Título: Em meio à crise, vice renuncia
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Fonte: Correio Braziliense, 23/12/2012, Mundo, p. 24

Mahmoud Mekki entrega o cargo e agrava situação política durante referendo sobre a Constituição. Organizações civis denunciam irregularidades na votaçãoVinícius Pedreira Especial para o Correio

O vice-presidente egípcio, Mahmoud Mekki, anunciou, ontem, sua renúncia, em meio à segunda rodada de votação sobre a Constituição, numa polêmica que divide o país nos últimos meses. "Eu percebi que a natureza do trabalho político não se encaixa na minha formação profissional de juiz", afirmou Mekki, em comunicado enviado à Presidência. Segundo a agência estatal Mena, ele já havia pedido para sair do cargo em 7 de novembro. No entanto, a decisão foi adiada devido à participação do país nas negociações de um cessar-fogo entre Israel e o Hammas na Faixa de Gaza, e a crise em torno do decreto que aumentou os poderes do presidente Mohamed Morsy.

Mekki foi o primeiro vice-presidente civil desde a revolução de 1952, que derrubou o rei Farouk e pôs fim ao domínio britânico. Era conhecido como um juiz reformista pela luta em prol de mudanças judiciais democráticas no regime de Hosni Mubarak.

O desligamento do vice-presidente expõe, mais uma vez, as divisões na sociedade egípcia que parecem ter se agravado nos últimos dias. A nova Constituição é considerada pelos oposicionistas uma abertura para a islamização do país, além de conter lacunas em relação à proteção às liberdades. Para o governo, a nova Carta é uma maneira de colaborar para a transição do governo ditatorial de Mubarak em direção à democracia.

De acordo com o diretor do Centro de Estudos do Oriente Médio da Universidade de Denver, Nader Hashemi, é importante manter, na atual conjuntura, o processo político em curso. "O pior cenário para o Egito é levar mais violência para as ruas e a possibilidade de um golpe", opina ao Correio. O especialista ressalta que a Irmandade Muçulmana e seus aliados têm apoio para aprovarem a Constituição. Por isso, segundo ele, a oposição deve organizar-se melhor e mobilizar-se para as próximas eleições parlamentares em fevereiro. "Assim, eles podem conquistar assentos no parlamento para reverter e alterar os aspectos que discordam do texto", finaliza.

O Clube dos Juízes indicou 52 reclamações de irregularidade nas aberturas dos portões para o referendo, às 7h locais (11h de Brasília). O Conselho Nacional das Mulheres informou ter recebido 75 queixas sobre violações. As mais importantes incluem juízes que tentavam influenciar decisões dos eleitores. Organizações de defesa dos Direitos Humanos denunciaram que cristãos coptas foram impedidos de votar na provínica de Minya, informação que foi negada pelo governador local, Moustafa Kamel Eissa, segundo o site Abraham Online. Membros das Forças Armadas afirmaram ter prendido oito pessoas que tentaram escalar o muro para votar em uma seção eleitoral, em Abu Al-Matamir, na província de Beheira.

A área econômica do governo também teria sofrido uma baixa ontem. Informações divulgadas no fim da tarde davam conta da saída do presidente do Banco Central, Farouq El-Oqda, o que foi negado horas depois pelo governo.