Correio braziliense, n. 20832 , 05/06/2020. Política, p.2

 

Alerta na segurança

Augusto Fernandes

Ingrid Soares

Renato Souza

05/06/2020

 

 

BRASIL EXTREMO » Planalto avalia uso da Força Nacional, a fim de conter excessos, no ato marcado para a Esplanada, no domingo. Movimentos contra o governo estão previstos para todo o país. Presidente chama manifestantes de "viciados", que "não servem para nada"

O presidente Jair Bolsonaro quer jogar pesado contra os manifestantes que prometem sair às ruas de Brasília no próximo domingo para um ato contra o governo. Ele vai pedir ao Distrito Federal a permissão para usar a Força Nacional no protesto, previsto para ocorrer na Esplanada dos Ministérios. Ontem, o chefe do Executivo foi ao gabinete do secretário de Segurança Pública do DF, Anderson Torres, para externar a preocupação com o movimento, e a pasta do governador Ibaneis Rocha (MDB) vai bater o martelo após reuniões hoje.

O GDF já avalia um esquema de segurança para as manifestações deste fim de semana. Dois encontros, hoje, definirão a estratégia. “Isso ainda está sendo alinhado aqui. Haverá duas reuniões amanhã (hoje). Aí, sim, deve ser fechado um plano para o fim de semana”, afirmou ao Correio uma fonte da secretaria.

No Planalto, uma fonte comentou que relatórios produzidos pelo Gabinete de Segurança Institucional (GSI) apontam que as manifestações de domingo podem resultar em depredações semelhantes às que ocorreram no governo Michel Temer, quando houve protesto contra a reforma da Previdência. Dessa forma, o Ministério da Justiça e Segurança Pública já está de sobreaviso, e vai deixar as tropas de prontidão para deslocamento.

A intenção, de acordo com informações repassadas ao ministério, é proteger o patrimônio e evitar o corpo a corpo contra os manifestantes. O plano de segurança, contudo, será definido pelo GDF, ao qual cabe a segurança da Esplanada. De qualquer forma, o alto escalão de Bolsonaro teme que a Polícia Militar tenha dificuldades em conter atos mais radicais. Por isso, defende a necessidade de reforço para a corporação.

“Querem tumulto”

Ontem, durante a live da semana, Bolsonaro antecipou que “os governadores, que têm compromisso com a democracia de verdade, com a Constituição, com as leis, com o bem-estar da população, estão se preparando para reagir, caso o pessoal ultrapasse o limite da racionalidade”. O presidente ainda disse que os manifestantes “querem tumulto, confronto” e os classificou como uma nova versão dos black blocs, que, em 2013, promoveram ações virulentas em São Paulo ao protestar contra o aumento da tarifa do transporte público.

“Eu não estou torcendo para ter quebra-quebra, não. Mas a história nos diz que esses marginais de preto, que vão com soco inglês, com punhal, barra de ferro, coquetel molotov, geralmente apedrejam, queimam bancos, estações de trem e outras coisas. Não é porque eles estão com faixa de democracia que estão defendendo a democracia. Para mim, é terrorismo. Acusam os outros do que eles são”, criticou.

Bolsonaro também pediu que os seus apoiadores evitem promover atos pró-governo no domingo, para que não haja nenhum tipo de confronto. Além disso, classificou o grupo contrário à sua gestão, que acabou recebendo a alcunha de “antifas” — devido ao apelo contra o fascismo durante as manifestações — como um bando de “idiotas”, “viciados” e que “não servem para nada”.

“A maioria é estudante. Se você pegar e aplicar a prova do Enem (Exame Nacional do Ensino Médio) neles, acho que ninguém tira 5. Não sabem interpretar um texto, não sabem nada. São uns idiotas que não servem para nada”, disparou. “Não compareçam a esse movimento, que esse pessoal não tem nada a oferecer para nós. Muitos são viciados. Eles querem o tumulto. É um pedido meu. Os antifas, novo nome dos black blocs, querem roubar sua liberdade.”

Frase

"A maioria é estudante. Se você pegar e aplicar a prova do Enem neles, acho que ninguém tira 5. Não sabem interpretar um texto, não sabem nada. São uns idiotas que não servem para nada”

Jair Bolsonaro, presidente da República

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Promessa de flexibilizar acesso a armas

Ingrid Soares

Augusto Fernandes

05/06/2020

 

 

Nesta semana, o presidente Jair Bolsonaro deu uma série de sinais de que pretende flexibilizar o acesso a armas de fogo no país. Na declaração mais recente, feita a um grupo de colecionadores, atiradores e caçadores (conhecidos como CACs), na saída do Palácio da Alvorada, o mandatário prometeu “novidades” e comentou que “dá para melhorar mais ainda” as políticas que tratam do porte e da posse de artefatos.

Mesmo com o Congresso voltado para matérias relacionadas ao enfrentamento à covid-19, Bolsonaro quer usar de outros instrumentos para seguir modificando as regras de controle de armas e munições, principalmente para afrouxar legislações.

Ontem, ele afirmou que seguirá fazendo o que estiver ao alcance para não depender do Parlamento, sobretudo para derrubar a Instrução Normativa 131, de autoria da Polícia Federal. Desde a saída de Sergio Moro do Ministério da Justiça, Bolsonaro passou a criticar o ex-juiz por nunca ter anulado os efeitos do texto, que estabelece procedimentos relativos a registro, posse, porte e comercialização de armas de fogo e munição e sobre o Sistema Nacional de Armas (Sinarm). O documento prevê, entre outras medidas, o limite de duas armas por cidadão.

Nos últimos dois meses, Bolsonaro promoveu alterações no setor armamentista sem o aval do parlamento. Uma delas foi em abril, com a portaria interministerial nº 1.634/2020, que facilitou a compra de munições por cidadãos, militares e policiais.

A portaria foi publicada em 22 de abril, dia da reunião ministerial que virou alvo de inquérito no Supremo Tribunal Federal (STF) para apurar eventuais interferências políticas de Bolsonaro na Polícia Federal. No encontro, o presidente deixou claro ao alto escalão do governo que a população precisa estar armada para se defender de ditadores. Ele induziu que diversos estados e municípios vivem sob um regime ditatorial devido às medidas de isolamento social adotadas por governadores e prefeitos no combate ao novo coronavírus.

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CLDF investiga ameaças de violência excessiva

Mariana Machado

Augusto Fernandes

05/06/2020

 

 

A Comissão de Defesa dos Direitos Humanos, Cidadania, Ética e Decoro Parlamentar da Câmara Legislativa do Distrito Federal (CLDF) vai apurar a denúncia de que oficiais da Polícia Militar do DF estariam planejando agir com violência excessiva contra os manifestantes críticos ao governo federal na ação programada para domingo.

O presidente do colegiado, deputado Fábio Felix (PSol), enviou um ofício ao Comando-Geral da corporação pedindo providências. No documento, o parlamentar ressaltou que o protesto será em defesa da democracia e que os manifestantes são críticos do Executivo federal. Segundo ele, as denúncias recebidas pela comissão são de que o planejamento para o policiamento nas ações do fim de semana é diferente do que foi feito nos protestos favoráveis ao governo.

“Estaria sendo montado um grande esquema de segurança com centenas de policiais militares para essa manifestação e que, além disso, membros da corporação estariam ‘insuflando os policiais contra os manifestantes’”, destacou o documento. O ofício alertou, ainda, para o risco de que a tropa chegue ao local com ânimos acirrados e que, mesmo numa manifestação pacífica, seja empregada violência excessiva.

Ao Correio, Fábio Félix informou que recebeu relatos detalhados mostrando mensagens enviadas por policiais dizendo que “no domingo, o pau vai comer”, “vai ter antifa(scista) apanhando” e que “é hora de bater nos comunas”. Preocupado, o deputado acionou, também, o Ministério Público. “Os próprios denunciantes falam que existe uma prática muito condescendente e parcimoniosa com os atos pró-Bolsonaro, e a gente acha que a corporação não tem de ter posicionamento político.”

Em nota oficial, a Polícia Militar informou que ainda não tomou conhecimento do ofício, mas que, ao recebê-lo, adotará as medidas oportunas. Disse, ainda, que é uma polícia de Estado e que trabalha com informações que subsidiam cada planejamento, “sem levar, em qualquer grau de importância, o viés político, tampouco a bandeira levantada por integrantes dos movimentos populares”, afirmou a corporação.

A Secretaria de Segurança Pública do DF, por sua vez, respondeu que ainda “não foi comunicada pelos organizadores” do ato do próximo domingo, mas destacou que, por meio do Centro Integrado de Operações de Brasília (Ciob), vai monitorar “atos públicos de toda e qualquer natureza, respeitados os limites constitucionais”.

“O trabalho integrado dos 29 órgãos que compõem o Centro de Operações auxilia a promoção de ações de segurança pública e corrobora com a mobilidade, a fiscalização e a saúde da população do DF. Em atos públicos, as forças de segurança atuam em conjunto, com o número necessário de servidores, a fim de garantir a segurança, a ordem pública, a integridade física de todos e a fluidez no trânsito durante as manifestações.”

Frase

"Os próprios denunciantes falam que existe uma prática muito condescendente e parcimoniosa com os atos pró-Bolsonaro, e a gente acha que a corporação não tem de ter posicionamento político”

Fábio Félix, deputado distrital