O Estado de São Paulo, n.46215, 29/04/2020. Metrópole, p.A10

 

Ações de isolamento devem durar 2 anos, diz vice-diretor da Opas

Mateus Vargas

29/04/2020

 

 

Para Jarbas Barbosa, mesmo que se chegue à vacina, uma imunização em grande escala da população vai demorar

Conversa. Barbosa, convidado da série ‘Estadão Live Talks’

Países terão de conviver por até dois anos com a retomada de ações de isolamento social, para evitar uma explosão de casos de covid-19. Esse é o prazo médio estimado para que ocorra uma imunização em grande escala da população. A opinião é do médico e vice-diretor da Organização Pan Americana da Saúde (Opas), Jarbas Barbosa, convidado de ontem da série Estadão Live Talks. A Opas é o braço da Organização Mundial da Saúde nas Américas.

“Os mais otimistas falam em (desenvolver uma vacina) até o fim do ano. Mas até vacinar, estamos falando de dois anos em que vamos ter períodos de relaxamento maior, monitoramento, e, se necessário, recuar. Para evitar explosão de casos, como já ocorreu”, disse Barbosa.

O médico afirmou que é difícil apontar uma data para flexibilizar medidas de distanciamento social no Brasil. O importante, disse, é ter certeza de que a transmissão do vírus está diminuindo “de maneira consistente” e que há leitos suficientes para atender a população antes desta decisão.

“Máscaras (caseiras) podem ajudar, mas não são uma solução mágica. Não podem substituir outras medidas que estão sendo recomendadas”, declarou Barbosa.

Questionado sobre as preocupações da Opas em relação ao Brasil, Barbosa afirmou que a organização não trata de casos específicos de países, mas deixou muito claro que “recomendações não mudam ao sabor da política”.

Riscos. Segundo o médico, todas as evidências apontam prejuízos em relaxar o distanciamento social em locais de aumento da transmissão do vírus, como o Brasil. “Até agora, foi a receita do fracasso. Levou a UTIs superlotadas, a pessoas que perderam a vida”, disse.

Barbosa afirmou ainda que é importante ter boa coordenação entre autoridades de saúde e transmitir informações claras à população sobre o distanciamento social. “Adesão das pessoas a medidas drásticas, como a de distanciamento social, só ocorre se houver informação clara sobre o que está acontecendo, objetiva, sobre quais são os riscos, e que haja compensações financeira e social.”