O globo, n. 31684, 06/05/2020. Economia, p. 20

 

Weintraub defende a senadores manutenção do Enem em novembro

Amanda Almeida

06/05/2020

 

 

Em aparição-surpresa durante sessão de líderes da Casa, ministro diz que adiamento frustraria ‘milhões de alunos’ 

MARCELO CAMARGO/AGÊNCIA BRASIL“Irredutível.” Segundo senadores presentes à reunião, Weintraub afirmou que Enem não existe para fazer justiça social

 Criticado por senadores pela decisão de manter o Enem em novembro, mesmo com a paralisação escolar por conta da pandemia do novo coronavírus, o ministro da Educação, Abraham Weintraub, participou de surpresa, ontem, de uma reunião de líderes da Casa para defender sua posição. A parlamentares, disse que o eventual adiamento do Exame Nacional do Ensino Médio frustraria a expectativa de “milhões de alunos”.

Apesar de apelos de parlamentares, o Ministério da Educação tem mantido o cronograma do Enem. As inscrições para o exame devem ocorrer entre 11 e 22 de maio.

Segundo senadores, o ministro argumentou que o país só estará vivendo situação de isolamento social em novembro caso que haja “uma hecatombe”.

No Congresso, há projetos que preveem o adiamento das provas, como dos senadores Humberto Costa (PTPE) e Daniella Ribeiro (PPPB). Parlamentares têm pressionado o presidente da Casa, Davi Alcolumbre (DEM-AP), a pautá-los, diante da resistência de Weintraub em adiar as provas.

Entre os argumentos, parlamentares alegam que, independentemente de a situação da pandemia estar controlada no país em novembro, a realização das provas naquele mês será injusto com alunos da rede pública, já que, diferentemente das escolas privadas, eles não têm tido aula neste período de isolamento social.

Sem avisar aos líderes antes da reunião, feita por videoconferência, Alcolumbre cedeu seu lugar a Weintraub por cerca de meia hora. O ministro insistiu que o exame deve ocorrer em novembro, prevendo que, até lá, o país volte à normalidade.

Ele foi contestado por senadores, como Eliziane Gama (Cidadania-MA), que argumentou que será um exame marcado pela desigualdade. O ministro propôs, então, que o cenário seja reavaliado em agosto.

— Temos um universo de alunos que estudam em escola pública e não têm acesso à internet. O nível de aprendizado deles está aquém dos que estão tendo oportunidade de estudar — afirmou Eliziane Gama.

Com a insistência do ministro em manter o calendário das provas, senadores continuaram defendendo que o Congresso as adie.

— O ministro está irredutível, não aceita adiar e disse que o Enem não existe para fazer justiça social. Um absurdo. Milhares de estudantes estão prejudicados porque não têm em casa a mesma estrutura que uma escola pode oferecer para estimular o aprendizado e não poderão participar do Enem em condições de igualdade — disse Weverton Rocha (MA), líder do PDT.