O Estado de São Paulo, n.46215, 29/04/2020. Economia, p.B5

 

Desequilíbrio global exige um novo olhar da Petrobrás

Rodrigo Leão

William Nozaki

29/04/2020

 

 

O ano de 2020 promete entrar para a história do mundo do petróleo. A crise do coronavírus e os desequilíbrios entre demanda e oferta colocaram o setor diante de uma situação preocupante.

Do lado da demanda, segundo estimativas da consultoria Rystad Energy, o consumo no mundo deve cair cerca de 27,5 milhões de barris por dia neste mês. Do lado da oferta, o acordo feito no âmbito da Opep+ (grupo que reúne a Opep e mais 11 grandes produtores liderados pela Rússia e México) levou a uma redução insuficiente da produção de curto prazo, em cerca de 9,7 milhões de barris. Ou seja, se nenhum outro esforço de ajuste da produção for realizado, o mundo será inundado de petróleo.

A abrupta redução dos preços do WTI no dia 20, por exemplo, ocorreu pela resistência dos Estados Unidos em reduzir sua produção (cerca de 12 milhões de barris) de maneira expressiva no curto prazo, a despeito da queda vertiginosa da sua demanda.

Esse cenário indica que o gigantesco desequilíbrio no mercado global de petróleo continuará por um tempo. No caso do Brasil e da Petrobrás, haverá dificuldade para que seja mantido o ritmo de crescimento das exportações. Além disso, a diminuição dos preços deve afetar significativamente as margens do setor de exploração e produção. Por isso, o mercado de derivados, tanto pela capacidade de exportação de alguns produtos específicos, como pela menor pressão nas margens do setor de refino, será fundamental para que a estatal possa atenuar os impactos gigantescos aos quais será submetida nessa crise.

COORDENADOR TÉCNICO DO INEEP E PESQUISADOR VISITANTE DO NEC DA UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA E COORDENADOR TÉCNICO DO IINEEP E PROFESSOR DA FUNDAÇÃO ESCOLA DE SOCIOLOGIA E POLÍTICA DE SÃO PAULO