Título: O pior saldo em 10 anos
Autor: Hessel, Rosana
Fonte: Correio Braziliense, 03/01/2013, Economia, p. 9

Crise externa reduz os embarques de produtos brasileiros e o superavit da balança comercial cai 35% em 2012

Enquanto a economia do Brasil deve ter crescido menos de 1% em 2012, conforme as estimativas dos especialistas de mercado ouvidos pelo Banco Central, o comércio internacional brasileiro patinou e teve, no ano passado, desempenho muito inferior ao esperado pelo governo. O saldo comercial, de US$ 19,4 bilhões, ficou 34,8% abaixo dos US$ 29,8 bilhões registrados em 2011. Foi o pior resultado desde 2002, quando o superavit alcançou US$ 13,2 bilhões.

Fortemente afetadas pela crise internacional, especialmente na Zona do Euro, as exportações recuaram 5,3%, para US$ 242,6 bilhões, conforme dados divulgados ontem pelo Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (Mdic). Já as importações, afetadas pela fraqueza da economia brasileira, totalizaram US$ 223,1 bilhões, com queda de 1,4% em relação ao volume computado no ano anterior, quando a balança registrou recordes históricos.

“A queda nas exportações é resultado do cenário externo de crise. O ano passado foi claramente marcado por essa turbulência, que atingiu o Brasil de três maneiras. Primeiro, derrubou os preços das commodities. Segundo, enfraqueceu o maior importador de produtos brasileiros, a União Europeia. E, terceiro, o crescimento das barreiras protecionistas também prejudicou nossas vendas”, explicou a secretária de Comércio Exterior do Mdic, Tatiana Prazeres.

Segundo ela, se os preços do minério de ferro — um dos principais produtos da pauta de exportação do país — tivessem permanecido no mesmo patamar de 2011, o impacto na balança teria sido menor. “Mantidas as cotações de 2011, as exportações do produto teriam crescido US$ 10,3 bilhões e a queda das vendas externas teria sido de apenas 1,2%”, afirmou.

“Todos sabem que vivemos um momento de crise internacional e o Brasil não está sozinho. Há queda expressiva nas exportações de vários países, como Austrália, de 63,3% até outubro, e Chile, de 71,9% até novembro. São países com produtos cujos preços são definidos no mercado internacional, como o Brasil, e que são sensíveis a esse cenário de crise”, completou a secretária.

Mercados encolhem

As exportações brasileiras recuaram de forma generalizada em vários mercados. Entre os destinos mais importantes, a Argentina, principal parceiro do Mercosul, foi o país que registrou maior retração nas compras de produtos nacionais. O volume exportado para o vizinho em 2012, de US$ 17,9 bilhões, ficou 20,7% abaixo do registrado em 2011. Além da crise, que afeta duramente a economia platina, o comércio bilateral foi prejudicado pela série de medidas protecionistas adotadas nos últimos meses pelo governo da presidente Cristina Kirchner.

A segunda maior redução, em termos proporcionais, foi registrada nas vendas para a Europa Oriental. O volume somou US$ 4,3 bilhões, com queda de 16,4%. Os embarques para a União Europeia tiveram retração de 7,7%, caindo para US$ 48,8 bilhões. Com isso, o bloco, que historicamente lidera as importações de produtos brasileiros, reduziu sua participação de 20,7%, em 2011, para 20,1% do total, em 2012.

A China, pela primeira vez, se tornou o maior parceiro comercial do Brasil tanto na importação quanto na exportação. Entretanto, o país asiático também comprou menos em 2012. O recuo foi de 7%, para US$ 41,2 bilhões. Os Estados Unidos foram exceção. As vendas para o mercado norte-americano subiram 3,5%, alcançando US$ 26,8 bilhões. “Esperamos manter o ritmo de alta para os EUA, que compram, principalmente, produtos manufaturados”, disse Tatiana.

Líbano bloqueia carne brasileira

O ministro libanês de Agricultura, Hussein Hajj, anunciou ontem a suspensão das importações de carne bovina do Paraná, após o descobrimento de um caso “não clássico” do mal da vaca louca no estado, em dezembro de 2010. A notícia surpreendeu a secretária de Comércio Exterior do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (Mdic), Tatiana Prazeres. Segundo ela, até a manhã de ontem, Japão, China, África do Sul, Arábia Saudita, Chile e Jordânia haviam adotado barreiras contra a carne brasileira. A secretária destacou que não existe razão para o bloqueio, já que a Organização Mundial de Saúde Animal (OIE) mantém o Brasil na categoria de país com risco insignificante de Encefalopatia Espongiforme Bovina (EEB) — nome oficial do mal da vaca louca. “Estamos cautelosos para abrir uma disputa de um contencioso nos organismos internacionais. Mas essa alternativa não está sendo descartada”, afirmou.