Título: Armas sob controle
Autor: Tranches, Renata
Fonte: Correio Braziliense, 20/12/2012, Mundo, p. 26

Obama quer, também, aumentar o acesso dos cidadãos norte-americanos aos cuidados de serviços mentais para se evitar novos episódios como o ataque em Newtown (Connecticut)

O presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, exortou ontem sua equipe a apresentar ao Congresso até janeiro um plano amplo para o controle de armas no país. Segundo ele, a questão será “central” em seu segundo mandato, que se inicia oficialmente em 21 do mês que vem. A força-tarefa será liderada pelo vice-presidente, Joe Biden, que participou da coletiva de imprensa na Casa Branca, transmitida pela internet. Obama reafirmou que utilizará todo o poder de seu cargo para “superar a oposição política” às medidas que restringem o controle de armas. O anúncio foi feito cinco dias depois do massacre em uma escola primária de Newtown (Connecticut), no qual 20 crianças e seis adultos foram mortos a tiros de fuzil. O autor do massacre, Adam Lanza, de 20 anos, suicidou-se depois de disparar contra as vítimas. “Se houver uma única coisa que possamos fazer para prevenir eventos como esse, temos a profunda obrigação, todos nós, de tentar”, declarou.

Depois do funeral das quatro primeiro crianças na segunda e terça-feira, ontem foi enterrado o primeiro corpo de uma professora da Escola Primária Sandy Hook, onde ocorreu o ataque. Victoria Soto, 27 anos, foi sepultada em Stratford, próximo a Newtown. Segundo declarações de familiares, ela morreu tentando proteger seus alunos dos tiros com o próprio corpo. O Departamento de Educação do Estado de Connecticut informou ontem que os estudantes da Sandy Hook, que foi desativada, voltarão a frequentar aulas no dia 2 de janeiro, na escola Chalk Hill, na cidade vizinha de Monroe.

Desde o ataque, ocorrido na última sexta-feira, o presidente Obama tem demonstrado determinação para propor mudanças relacionadas ao delicado tema da posse de armas na sociedade norte-americana. Em suas primeiras declarações, disse que o país já havia tido episódios demais como o de Newtown e que algo precisa ser feito para se evitar novas tragédias. O restabelecimento de uma proibição contra fuzis de assalto adotada no governo Bill Cliton, em 1994, e extinta na gestão de George W. Bush, em 2004, é a medida que mais ganha força. O atual presidente, que já defendeu a proposta em 2008, tem demonstrado apoio à iniciativa da senadora democrata Dianne Feinstein de retomar a proibição, ampliando-a também para pistolas semi-automáticas.

Obama afirmou ontem que o grupo de trabalho criado na Casa Branca para lidar com o tema deve analisar como regulamentar a venda de fuzis de assalto e de carregadores de alta capacidade. O líder sinalizou ainda que a equipe sob comando do vice-presidente Joe Biden atuará em políticas públicas relacionadas à saúde mental e à violência na cultura popular norte-americana. “Precisamos trabalhar para tornar o acesso a cuidados de saúde mental, no mínimo, tão fáceis como a armas de fogo”, disse Obama. O especialista e professor de direito da George Washington University Robert Cottrol opinou, em entrevista ao Correio, que essas medidas são até mais urgentes do que o controle de porte de armas. Segundo ele, 47% das residências americanas têm armas . “Como fazer esse controle onde há mais de 200 milhões de armas nas mãos da população?”, questiona. Para ele, o caminho incrementar as políticas públicas voltadas para a saúde mental.

Segunda Emenda

O presidente reconheceu a complexidade do tema, mas disse que isso não é motivo para “não se fazer nada”. Obama afirmou que acredita que a Segunda Emenda assegura o direito ao porte de armas. “Este país tem uma forte tradição de posse de armas”, afirmou. Mas conclamou a todos a “fazer as coisas de uma maneira diferente”. Em uma das raras ocasiões em que respondeu a jornalistas, ele disse esperar que a Associação Nacional do Rifle (NRA, na sigla em inglês), faça uma auto-reflexão. “É uma organização que tem membros que são pais e mães, e espero que eles também tenham sido impactados da mesma maneira.”

A Flórida, estado com mais pessoas armadas nos EUA, alcançou esta semana um milhão de licenças para porte de armas, segundo o comissário do Agricultura, Adam Putnam. No estado, quatro em cada cinco pessoas que obtêm a licença são homens, mas há crescimento entre as mulheres. Segundo a imprensa local, com o aumento do debate sobre a limitação do porte de armas, as vendas de armamentos no estado dispararam e estão alcançando recordes.

Consciente de seus atos O sargento norte-americano Robert Bales foi encaminhado para um tribunal marcial e poderá ser condenado à pena de morte. O julgamento, que será realizado na base Lewis-McChord, em Washington, deve acusar o soldado de matar 16 afegãos, tentativa de homicídio de outras seis pessoas, durante incursões do seu agrupamento militar. Semana passada foi realizada uma audiência preliminar, quando o procurador militar, major Rob Steele, afirmou que o sargento estava consciente de suas ações. Esta é a primeira vez, em 50 anos, que um membro do Exército dos EUA pode ser executado. No Reino Unido, o primeiro ministro David Cameron, declarou que serão retirados 3,8 mil dos 9 mil soldados do Afeganistão em 2013. "Podemos fazer com a que as tropas voltem para casa em duas etapas relativamente equivalentes em 2013 e 2014, deixando provavelmente cerca de 5,2 mil militares no fim de 2013", declarou.

Se houver uma única coisa que possamos fazer para prevenir eventos como esse, temos a profunda obrigação de tentar.” Barack Obama

Personalidade de 2012

A revista Time nomeou o presidente reeleito Barack Obama como a personalidade do ano 2012, distinção concedida a ele pela segunda vez, destacando seu papel de símbolo e força condutora na transformação vivida pelos Estados Unidos. A prestigiada revista americana afirma que o país passa por imensas mudanças culturais e demográficas e que Obama é o responsável por ter criado uma nova maioria que visa “uma união mais perfeita”. “Por encontrar e forjar uma nova maioria, por converter a fragilidade em uma oportunidade e por buscar, em meio a uma grande diversidade, criar uma união mais perfeita, Obama é a personalidade do ano 2012 da Time, afirmou o editor da publicação, Rick Stengel, em um comunicado. Stengel recordou que “Obama é o primeiro presidente democrata desde FDR (Franklin D. Roosevelt) que obtém mais 50% dos votos em eleições consecutivas e o primeiro presidente desde 1940 a ganhar uma reeleição com taxa de desemprego superior 7,5%”.