Título: Na trincheira da oposição
Autor: Almeida, Amanda
Fonte: Correio Braziliense, 02/01/2013, Política, p. 5

ACM Neto leva o carlismo de volta ao poder em Salvador e promete ser implacável com a corrupção. Na cerimônia de posse, o novo prefeito diz que a cidade está %u201Cum verdadeiro caos%u201D e que vai priorizar o saneamento das contas públicasAmanda Almeida

Uma nova chance ao carlismo. É assim que está sendo avaliada a chegada de Antônio Carlos Magalhães Neto (DEM) à prefeitura de Salvador seis anos após o grupo do avô ser desalojado da sede do governo do estado, o Palácio de Ondina, pelo petista Jaques Wagner. Após uma campanha eleitoral tensa, o novo prefeito assumiu ontem com discurso conciliador, prometendo manter uma relação cordial com os governos estadual e federal, comandados pelo PT. "A eleição acabou. É hora de descer do palanque. Não vou governar fazendo política partidária, pensando nas próximas eleições. Quero ter uma relação cordial com o governo estadual e o governo federal, buscando novas parcerias onde a gente tiver de buscar e também exigindo aquilo que Salvador merece e tem direito", disse ACM, ao assumir o cargo.

Terceira cidade no país em número de eleitores, a capital baiana é, agora, uma das principais trincheiras da oposição à Dilma Rousseff, depois da derrota tucana em São Paulo e do encolhimento do número de prefeitos ligados aos partidos oposicionistas. São 313 a menos do que em 2008.

ACM Neto foi eleito em uma das disputas mais duras entre oposição e base. Ele ganhou no segundo turno com 53,5% dos votos, contra 46,5% do petista Nelson Pelegrino. Conhecido como um dos algozes do PT na CPI dos Correios, responsável por investigar o mensalão entre 2005 e 2006, o ex-deputado federal recebeu uma série de alfinetadas de Dilma, que subiu no palanque de Pelegrino. A vitória de ACM Neto representa também um suspiro para o DEM, que, eleição após eleição, vem perdendo espaço nos municípios do país.

A cerimônia de posse, na Câmara Municipal de Salvador, foi também a amarga despedida do ex-prefeito João Henrique (PP). Ele deixou o cargo com as contas de 2009 rejeitadas recentemente pelo Legislativo da capital e pode ficar inelegível por oito anos caso não consiga reverter a decisão. Para piorar, sai do cargo com um dos mais altos índices de rejeição nas capitais. Em pesquisa Datafolha, divulgada em outubro, o percentual era de 75%, menor apenas que o da prefeita cassada de Natal, Micarla de Sousa (PV), rejeitada por 92% do eleitorado.

Na esteira da má avaliação do ex-prefeito, ACM destacou, em vários momentos de seu discurso de posse, a crise vivida pela cidade, mas que a atual situação traz a "oportunidade de virar o jogo". "Sem dúvida, a nossa primeira grande tarefa vai ser colocar ordem na casa, cuidando dos problemas imediatos. Problemas que vamos enfrentar um por um a partir de agora. Muitas vezes, são problemas simples, mas que, somados, estão transformando a nossa cidade num verdadeiro caos", definiu, acrescentando que pretende entregar o governo com menos "injustiça social".

Não à corrupção Ao público que o assistiu discursar em palanque montado na praça, ACM Neto disse que o "fisiologismo" está proibido na prefeitura. "Essa história nefasta do toma lá, dá cá não pode e não vai ser aceita neste governo." Ele defendeu a implantação de um modelo de gestão por resultados, discurso comum entre os opositores do governo petista. Em Minas Gerais, o senador Aécio Neves (PSDB) construiu sua principal arma de marketing eleitoral no chamado "choque de gestão", priorizando o equilíbrio das contas públicas do estado.

Para o secretariado, ACM Neto escolheu nomes técnicos, mas acatou indicações políticas. Os presidentes municipais do DEM, do PV e do PTN ganharam pastas de destaque. Segundo ACM Neto, um dos objetivos do novo secretário é "aumentar a arrecadação e reduzir as despesas".

Entre as promessas de campanha destacadas no discurso de posse, ACM Neto citou a criação das "prefeituras de bairro", para aproximar a administração dos problemas das comunidades soteropolitanas. O novo prefeito prometeu, ainda, barrar a corrupção. "Não vou tolerar, em hipótese alguma, a corrupção. Pré-requisito número um para fazer parte dessa administração é ser ficha limpa. Quem fizer diferente disso será exonerado, investigado e responderá na Justiça pelos seus atos."