Título: Protesto quilombola nas férias de Dilma
Autor:
Fonte: Correio Braziliense, 03/01/2013, Política, p. 3

Um grupo de manifestantes tentou interromper o descanso da presidente Dilma Rousseff na Base Naval de Aratu, na região metropolitana de Salvador. Moradores da comunidade quilombola de Rio dos Macacos, que fica em Simões Filho, a 500 metros da instalação militar, aproveitaram a estadia da presidente para denunciar atos de violência que estariam sofrendo.

“É um absurdo que a presidente, sabendo do que está acontecendo, de todo o massacre, passe o ano-novo perto e sequer marque uma reunião com a gente. Vem para a base naval mesmo sabendo o que estão fazendo com os quilombolas? Cada vez mais a Marinha aumenta a violência”, denunciou a representante dos moradores, Rose Meire dos Santos Silva. Manifestantes foram para as proximidades da base com cartazes e apitos.

Os quilombolas reclamam de atos de violência praticados pelos vizinhos da Marinha. Em 18 de dezembro, um militar teria atirado a esmo na comunidade, mas ninguém ficou ferido. Na noite de réveillon, homens armados foram vistos na localidade. Eles ainda denunciam que os moradores da comunidade tradicional são perseguidos por carros quando se deslocam para regiões próximas. Segundo Rose Meire, por causa dos constrangimentos, só restam hoje cerca de 90 das 160 famílias que moravam lá.

Despejo A Marinha do Brasil pleiteia a área do quilombo na Justiça para expandir a Base Naval de Aratu. Em agosto de 2012, a Justiça Federal determinou o despejo dos quilombolas, mas a Defensoria Pública recorreu da decisão. Um relatório do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra) reconheceu o território como pertencente à comunidade e definiu uma área de 301 hectares para a comunidade. A Marinha contesta e pleiteia que a área seja de apenas 23 hectares.

Dilma Rousseff continua sem aparecer publicamente. Desde que chegou à base, em 28 de dezembro, não foi vista nenhuma vez. Oficialmente, a presidente foi para Aratu sem data para retornar, mas a previsão é que ela esteja em Brasília por volta do dia 11. No Palácio do Planalto, houve quem dissesse que Dilma não aguentaria ficar tanto tempo longe. Assessores palacianos, entretanto, garantem que a presidente está aproveitando o descanso. (JB)