Correio braziliense, n. 20832 , 05/06/2020. Cidades, p.16

 

Baixo movimento no comércio

Matheus Ferrari

05/06/2020

 

 

Depois de autorizada a reabertura do comércio de rua de segmentos como roupas, calçados, corte e costura, há 19 dias, pelo governador Ibaneis Rocha (MDB), o Correio percorreu algumas cidades para observar o comportamento de comerciantes e clientes em relação às determinações para evitar a contaminação pelo coronavírus. No Plano Piloto, em Águas Claras e Ceilândia, a reportagem verificou o descumprimento de diversas regras, principalmente, por parte dos consumidores e de pessoas que transitam próximo aos comércios. A aglomeração nos arredores das lojas e a falta da máscara facial foram os flagrantes mais comuns.

Com os estabelecimentos reabertos desde 18 de maio, comerciantes se esforçam para cumprir as regras do decreto do GDF (leia Regras), mas as medidas de segurança caem por terra, em diversos momentos, quando observamos a postura de clientes. Mesmo com a obrigatoriedade das máscaras, que prevê multa a partir de R$ 2 mil pela falta de uso. Os proprietários de estabelecimentos que não seguirem as regras, o valor é de R$ 4 mil e pode dobrar, em caso de reincidência.

O empresário Paulo Vieira, 48 anos, é dono de uma loja de calçados em Ceilândia, cidade no topo do ranking da incidência de covid-19 no Distrito Federal. O comércio abre às 11h, e a primeira providência a ser tomada é a limpeza. Paulo cumpre o serviço com a ajuda de uma funcionária. Outros três vendedores estão com contratos suspensos temporariamente. Mas, se nas ruas as aglomerações são constantes, dentro da loja, a situação fica mais controlada. “A gente pôs a placa na entrada para impedir que entrem sem máscara. Não tem aparecido tantas pessoas sem a proteção. O pessoal conscientizou-se em relação a isso. Também disponibilizamos o álcool em gel para os clientes”, conta, “Mas fora da loja, a gente vê bastante aglomeração”, lamenta. De acordo com o comerciante, o movimento caiu pela metade.

A desempregada Andréia dos Santos, 35, mora em Águas Lindas e aproveitou a abertura do comércio para ir até o centro de Ceilândia comprar roupas para as duas filhas. Ela ainda não se sente totalmente segura. “Só saí hoje porque, como chegou o frio muito cedo, preciso comprar roupas para as meninas. Mas não estou saindo, normalmente. Evito, ao máximo, até por elas. Tenho bastante medo”, admite. “Mas fui a três lojas aqui. Em todas elas, ofereciam máscaras e tinha álcool em gel. Também estão medindo a temperatura”, elogiou.

Em Águas Claras e no Plano Piloto, a movimentação de consumidores foi menor durante o tempo em que o Correio circulou pelas ruas. Nas comerciais da Asa Sul, onde o fluxo de carros e pessoas costuma ser intenso, no horário de almoço, as vagas de estacionamento vazias e as tesourinhas com trânsito fluindo refletiam a baixa procura pelo comércio. A maioria dos clientes seguia até os restaurantes que funcionam em sistema de delivery e take out, somente para retirarem a comida. Havia poucas filas nas portas dos estabelecimentos.

Fiscalização

De acordo com a Secretaria DF Legal, responsável pela fiscalização dos estabelecimentos comerciais, a pasta realiza ações conjuntas com outros órgãos fiscalizadores, de segurança e forças policiais para verificar o cumprimento das medidas sanitárias. Desde as primeiras operações, em março, e 26 de maio, o órgão realizou mais de 300 mil vistorias em estabelecimentos de todo o DF. Na primeira etapa, 22 mil comércios foram fechados compulsoriamente e cerca de 900, interditados. Ainda segundo a pasta, entre 27 de maio — quando os shoppings centers reabriram — e 3 de junho, outras 22 mil vistorias foram realizadas. No período, os fiscais fecharam 552 estabelecimentos compulsoriamente e interditaram 43.

De acordo com a Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo do Distrito Federal (Fecomércio/DF), 9 mil comerciários foram testados para o coronavírus, gratuitamente, por meio de uma parceria da instituição com o Serviço Social do Comércio (Sesc) e a Secretaria de Saúde do DF. Os exames ocorreram entre 26 de maio e 1º de junho. No total, 57 trabalhadores testaram positivo para a covid-19.

Regras

Veja detalhes das normas do comércio

» Horário de funcionamento: das 11h às 19h

» É proibida a venda de refeições e produtos para consumo no local e a disponibilização de mesas e cadeiras aos consumidores

» Garantir a distância mínima de dois metros entre as pessoas

» Fornecer equipamentos de proteção individuais a todos os empregados, colaboradores, terceirizados e prestadores de serviço

» Organizar uma escala de revezamento de dia ou horário de trabalho entre os empregados, colaboradores, terceirizados e prestadores de serviços

» Proibir a participação nas equipes de trabalho de pessoas consideradas do grupo de risco, tais como idosos, gestantes e pessoas com comorbidades

» Priorizar, no atendimento aos clientes, o agendamento prévio ou a adoção de outro meio que evite aglomerações

» Disponibilizar álcool em gel 70% a todos os clientes e frequentadores

» Manter banheiros e demais locais do estabelecimento higienizados e com suprimentos suficientes para possibilitar a higiene pessoal dos empregados, colaboradores, terceirizados, prestadores de serviço e consumidores

» Aferir a temperatura dos consumidores

» Aferir e registrar, ao longo do expediente, incluídas a chegada e a saída, a temperatura dos empregados, colaboradores, terceirizados e prestadores de serviço, devendo ser registrado em planilha, na qual conste nome do funcionário, função, data, horário e temperatura, que deve estar disponível para conhecimento das autoridades de fiscalização

» Quando constatado o estado febril do consumidor, empregado, colaborador, terceirizado e prestador de serviço, deverá ser impedida a sua entrada no estabelecimento, orientando-o  procurar o sistema de saúde