para sancionar ou vetar a proposta. Como vários órgãos do governo federal atuaram ativamente para agilizar a votação de uma proposta que tornasse a punição mais rígida, comenta-se nos bastidores que ela sancionaria a lei antes das festas para que a fiscalização possa se valer das novas regras durante a operação de fim de ano. A assessoria da Presidência da República não confirma, nem desmente.

Nas ruas, a mudança ainda não é amplamente conhecida. O comerciante Cláudio Régis Oliveira, 45 anos, morador de Ceilândia, soube pela reportagem das novas regras e levou um susto com o valor da multa. “Deus me livre! Cair numa blitz dessa acaba com o fim de ano de qualquer um. É muito caro e, como a maioria das pessoas só cumpre a lei quando pesa no bolso, acho que mais gente vai parar de dirigir depois de beber”, acredita.

Para o diretor do Detran, a possibilidade de reduzir o número de mortos no trânsito aos registros de 2006, quando a frota era 57% menor — 883.676 veículos, contra os atuais 1.391.029 — é resultado de ações adotadas ao longo deste ano e envolveu outros órgãos da segurança pública, como Polícia Militar, Corpo de Bombeiros, Polícia Civil e Polícia Rodoviária Federal. “Temos as operações Funil e Ação Pela Vida, as blitzes inteligentes, e isso é sintomático. Aumenta a fiscalização, o número de acidentes cai”, avalia Bezerra (Leia mais sobre as operações na arte).

Memória

Reportagem premiada

No fim do ano passado, o Correio publicou uma série de matérias intitulada “Órfãos do Asfalto”, em que mostrava o sofrimento de pessoas que perderam parentes e amigos em acidentes de trânsito. A reportagem levantou os nomes de todas as vítimas e os publicou no jornal. Ao longo da semana, relatos de superação e de dor, como a da professora Vânia Borges de Carvalho, 43 anos, foram publicados. Ela perdeu o marido e três filhos na véspera do Natal de 2010. Por recomendação médica, passou a data em sono induzido por remédios. A série foi premiada pela Confederação Nacional do Transporte (CNT). Ao longo deste ano, o Correio tem publicado o placar da vida, com o número de mortos. Um alerta para a sociedade e para as autoridades de trânsito. Na ocasião, a Secretaria de Segurança Pública anunciou uma série de medidas na tentativa de conter a escalada da violência no asfalto. Chamada de Operação Funil, a força-tarefa tem como objetivo fechar o cerco em vias e rodovias perigosas do Distrito Federal.