O globo, n. 31679, 01/05/2020. Especial Coronavírus, p. 14

 

Celso de Mello dá cinco dias para PF interrogar Moro

Carolina Brígido

01/05/2020

 

 

Ministro atendeu a parlamentares que pediram menos prazo para diligências 

JORGE WILLIAM/24-04-2019Relator. O ministro Celso de Mello está à frente do inquérito no Supremo

 O ministro Celso de Mello, do Supremo Tribunal Federal (STF), determinou ontem que a Polícia Federal tome o depoimento de Sergio Moro no prazo de cinco dias. O interrogatório servirá para instruir o inquérito que investiga o teor do discurso de Moro ao se despedir do Ministério da Justiça, na última sextafeira. No discurso, Moro acusou Bolsonaro de tentar interferir indevidamente nas atividades da PF. A pedido da Procuradoria-Geral da República (PGR), o ex-ministro deverá apresentar “manifestação detalhada sobre os termos do pronunciamento, com a exibição de documentação idônea que eventualmente possua acerca dos eventos em questão”. À revista “Veja”, Moro afirmou:

—Reitero tudo o que disse no meu pronunciamento. Esclarecimentos adicionais farei apenas quando for instado pela Justiça. As provas serão apresentadas no momento oportuno, quando a Justiça solicitar—declarou.

Na segunda-feira, quando abriu o inquérito sobre o assunto, Celso de Mello deu prazo de até 60 dias para a realização das diligências. A diminuição do prazo foi determinada a pedido de três parlamentares: o senador Alessandro Vieira (Cidadania-SE) e os deputados Tabata Amaral (PDT-SP) e Felipe Rigoni (PSB-ES). “A gravidade das acusações dirigidas ao presidente da República, em nosso entendimento, somada à grave crise política pela qual atravessa o país, leva a crer que o prazo de 60 dias para a realização da diligência em tele pode se demonstrar excessivo”, argumentaram ao STF.

Os parlamentares também pediram para que sejam mantidos os delegados da PF que atuam no Serviço de Inquéritos Especiais, setor responsável pelas investigações conduzidas pelo STF. A providência seria uma forma de blindar a investigação contra eventuais interferências. Essa parte do pedido Celso de Mello não concedeu. Ele pediu para que a PGR seja ouvida sobre a necessidade de se tomar a medida.

No pedido de abertura de inquérito, o procurador-geral da República, Augusto Aras, informou que a investigação é sobre se Bolsonaro cometeu crime e também se Moro falou a verdade. Ou seja: ambos são alvo da apuração. Aras informou ao Supremo que há suspeita de cometimento de sete crimes: falsidade ideológica, coação no curso do processo, advocacia administrativa, prevaricação, obstrução de justiça, corrupção passiva privilegiada e denunciação caluniosa.

No mesmo inquérito, o senador Randolfe Rodrigues (Rede-AP) pediu a Celso de Mello para autorizar busca e apreensão no celular da deputada Carla Zambelli (PSL-SP). O ministro pediu que Aras se manifestasse sobre a necessidade da medida antes de decidir. Na sexta-feira, Moro apresentou ao "Jornal Nacional" cópia de mensagem de WhatsApp trocada com a parlamentar tratando sobre a troca do comando da Polícia Federal. No mesmo dia, Moro também mostrou ao programa mensagens trocadas com Bolsonaro para comprovar que o presidente teria tentado interferir nas atividades da PF.