O globo, n. 31677, 29/04/2020. Segundo Caderno, p. 6

 

Bolsonaro critica ausência de Regina Duarte 

Jan Niklas

Matheus Schuch

29/04/2020

 

 

Para presidente, secretária especial da Cultura, que está de quarentena em São Paulo, ‘tem dificuldade’ de controlar a pasta, onde haveria ‘muita gente de esquerda pregando ideologia de gênero’. Atriz nomeou Pedro Horta como seu adjunto

 O presidente Jair Bolsonaro reclamou da ausência da secretária especial de Cultura, Regina Duarte, em Brasília. Em entrevista na porta do Palácio da Alvorada, ontem, afirmou que não está prevista nenhuma troca no governo agora, mas não descarta alterações no futuro.

— Infelizmente a Regina está em São Paulo, trabalhando pela internet. Eu quero é que ela esteja mais próxima. Ela é uma excelente pessoa, um bom quadro.

Para Bolsonaro, a secretária tem dificuldades em lidar com questões da pasta.

—[A secretaria tem] muita gente de esquerda pregando ideologia de gênero, essas coisas todas que a sociedade, a massa da população não admite. E ela tem dificuldade nesse sentido.

Questionado novamente se a atriz poderá deixar o governo, o presidente afirmou:

— Queria que ela estivesse em Brasília para conversar mais com ela. Só isso. Mais nada. Sou também apaixonado pela namoradinha do Brasil.

Mas, assim como em outras ocasiões em que titulares do governo estavam ameaçados no cargo, o presidente ressaltou que pode mudar integrantes da equipe.

— Só não pode mudar o presidente nem o vice, né? O resto... Não está previsto eu separar da Michelle. Mas essas coisas acontecem. Ela pode me deixar, né?

A assessoria de Regina afirmou, às 20h50, que ela não tinha nada a declarar, e seguia trabalhando normalmente em São Paulo.

As declarações aconteceram no mesmo dia em que Regina definiu o número dois da pasta. O advogado Pedro Horta, que em março havia sido nomeado como chefe de gabinete da atriz, assumiu o cargo de secretário adjunto. A portaria foi publicada ontem no Diário Oficial.

Inicialmente o mais cotado para o posto era o produtor Humberto Braga, articulador de seu plano de ação durante o “noivado”. Mas ele vem sendo alvo de uma campanha da militância bolsonarista nas redes sociais, que o acusa de ser “esquerdista”.

Professor de Direito Constitucional, Horta foi candidato a deputado federal em São Paulo pelo PTC em 2010, mas não foi eleito.