Correio braziliense, n. 20828 , 01/06/2020. Política, p.2
Ataques ao STF vêm a galope
Sarah Teófilo
Renato Souza
01/06/2020
BRASIL EXTREMO » Bolsonaro apoia novamente manifestação antidemocrática, sobrevoa ato contra o Supremo, acompanhado do ministro da Defesa, e monta em um cavalo diante dos apoiadores. Aras emite nota repudiando atos hostis à normalidade institucional
O presidente Jair Bolsonaro participou, mais uma vez, de manifestação antidemocrática contra o Supremo Tribunal Federal (STF) e o Congresso Nacional. De helicóptero e acompanhado do ministro da Defesa, Fernando Azevedo, o chefe do Executivo sobrevoou o protesto na Esplanada dos Ministérios, acenando para as pessoas. Depois, pousou no Palácio do Planalto, onde já estavam aglomeradas dezenas de apoiadores à sua espera, como tem acontecido nas últimas manifestações.
Bolsonaro aproximou-se das pessoas sem máscara, cujo uso é obrigatório no Distrito Federal desde 11 de maio. Depois de cumprimentar simpatizantes, tirar fotos e pegar no colo uma criança — como fez em outros atos a favor do governo durante a pandemia do novo coronavírus —, montou num cavalo da Polícia Militar. Ele percorreu novamente a extensão onde estavam os apoiadores, acenando para todos.
Nas faixas e cartazes com o grupo, liam-se “abaixo a ditadura do STF”, “fora parasitas do STF e do Congresso” e “fora, Maia”, numa menção ao presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ). Também havia faixa pedindo uma intervenção militar e o fechamento do Supremo e do Parlamento.
A maior parte das frases, no entanto, era contra a Corte, o grande inimigo da vez dos bolsonaristas. O aumento de críticas ao tribunal se dá pelo inquérito das fake news, que investiga ameaças e notícias falsas contra os ministros. Na última quarta-feira, a Polícia Federal cumpriu 29 mandados de busca e apreensão contra blogueiros, youtubers, políticos e empresários apoiadores do presidente.
Um dos que entraram na mira da operação, o blogueiro Allan dos Santos estava na manifestação de ontem, fazendo uma transmissão ao vivo para o seu canal. Outra participante foi Sara Giromini, conhecida como Sara Winter, que lidera um grupo autointitulado “300 do Brasil”. No dia em que ocorreu a ação da PF, da qual também foi alvo, ela chamou de “covarde” o ministro Alexandre de Moraes, do STF, que determinou a ação policial. A ativista ainda publicou um vídeo no qual dizia que gostaria de “trocar soco” com o magistrado e que descobriria tudo sobre a vida dele, incluindo os lugares que frequenta.
Também presente na manifestação estava o deputado estadual Douglas Garcia (PSL-SP), que ficou ao lado de Bolsonaro. Assessores do gabinete do parlamentar foram alvos de busca e apreensão da PF.
A ex-deputada federal Cristiane Brasil (PTB), filha do presidente nacional do partido, Roberto Jefferson, compareceu ao protesto. O político é o mais novo apoiador de Bolsonaro, que tem se aproximado, cada dia mais, de legendas do Centrão. Ele também foi alvo de mandado de busca e apreensão cumprido por agentes da corporação.
Cristiane Brasil usava uma camiseta replicando uma frase dita pelo pai: “A toga não é mais forte do que o fuzil”. “Em Brasília, para defender o direito de livre expressão, protestar contra o autoritarismo do STF, apoiar o governo Bolsonaro e defender a democracia”, escreveu numa rede social. Ela diz ser pré-candidata à prefeitura do Rio de Janeiro.
Repúdio
Em nota publicada na noite de ontem, o procurador-geral da República, Augusto Aras, disse repudiar atos que possam colocar em risco a normalidade institucional. A manifestação é assinada, também, pelo procurador Fabiano Dallazen, presidente do Conselho Nacional de Procuradores-Gerais do Ministério Público dos Estados e da União (CNPG).
No posicionamento, o MP pede respeito à Carta Magna do país. “A estabilidade da nação depende do respeito à Constituição Federal por todos, especialmente pelos Poderes constituídos. Nosso compromisso é com o Estado democrático de direito. Repudiamos atos que possam afetar o ambiente de normalidade institucional preservado desde a Lei Maior de 1988”, destacou um trecho do texto. “Por isso, rejeitamos a intolerância, especialmente as fake news que criam estados artificiais de animosidade entre as pessoas, causando comoção social em meio a uma calamidade pública, com riscos de trágicas consequências para a povo.”
A nota ressaltou que existem preocupações com a ordem democrática. “O Ministério Público brasileiro está preocupado com este estado de coisas e cumprirá com os seus deveres constitucionais na salvaguarda da ordem jurídica que sustenta as instituições do país”, completou.
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Ato no estilo da Ku Klux Klan
Sarah Teófilo
01/06/2020
Na noite de sábado, integrantes do 300 do Brasil protestaram em frente ao STF com tochas e máscaras. A imagem lembrou ações de grupos supremacistas raciais, como o Ku Klux Klan (KKK), organização racista originada nos Estados Unidos, responsável por uma série de atos violentos contra negros. Sara Winter comandou a manifestação. O grupo gritava “careca togado, Alexandre descarado”, “ministro, covarde, queremos liberdade”, “viemos cobrar, o STF não vai nos calar” e “inconstitucional, Alexandre imoral”.
O grupo 300 do Brasil está acampado na Esplanada dos Ministérios desde o início de maio. A líder, Sara Winter, já falou abertamente que no local ficam pessoas armadas. “Em nosso grupo, existem membros que são CACs (sigla para Colecionador, Atirador e Caçador), outros que possuem armas devidamente registradas nos órgãos competentes. Essas armas servem para a proteção dos próprios membros do acampamento e nada têm a ver com nossa militância”, afirmou, em entrevista à BBC. Em meados de maio, o Ministério Público do Distrito Federal e Territórios (MPDFT) pediu a desmobilização do grupo e a proibição da retomada do movimento. A Justiça, no entanto, negou a solicitação. Eles foram impedidos de armar barracas no local, mas dormem em sacos de dormir e em carros num estacionamento público no local.
Na internet, o grupo pede adesão de pessoas que queiram passar por um treino “com especialistas em revolução não-violenta e desobediência civil”, técnicas de “estratégia, inteligência e investigação” e instrução sobre “táticas de guerra de informação”.