Título: Conflito encerra o ano sem solução
Autor: Tranches, Renata
Fonte: Correio Braziliense, 31/12/2012, Mundo, p. 13

Enviado especial da ONU e da Liga Árabe convoca Al-Assad e a oposição para a mesa de negociações. Sábado foi o dia mais sangrento, com 397 mortos

Um dos mais importantes países do Oriente Médio, a Síria chega ao fim de 2012 afundada em uma crise sem solução imediata. Ontem, o negociador internacional e enviado das Nações Unidas, Lakhdar Brahimi, exortou, no Cairo (Egito), outros governos a pressionarem as partes envolvidas a irem à mesa de negociações. Segundo ele, se não houver uma chance para a diplomacia, a nação corre o risco de se tornar um Estado fracassado governado por "senhores da guerra". O tom de pessimismo veio acompanhado de informações de que o sábado pode ter sido o dia mais sangrento em 21 meses de conflito. Grupos opositores e organizações humanitárias divergem quanto ao número exato de mortos, mas ele pode chegar a 397 pessoas.

Na última semana do ano, Brahimi se embrenhou em um esforço diplomático para tentar colocar fim à guerra. Depois de passar cinco dias em Damasco, onde se reuniu com o ditador sírio, Bashar Al-Assad, ele voou para Moscou e conversou com líderes do maior aliado do regime árabe. A Rússia, assim como a China, tem impedido a implementação de resoluções mais duras para pressionar Al-Assad no Conselho de Segurança da ONU.

Ontem, Brahimi visitou a capital egípcia e foi recebido pelo presidente, Mohamed Morsy. O Egito também passou por mudanças depois de protestos populares da chamada Primavera Árabe que culminaram na deposição do ditador Hosni Mubarak, depois de três décadas no poder. Mubarak cumpre prisão perpétua por ser considerado cúmplice pela morte de cerca de 850 manifestantes egípcios. Morsy, seu sucessor, vem se tornando uma das principais vozes no mundo árabe contra o regime de Al-Assad. No sábado, ele fez um discurso, divulgado pelos veículos de imprensa locais, em que defendeu a revolução síria e disse que "não há espaço no futuro da Síria" para Al-Assad.

Ainda no Cairo, Brahimi se encontrou com Nabil Al-Arabi, secretário-geral da Liga Árabe, e defendeu a participação de atores internacionais para mediar uma saída à crise síria. "O problema é que os dois lados não querem falar entre eles. Por isso, é necessária a ajuda de fora", declarou, segundo a agência de notícias Reuters. Como parte de seu esforço, o enviado defendeu a proposta apresentada pelo grupo de ação sobre a Síria, em Genebra (Suíça), em 30 de junho, que prevê a formação de um governo de transição com plenos poderes no país. Ela não menciona, porém, o destino de Al-Assad. Sua saída é uma pré-condição da oposição síria para iniciar qualquer tipo de diálogo nacional.

Massacres Enquanto segue o impasse diplomático, no front da guerra civil, a situação parece se agravar a cada dia. Organizações humanitárias que atuam dentro da Síria e grupos opositores divulgam, diariamente, relatos de massacres. Os Comitês Locais de Coordenação (LCCs, por sua sigla em inglês) disseram que, no sábado, ocorreram 397 mortes em várias cidades. O grupo garante ter várias delas documentadas em vídeos repassados à imprensa. A veracidade das gravações, porém, não pode ser comprovada. Segundo os LCCs, entre os mortos, havia 20 crianças e 20 mulheres. Apenas em Homs, explicou o grupo, 220 teriam sido executadas em um campo no bairro de Deir Balbah.

Segundo informações do Observatório Sírio dos Direitos Humanos (OSDH), o Exército sírio retomou o controle do distrito, depois de intensos combates. A organização noticiou que houve 190 mortes em 10 cidades e províncias sírias, mas disse não ter sido possível estabelecer as baixas ocorridas em Deir Balbah por conta das dificuldades de comunicação na região. O observatório tem sede em Londres e garante fazer seu levantamento com base em informações de fontes médicas sírias. O número estimado de mortos na Síria desde o início da crise, em março de 2011, já passa dos 45 mil.