Correio braziliense, n. 20828 , 01/06/2020. Cidades, p.14

 

Movimentação tímida no fim de semana

Thais Umbelino

01/06/2020

 

 

No primeiro fim de semana após o decreto que autorizou a reabertura de shoppings na capital federal, lojistas relatam consumo em baixa. Foram registrados diversos pontos de filas, mas as compras deixaram a desejar. Ontem, o Correio percorreu os principais centros comerciais da cidade e registrou pouco movimento. No ParkShopping e no Conjunto Nacional, comerciantes apontaram queda de fluxo e perceberam a diferença no consumo em comparação com a primeira semana de reabertura.

Vendedora de uma loja de maquiagens, Joyce Mendes, 23 anos, supõe que o movimento tímido esteja relacionado ao receio da população, que pode pressupor que os shoppings estariam lotados. “Eu acho que as pessoas imaginam assim: ‘não vou durante o fim de semana porque vai estar cheio’. Então, todo mundo vem durante a semana”, imagina.

Para ela, o movimento será maior nos próximos dias. “Acredito que quem não veio porque achou que esta semana seria muito cheia comece a vir nas próximas”, espera. O ritmo foi tranquilo na loja de sapatos onde Miliam Lima, 23, trabalha. A funcionária relatou que, durante a tarde de ontem, o movimento foi baixo e com poucos clientes. “Ficou parado, mas, durante a semana, foi cheio”, conta.

A mesma impressão é compartilhada por Rafael Oliveira, 24, comerciante de uma loja de maquiagem. “No dia em que abrimos, chegamos a vender uma quantidade alta de produtos. Acho que as pessoas estavam muito ansiosas por esse momento”, aponta. Até o fim da semana, porém, o lojista percebeu que a presença de clientes diminuiu. De acordo com Marcelo Martins, diretor regional da Multiplan, rede responsável pelo ParkShopping, o movimento correspondeu a cerca de 50% da circulação de um fim de semana anterior à pandemia.

“Além disso, pudemos constatar que o comportamento dos clientes mudou e, desde a reabertura, o tempo de permanência dentro do shopping tem sido menor. As pessoas vão ao centro de compras para resolver necessidades mais urgentes e, feito isso, vão embora”, explicou em nota. A diminuição do movimento no fim de semana não foi registrada em todos os estabelecimentos. De acordo com a assessoria de imprensa do Brasília Shopping, por lá, o fluxo se manteve constante: desde a abertura foram registradas cerca de 3 mil pessoas por dia no local, cerca de 10% do que era antes da pandemia.  

Compras

O retorno desse segmento do comércio era aguardado com expectativa pelos clientes. Satisfeitos, muitos relataram que o retorno é uma maneira de enfrentar a pandemia de forma mais positiva. Há três meses em casa, Elia Alves, 58, comemorou a volta das atividades. “É a primeira vez que estou vindo após a autorização de reabertura e estou gostando. Vim para matar a saudade, lanchar com a família e olhar as lojas. Espero voltar mais vezes”, planeja.

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Ibaneis: "Fiquem em casa"

Alexandre de Paula

01/06/2020

 

 

Apesar da liberação da maior parte das atividades comerciais na capital, o governador Ibaneis Rocha (MDB) fez um apelo à população, ontem, e pediu que as pessoas sigam as recomendações e respeitem o isolamento social. “Nosso apelo é ‘cuide-se’. Nós, da saúde e do governo, podemos lhe dar um ambiente hospitalar, mas não podemos lhe garantir a vida”, afirmou o emedebista, em vídeo. “Então, por favor, fiquem em casa, só saiam se for necessário”, acrescentou.

Ibaneis destacou a necessidade de que as pessoas usem máscaras e álcool em gel. “Nós temos que tomar um cuidado especial. Estamos tendo um aumento no número de casos e precisamos da sua colaboração.” O governador reforçou o pedido para que populações de regiões periféricas, como Ceilândia e Sol Nascente, onde houve aumento de casos, sigam as orientações.

O governador também falou sobre a reabertura do comércio. Na semana passada, parte das atividades econômicas foi retomada, com a abertura de lojas de rua e shoppings. Ele, no entanto, ressaltou que é preciso ter atenção para evitar a necessidade de voltar atrás nas decisões. “Vocês, comerciantes, que agora têm a oportunidade de retomar atividades, façam isso com responsabilidade. Não nos obriguem a tomar medidas mais duras”, alertou.

Riscos

Boletim da Universidade de Brasília (UnB), com análise dos pesquisadores da instituição sobre a covid-19 na última semana, mostra que os decretos de flexibilização do comércio estão ligados ao aumento de mortes na capital. “A relação é indireta. Quando se faz decretos que estimulam o aumento do contato e da relação entre as pessoas, aumenta-se a transmissão. Com isso, o número de casos cresce e, por fim, também o de óbitos”, explica o epidemiologista da UnB Jonas Brandt. Na avaliação do professor, a flexibilização do comércio foi precoce. “O DF está adotando ações de relaxamento sem ter conseguido controlar a epidemia.”