Correio braziliense, n. 20830 , 03/06/2020. Brasil, p.6

 

País bate recorde e chega a 31 mil mortes

Bruna Lima

Maria Eduarda Cardim

03/06/2020

 

 

Só quatro países superaram a marca de óbitos: Estados Unidos, Reino Unido, Itália e agora o Brasil. Em meio à alta de fatalidades, com 1.262 em 24 horas, estados como São Paulo, Rio, Ceará e Amazonas começam a flexibilizar a quarentena

Mais de 30 mil mortos e 555 mil de infectados. Com o interino Eduardo Pazuello chefiando o Ministério da Saúde há duas semanas, desde a saída de Nelson Teich, o Brasil voltou a bater o recorde de mortes diárias, com 1.262 registros em 24 horas, totalizando 31.199 vidas perdidas pelo novo coronavírus desde o início da pandemia. Só quatro países superaram a marca das 30 mil mortes: Estados Unidos, Reino Unido, Itália e agora o Brasil. Outros 28.936 casos de covid-19 foram confirmados de segunda para terça e o país chega a 555.383 infectados. O mal invisível é a realidade inquestionável em quase 3/4 dos municípios brasileiros e avança ainda mais rápido para o interior do país.

Em um estudo comparativo, a Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) constatou a crescente aceleração das taxas de incidência da covid-19. O cenário mais grave foi registrado em estados do Norte e Nordeste. “Os estados onde as taxas mais aumentaram são os mais pobres. Com a interiorização da covid-19 que está acontecendo, essa situação tende a ser observada com mais intensidade”, alertou Wayner Vieira, elaborador da pesquisa.

Até 19 de abril, dos dez estados com a maior taxa de casos por milhão de habitantes, destacavam-se três da região Sudeste (SP, RJ e ES), quatro do Norte (AM, AP, RR e AC), dois do Nordeste (CE e PE) e o Distrito Federal, no Centro-Oeste. A lista incluía os locais com maior Produto Interno Bruto (PIB) entre as unidades da federação (SP, RJ e DF). Um mês depois, contudo, no período até 19 de maio, dos dez estados com maior taxa, nove pertencem às regiões Norte (AM, AP, RR, PA e AC) e Nordeste (CE, PE, MA e SE); e o único do Sudeste passa a ser o Espírito Santo.

Para Vieira, a mudança indica uma possível influência das desigualdades sociais e do vazio assistencial em áreas mais vulneráveis do país. “Esse crescimento acelerado no Norte-Nordeste não pode ser explicado tão somente por questões de momento, existe uma lacuna de desenvolvimento nesses estados, refletida, por exemplo, pelo IDH (Índice de desenvolvimento Humano)”, explicou.

Ontem, em coletiva de imprensa, o secretário executivo substituto do Ministério da Saúde, Élcio Franco, afirmou que a pasta entende que a pandemia está se desenvolvendo no país. “Conseguimos identificar claramente que está havendo uma incidência maior na região Norte e Nordeste e que essa incidência tende a vir para o Centro-Sul”, atestou.

Em dois meses, o número de cidades atingidas pela doença cresceu quase 14 vezes, passando de 299, no fim de março, para 4.131 municípios do país, o que representa 74% do total. Atualmente, há confirmação de óbito pelo novo coronavírus em 1.753 (42%), conforme levantamento da plataforma colaborativa Brasil.io.

No fim de abril, a taxa de infecção em municípios do interior estava em 16,7 a cada 100 mil habitantes. Um mês depois, o número cresceu 727%, com registro de 138,3 casos por 100 mil habitantes. Esse percentual é quase o dobro do registrado no mesmo período quando comparado com as taxas de capitais e regiões metropolitanas. A alta nos grandes centros foi de 371%, subindo de 68,4 para 323,1.

Retomada

São Paulo já tem registro da doença em 533 dos 645 municípios, com 7.994 mortes. Ontem, o estado bateu recorde de confirmação diária, com 327 óbitos e 6.999 novas confirmações da covid-19, chegando a 118.296 casos. A atualização ocorre no primeiro dia após a implementação do plano de flexibilização das medidas de distanciamento social. “O objetivo (do plano de SP) é demonstrar qual a deficiência daquela região e, portanto, o trabalho necessário para que a população tenha a segurança de um processo de retomada consciente”, afirmou o secretário de desenvolvimento regional de São Paulo, Marco Vinholi, em coletiva de imprensa.

Mais estados flexibilizaram a quarentena no início desta semana. Pernambuco, uma das primeiras unidades federativas a decretarem lockdown no país, encerrou as medidas mais rígidas, mas o isolamento social ainda é recomendado. A liberação será gradual, ao longo de 11 semanas.  Shoppings puderam reabrir as lojas no Espírito Santo e no Pará, seguindo, no entanto, uma série de restrições como verificação de temperatura, obrigação de uso de máscaras e quantidade reduzida de público. Já no Maranhão, clínicas médicas e odontológicas e os setores hoteleiro e de transporte público retomaram as atividades.

No Amazonas, as igrejas e templos puderam ser reabertos. No Ceará, 17 setores da economia voltaram a funcionar, entre eles a construção civil e o comércio. Segundo o governador Camilo Santana, o estado passa por uma fase de transição e o isolamento social será mantido. No Rio de Janeiro, o governador do Rio de Janeiro, Wilson Witzel, prorrogou, até sexta-feira, as medidas de prevenção e enfrentamento à propagação do novo coronavírus. O estado tem 5.686 mortes e 56.732 casos.

Superando a barreira de duas mil mortes juntamente com RJ e SP, estão Ceará (3.421), Pará (3.040), Pernambuco (2.933) e Amazonas (2.102). Juntos, os seis estados somam 25.176 óbitos, ou seja, 80,6% de todas as mortes já confirmadas.