O globo, n. 31674, 26/04/2020. País, p. 4

 

Sucessão adiada

Naira Trindade

Vinícius Sassine

26/04/2020

 

 

MARCOS CORREA/PR/21-06-2019Auxiliar. Jair Bolsonaro em pronunciamento ao lado de Jorge Oliveira, titular da Secretaria Geral da Presidência: nome favorito do presidente para o Ministério da Justiça após a saída de Sergio Moro

Pressionado pelas acusações de Sergio Moro de que tentava interferir em investigações da Polícia Federal (PF), o presidente Jair Bolsonaro decidiu adiara escolha do novo ministro da Justiça e deve ouvir juristas para o cargo. Até sexta-feira, Bolsonaro estava decidido a deslocar o ministro Jorge Oliveira, da Secretaria Geral da Presidência, para a pasta. Porém, o próprio Jorge tem relatado desconforto em assumira pasta depois das acusações de Moro.

Um dos principais conselheiros do presidente, Jorge tem argumentado que a melhor alternativa para o governo seria uma “indicação técnica” para a Justiça. Jorge participou de uma reunião com o presidente na manhã de ontem no Palácio da Alvorada, na presença do ministro do Gabinete de Segurança Institucional, Augusto Heleno, dos secretários de Comunicação, Fábio Wajngarten, e de Assuntos Fundiários do Ministério da Agricultura, Nabhan Garcia, além do deputado Hélio Lopes (PSL-RJ) e do senador Flávio Bolsonaro (Republicanos-RJ). Contam a favor da escolha de Oliveira para a Justiça a experiência na área jurídica e também de segurança pública. Além do comando da Secretaria-Geral, Oliveira acumula a subchefia para Assuntos Jurídicos (SAJ) e também é major da reservada Polícia Militar do Distrito Federal. Segundo aliados, ele avisou a Bolso na rote merque sua nomeação seja interpretada como uma possibilidade de o presidente “influenciar na PF” e também teme pela proximidade com os filhos do presidente.

A ala militar do Palácio do Planalto defende que Bolsonaro indique um sucessor renomado ou de alguém que tenha o mesmo “tamanho” do ex-juiz. Ministros argumentam não haver dúvida da competência de Oliveira, porém, apostam que a indicação de alguém de fora do governo para tirar o ar de suspeição. Se as mudanças tivessem sido anunciadas na sexta-feira, como ministros defenderam, o cenário teria sido Jorge Oliveira na Justiça. Para seu lugar na SAJ, estavam cotados dois nomes: Almirante Flávio Rocha e secretário Antonio Carlos Paiva Futuro. Nesse desenho, a pasta da Justiça poderia ser desmembrada e Anderson Torres assumiria a Segurança Pública. Chefe da Agência Brasileira de Inteligência (Abin), Alexandre Ramagem já estaria na direção-geral da Polícia Federal.

Mas já que Bolsonaro deve ouvir mais nomes, entre as opções está Ivan Satori, considerado de perfil bolsonarista, que se aposentou em 2019. Ele presidiu o Tribunal de Justiça de São Paulo e foi relator do processo dos policiais militares envolvidos no massacre do Carandiru, que resultou na morte de 111 detentos em 1992. Sarto ri votou pela absolvição dos policiais envolvidos soba alegação de que os policiais agiram em legítima defesa. Outro nome que também tem sido defendido pelos ministros aliados de Bolso naroéo do desembargador Carlos Eduardo Thompson Flores, ex-presidente do Tribunal Regional Federal da 4ª Região (TRF-4). Segundo a colunista Bela Megale, Thompson é visto como “uma boa solução”, já que também atuou na Lava-Jato. Foi ele quem manteve o expresidente Luiz Inácio Lula da Silva preso numa batalha de despachos entre desembargadores do TRF -4 a favor e contra a soltura de Lula. Na ocasião,ele atendeu a um pedi dodo próprio Moro, então juiz da Lava-Jato em Curitiba. Outro c ota doéo desembargador NagibSlaibiF ilho, do Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro

BRIGA NO TWITTER

O presidente Jair Bolsonaro e o ex-ministro Sérgio Moro trocaram recados ontem no Twitter. O presidente postou uma mensagem para dizer que manteve o apoio ao então ministro, em meio à crise provocada pela revelação da troca de mensagens entre Moro e procuradores da República da força-tarefa da Lava-Jato em Curitiba. Na sexta-feira, após deixar o governo, Moro enviou ao Jornal Nacional, da TV Globo, trocas de mensagens como presidente e coma deputada. Nelas, Bolsonaro cita uma investigação contra seus deputados bolsonaristas aliados e diz ser motivo para troca de Maurício Valeixo no comando da PF. A mensagem do presidente foi postada às 9h30m. Duas horas antes, Moro também mandou um recado a Bolsonaro, via Twitter.

“‘Faça a coisa certa, pelos motivos certos e do jeito certo’ foi o lema de campanha de integridade que fizemos logo no início no MJSP”, postou. Moro rebateu a provocação do presidente, numa nova mensagem em sua conta no Twitter. “Sobre reclamação na rede social do sr. presidente quanto à suposta ingratidão: também apoiei o PR quando ele foi injustamente atacado. Mas preservara PF de interferência políticaéumaqu estão institucional, de Estado de Direito, e não de relacionamento pessoal”, escreveu o ex-juiz e agora ex-ministro.

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Cotado para direção da PF foi Chefe da segurança de Bolsonaro

Aguirre Talento

Naira Trindade

26/04/2020

 

 

Delegado Alexandre Ramagem ocupa hoje o cargo de diretor-geral da Abin 

Nome que deve ser indicado pelop residente JairBol sonar opara o comando da Polícia Federal( PF) em meio à crise deflagrada pela demissão do ministro Ser gio Moro, o delegado da PF e atual diretor-geral da Agência Brasileira de Inteligência( Ab in) Alexandre Ramagem Rodrigues atuou na Lava-Jato do Rio de Janeiro, tem experiência em investigações contra o tráfico de drogas e coordenou a segurança de grandes eventos internacionais. Mas foi por ter coordenado a segurança da campanha eleitoral do então candidato Bolsonaro à Presidência, em 2018, que Ramagem acabou desenvolvendo uma relação de confiança como presidente e também com seus filhos.

Após a posse de Bolsonaro, Ramagem foi requisitado para atuar no Palácio do Planalto como assessor especial da Secretaria de Governo, comandada pelo general Carlos Alberto dos Santos Cruz. Pouco depois, em junho, foi indicado pelo presidente para a direção geral da Abin. Suzano meação foi aprovada pelo plenário do Senado por 64 votos a 3. Após acrise com Valeixo, integrantes do Planalto dão como certa a indicação de Ramagem ao comando da PF.

Essa nomeação só não foi oficializada a indano Diário Oficial porque Bolsonaro deseja fazê-lo em conjunto com o cargo do novo ministro da Justiça, que ainda não foi escolhido. Além da boa relação com Bolsonaro e seus filhos, Ramagem também tema confiança da ala militar do palácio, com quem mantém boa relação durante sua gestão na Abin. Delegado da PF desde 2005, Ramagem faz parte de uma geração mais jovem do que os últimos diretores gerais. Por isso, a avaliação interna é que sua nomeação marcará a ascensão de uma nova geração aos postos chave. Como costuma ocorrer co matroca de comando, há uma expectativa demudanças na direção em Brasília enos cargos de superintendente nos estados. Ao entrar na Polícia Federal, Ramagem trabalhou em Roraima e atuou no combate ao tráfico de drogas e outros ilícitos. A partir de 2011, chefiou unidades de combate a grupos de extermínio e também ao tráfico e outras facções criminosas.

Foi em 2017 que Ramagem ingressou na equipe da PF da Lava-Jato do Rio e atuou nas investigações que miraram deputados estaduais suspeitos de corrupção. Ramagem é elogiado por colegas da PF e citado como um delegado competente. A corporação, porém, vê a indicação com desconfiança por causa das acusações feitas por Moro de que Bolsonaro queria alguém na PF que lhe fornecesse informações de inteligência e pudesse interferir em investigações. — Acredito que Ramagem deve fazer uma excelente gestão, mas é uma pena que ele esteja entrando nomeio dessa confusão. É muito ruim— comentou um delegado. Para integrantes da PF, esse clima dificultará a montagem da equipe de Ramagem e o desenvolvimento dos trabalhos.