Valor econômico, v.21, n.5011, 29/05/2020. Brasil, p. A7

 

Mourão negocia volta de financiamento do Fundo Amazônia

Matheus Shuch

29/05/2020

 

 

O vice-presidente da República, Hamilton Mourão, reuniu-se ontem com os embaixadores da Alemanha e da Noruega no Brasil para tentar retomar o financiamento do Fundo Amazônia. O comitê do fundo passará a ser presidido por Mourão, que já coordena o Conselho da Amazônia.

O apoio financeiro foi suspenso após divergências sobre a composição do fundo gestor do programa, ataques do presidente Jair Bolsonaro aos dois países europeus e desentendimentos envolvendo o ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles. Segundo Mourão, no entanto, um decreto restabelecendo o comitê será editado em breve.

Diante da disparada nos índices de queimadas e desmatamento ilegal na região amazônica, Mourão apresentou um plano para contenção de ilegalidades e informou aos representantes diplomáticos que o governo vai recriar o Comitê Orientador do Fundo Amazônia, que define prioridades de investimentos e fiscaliza a aplicação dos recursos estrangeiros.

"Estou falando francamente com vocês, nós temos que mostrar que estamos fazendo a nossa parte, são os números. Estamos com esta operação lá para diminuir o desmatamento e a nossa grande visão é no segundo semestre derrubar a questão de queimada. A gente terá um trabalho para mostrar e, a partir daí, não tenho dúvida que volta o financiamento", afirmou Mourão à imprensa, após o encontro com os embaixadores George Witschel, da Alemanha, e Nils Martin Gunneng, da Noruega. O presidente do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), Gustavo Montezano, também estava presente.

Enquanto aguarda a análise dos governos alemão e norueguês sobre a retomada do financiamento, o vice-presidente acompanhará a aplicação de recursos do fundo que já foram repassados e ainda estão pendentes de aplicação.

Questionado sobre Bolsonaro ter desprezado a ajuda, Mourão contemporizou o posicionamento do presidente e disse que a ajuda estrangeira é necessária para ajudar no combate a ilegalidade na Amazônia. "Foi naquela briga ali, o negócio das queimadas, é no calor da discussão. Uma coisa tem que ficar clara, se nós vivêssemos em um país com tranquilidade fiscal, com recursos sobrando, eu não precisaria de recursos de ninguém de fora, mas nós não estamos nesta situação", resumiu.