Título: Tucanos amazônicos
Autor: Caitano, Adriana
Fonte: Correio Braziliense, 02/01/2013, Política, p. 4

A estratégia tucana para levar o senador Aécio Neves (PS­DB) ao Palácio do Planalto, em 2014, conta agora com dois bunkers cravados em terras amazônicas. Ontem, o partido tomou as rédeas das capitais dos dois maiores estados do Norte brasileiro: Arthur Virgílio Neto vai comandar Manaus, enquanto Zenaldo Coutinho assu­me a prefeitura de Belém.

Arthur Virgílio volta à prefeitu­ra manauara exatos 20 anos depois de deixá-la e após ficar dois anos sem qualquer mandato eletivo. Em 2010, o tucano, que já foi considerado um dos maiores no­mes da oposição durante o go­verno de Luiz Inácio Lula da Sil­va, quando era deputado federal, perdeu a eleição para o Senado. Com fôlego recuperado, conquistou em segundo turno — a capital do Amazonas com 65% dos votos, derrotando a senadora Va- nessa Graziotin (PCdoB), justa­mente quem o havia derrotado na disputa pela vaga de senador.

Mesmo distante mais de 3 mil quilômetros de Brasília e sem participação ativa nas negociações políticas do Congresso Na­cional, Arthur Virgílio mantém certa influência no PSDB graças à estreita relação com o ex-presi­dente Fernando Henrique Car­doso, de cujo governo foi líder e ministro da Secretaria-Geral da Presidência. O próprio Aécio Ne­ves, quando subiu ao palanque de Manaus durante a campanha do ano passado, reconheceu a importância do prefeito recém empossado para o cenário nacional.

"Arthur é uma das principais fi­guras políticas do país, um homem de posições absolutamente claras e firmes", comentou.

Em contrapartida, Virgílio Neto deve ajudar Aécio a ganhar a simpatia dos nortistas. Ele já assume reproduzindo algumas das medidas adotadas pelo se­nador mineiro quando gover­nou seu estado, como a redução dos custos da máquina pública. Um dos anúncios do prefeito para os primeiros dias de traba­lho foi uma ampla reforma ad­ministrativa para diminuir o nú­mero de secretários e de cargos comissionados. "Vamos ser ava­ros porque se trata de dinheiro público", disse o prefeito no dis­curso de posse.

Segundo o tucano, a econo­mia austera vai aumentar em mais de R$ 200 milhões a capaci­dade de investimento da prefei­tura. Ao contratar a própria mu­lher para chefiar a pasta de Assistência Social e Direitos Huma­nos, ele garantiu que Goreth Gar­cia do Carmo Ribeiro não será paga pelo serviço. Também no discurso de posse, além de criti­car a redução do IPI para automóveis feita pela presidente Dilma Rousseff, o prefeito ordenou o início da limpeza que ainda es­ta semana fará nas ruas da cida­de, que se prepara para sediar alguns jogos da Copa do Mundo de 2014. "Vamos sinalizar um gover­no que vive para organizar a cidade de Manaus, que precisa de alguém que a governe sem pensar na próxima eleição. A priori­dade é sempre fazer as conces­sões de governabilidade dentro de um padrão ético", comentou.