Correio braziliense, n. 20829 , 02/06/2020. Política, p.3

 

Moro é chamado de covarde e devolve

Ingrid Soares

Augusto Fernandes

02/06/2020

 

 

Jair Bolsonaro e Sergio Moro travaram mais um embate, ontem, por divergirem sobre a liberação de armas para a população. De um lado, o presidente acusou o ex-juiz de dificultar a posse e o porte e o chamou de “covarde”, além de ter dito que sempre esteve alinhado com a esquerda. Do outro, o ex-ministro da Justiça disse que não se pode construir políticas públicas “adiantando ofensas ou bravatas”, e que as críticas de Bolsonaro são de alguém que “não tem razão ou argumentos”.

Tudo começou quando Bolsonaro respondeu a um apoiador, na entrada do Palácio da Alvorada, que o agradeceu por derrubar a Instrução Normativa 131, que estabelecia procedimentos relativos a registro, posse, porte e comercialização de armas de fogo e munição. Apesar de ter sido publicado em novembro de 2018, antes de Moro ter assumido o ministério, o presidente reclamou que Moro “ignorou decretos meus, ignorou a lei para dificultar a posse de arma de fogo para as pessoas de bem”.

 O presidente acrescentou que Moro era a favor de criar uma portaria que fixava multas para a população que estivesse nas ruas desobedecendo medidas de isolamento social impostas como forma de prevenção ao novo coronavírus e se disse aliviado por não tê-lo mais no governo. “Assim como essa IN, tem uma portaria também que o ministro novo (André Mendonça) revogou que, apesar de ter força de lei, ela orientava a prisão de civis. Por isso que naquela reunião secreta o Moro ficou calado de forma covarde. Graças a Deus ficamos livres dele”, alfinetou.

 Logo depois, Moro rebateu Bolsonaro pelas redes sociais. Com a legenda “algumas verdades necessárias”, o ex-ministro afirmou que Bolsonaro desejava uma “rebelião armada” contra as medidas sanitárias impostas por governadores e prefeitos devido à pandemia.

 “Acredito em construir políticas públicas mediante diálogo e cooperação, como deve ser, de nada adiantando ofensas ou bravatas”, reagiu.

Moro destacou que políticas de flexibilização de posse e porte de armas podem ser discutidas, “mas não se pode pretender, como desejava o presidente, que sejam utilizadas para promover espécie de rebelião armada contra medidas sanitárias impostas por governadores e prefeitos, nem sendo igualmente recomendável que mecanismos de controle e rastreamento do uso dessas armas e munições sejam simplesmente revogados”, rebateu. E acrescentou: “Sobre a ofensa pessoal feita, meu entendimento segue de que quem utiliza desse recurso é porque não tem razão ou argumentos”.