O globo, n. 31678, 30/04/2020. Economia, p. 20

 

Auxilio: 13,6 milhões terão de refazer cadastro

Geralda Doca

30/04/2020

 

 

Segundo a Dataprev, por problemas de preenchimento dos dados, não foi possível identificar se esses trabalhadores têm direito aos R$ 600. Todos terão de se inscrever novamente no site ou no aplicativo da Caixa

 Um universo de 13,6 milhões de informais terá de refazer o cadastro no aplicativo ou site da Caixa Econômica Federal para receber o auxílio emergencial de R$ 600. Ao analisar em torno 40 milhões de inscrições realizadas no sistema do banco, a Dataprev não conseguiu identificar se esses trabalhadores têm direito ao benefício. Outros 20,27 milhões foram considerados elegíveis e 6,97 milhões, inelegíveis.

Ao todo, foram finalizados no sistema 49,2 milhões de cadastros até a tarde de ontem. Desse total, 46 milhões já foram repassados à Dataprev para cruzamento de dados e autorização do pagamento.

Quando a análise do pedido é inconclusiva, o interessado precisa fazer uma nova solicitação para corrigir dados informados anteriormente. Entre os motivos para esse tipo de resultado estão: marcação como chefe de família sem indicação de nenhum membro; falta de inserção da informação de sexo; preenchimento incorreto de dados de membros da família, tais como CPF e data de nascimento; divergência de cadastramento entre integrantes da mesma família; e inclusão de alguma pessoa que já morreu.

Se o resultado for “benefício não aprovado”, o trabalhador também poderá contestar o motivo da não aprovação ou realizar nova solicitação. Para ter direito ao auxílio emergencial, ele não pode receber outro benefício do governo e precisa se enquadrar nos critérios previstos nas lei: renda mensal de até meio salário mínimo( R $522,50) ou renda familiar total de até três mínimos( R $3.135,00).

SEGUNDA PARCELA

A Caixa Econômica Federal informou que já pagou o auxílio emergencial de R$ 600 para 46,2 milhões de pessoas, o que representa um volume total de R$ 32,8 bilhões. Desse universo, 17,3 milhões são beneficiários do Bolsa Família, 10,5 milhões são trabalhadores que já eram inscritos no Cadastro Único e 18,4 milhões são informais que não constavam neste banco de dados do governo e fizeram o pedido do benefício no aplicativo e no site da Caixa.

A Caixa vai pagar o auxílio emergencial hoje a cerca de 3,6 milhões de beneficiários. Destes, 1,7 milhão de pessoas são informais que se inscreveram pelo aplicativo do banco.

O cronograma de saque do auxílio, em dinheiro, para trabalhadores que não tinham conta em banco e tiveram o benefício creditado em uma poupança digital começou na segunda-feira e continua até o dia 5 de maio, de acordo com o mês de nascimento. Hoje, serão pagos os nascidos em julho e agosto.

Com o valor creditado, os beneficiários podem fazer transferências para outras contas e pagar despesas pelo aplicativo Caixa Tem. O aplicativo, contudo, apresenta problemas de instabilidade constantes por causa do excesso de acessos.

A Caixa afirma que está concentrando esforços para acelerar o atendimento, já que as pessoas estão enfrentando problemas para acessar o aplicativo e vêm se aglomerando nas agências para receber a primeira parcela do auxílio. O calendário de pagamento da segunda parcela só será anunciado depois que esses transtornos forem solucionados.

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Ao menos 5,7 milhões de informais não têm internet

Pedro Capetti

Karen Garcia

30/04/2020

 

 

Um em cada cinco domicílios do país não contava com o serviço em 2018

Ao menos 5,7 milhões de trabalhadores informais não utilizavam a internet no fim de 2018. Os dados, divulgados ontem, fazem parte da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) Contínua, que levantou o acesso dos domicílios brasileiros à tecnologia da informação e comunicação (TIC).

Eles correspondem a 15% do universo de trabalhadores informais, que, segundo o IBGE, somava 37,5 milhões no fim de 2018.

Os números indicam o desafio do governo em atingir essa parcela da população na distribuição do auxílio emergencial de R$ 600, criado para mitigar os efeitos da pandemia do novo coronavírus. É esse grupo de excluídos digitais que corre maior risco de não receber o benefício, uma vez que o cadastro está disponível apenas por internet e aplicativo.

A pesquisa mostrou ainda que o país tinha 14,9 milhões de domicílios sema cessoà internet em 2018, o correspondente a 20% das 71,7 milhões de residências. Ou seja, um em cada cinco lares não contava com o serviço, considerando uso por computador, celular, tablet ou televisão.

Falta de interesse (34,7%), preço do serviço (25,4%) e não saber utilizar (24,3%) foram os principais motivos alegados para não ter internet em casa.

A pesquisado IBGE mostrou ainda que o celular é o principal meio de acesso à internet. Em 99,2% dos domicílios em que havia internet em 2018, o telefone móvel era utilizado para este fim.

Sem computador ou internet em casa, é pelo celular que a cozinheira Cleide Vianna, de 39 anos, se comunica com familiares, amigos e contatos de trabalho. Desempregada desde dezembro, ela conta que não consegue incluir mais essa despesa no orçamento da casa onde mora com duas filhas, em um conjunto habitacional em São Gonçalo, Região Metropolitana do Rio.

— Com o dinheiro de uma conta de internet, eu coloco comida em casa —diz ela.

Todo mês, sua irmã faz uma recarga de R$ 10 no celular para que a família tenha acesso à internet. Foi assim que sua filha mais velha, de 18 anos, se cadastrou no auxílio emergencial. Todos os dias, elas acessam o aplicativo da Caixa, mas o pedido está em análise.

— Eu nem acesso muitas coisas no telefone paranã o sobrecarregara internet, poi sé pouca. E agente não pode correr o risco de não vera atualização no aplicativo—diz Cleide.

Para Athayde Motta,di retor executivo do Instituto Brasileiro de Análises Sociais e Econômicas (Ibase), o problema é conhecido:

— É difícil acreditar que o governo não sabia da exclusão digital, não é uma novidade. Talvez as pessoas se espantem agora, no momento da distribuição do auxílio. Não é porque somos um dos países que mais acessam redes sociais que todos fazem esse acesso.

Para se cadastrar no programa, Marcelo de Oliveira Silva, de 70 anos, recebeu ajuda de um morador do prédio onde presta serviços, no Leme, Zona Sul do Rio. Ele conta que o aparelho de celular que possui é simples e só recebe ligações.

—Tenho um celular velhinho. Só atendo ligações quando aparece um serviço e peço para as pessoas se identificarem, porque não sei salvar contatos. Não entendo nada de computador.