Correio braziliense, n. 20836 , 09/06/2020. Brasil, p.7

 

País bate 700 mil casos

Bruna Lima

Maria Eduarda Cardim

09/06/2020

 

 

Segundo balanço do Ministério da Saúde, o Brasil registrou 679 mortes em 24 horas. Total de óbitos vai a 37.134. Pasta informou que os estados que não encaminharam os dados até as 16h de ontem não tiveram os números incluídos na contagem oficial

Em meio à confusão dos números do novo coronavírus feita pelo Ministério da Saúde, a pasta confirmou, ontem, o registro de mais 679 óbitos e 15.654 casos da covid-19 no Brasil. O país totaliza, então, de acordo com balanço oficial, 707.412 casos e 37.134 mortes pela doença. Na atualização, no entanto, ficaram de fora os novos números de Alagoas, Distrito Federal, Goiás e Santa Catarina; e há divergências em relação a outros estados.

 Segundo a pasta, os estados que não encaminharam os dados até as 16h de ontem não tiveram os números incluídos na contagem. “Isso é uma forma de a gente manter uma organização nacional. Assim que os dados forem encaminhados para o ministério, nós iremos atualizar no boletim do dia seguinte”, afirmou o diretor do Departamento de Análise de Saúde e Vigilância de Doenças Não Transmissíveis, Eduardo Macário.

 Durante a coletiva, ontem, Elcio Franco, secretário-executivo da Saúde informou que os números sobre a covid-19 voltarão a ser divulgados às 18h. O presidente Bolsonaro chegou a indicar que o Ministério passaria a relatar apenas mortes que ocorreram nas últimas 24 horas. Mas a pasta manteve a metodologia de somar registros de mortes do dia às de dias anteriores.

 Apesar de uma queda em relação aos dias passados, quando os óbitos superaram mil, os números às segundas-feiras costumam ser menores, assim como do fim de semana. O ministério já justificou que a diferença ocorre porque alguns sistemas de coletas de dados de estados e municípios não são atualizados nos finais de semanas para serem totalizados.

 Os números divulgados pela pasta vão ao encontro dos dados expostos pela plataforma do Conselho Nacional de Secretários de Saúde (Conass). De acordo com dados das secretarias de estado das unidades federativas que não tiveram números contabilizados, porém, há registro de novos casos e de mortes em todas elas. Em Alagoas, o governo estadual confirmou mais 21 mortes e 633 infecções. Já Santa Catarina registrou mais seis óbitos e 177 casos. No Distrito Federal, o ministério contabilizou seis novas infecções e nenhuma morte, enquanto o número da secretaria é de 325 e nove, respectivamente. Por fim, Goiás teve mais 336 casos e nenhuma morte, sendo que, na plataforma do Ministério da Saúde, a atualização dá conta de 311 casos.

Divergências

Além disso, há divergências entre os números do governo federal em relação aos dados das secretarias de outros estados. Corrigindo as diferenças, o Brasil teve 849 mortes e 19.631 infectados em razão do novo coronavírus nas últimas 24 horas, segundo levantamento de um consórcio de veículos de imprensa junto aos governos estaduais. No balanço paralelo, o país registra 37.312 mortes e 710.887 casos confirmados.

 A decisão de trabalho coletivo foi tomada depois que o presidente Jair Bolsonaro informou que iria suprimir dados do montante da casos e mortes pelo novo coronavírus no Brasil. “Acabou matéria do Jornal Nacional”, disse, ao ser questionado sobre os atrasos na divulgação, primeira atitude que dificultou a prestação de informação por parte da imprensa. Em resposta, G1, O Globo, Extra, O Estado de S.Paulo, Folha de S.Paulo e UOL passaram a trabalhar de forma colaborativa para reunir as informações necessárias nos 26 estados e no Distrito Federal.

 Em pleno crescimento de casos e mortes da doença, o Brasil deve se tornar o segundo país com mais mortes pelo novo coronavírus ainda esta semana. Segundo levantamento da Universidade Johns Hopkins, a nação brasileira ocupa o terceiro lugar no ranking de países com mais óbitos pela doença. Apenas os Estados Unidos, com 110.932 mortes; e o Reino Unido, com 40.680 vítimas, estão na frente do Brasil.

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Ministro do STF alerta para risco de lockdown

Renato Souza

09/06/2020

 

 

O ministro Luiz Fux, do Supremo Tribunal Federal (STF), defendeu cautela na reabertura econômica em razão da pandemia de coronavírus que atinge o país. De acordo com o magistrado, a volta das atividades comerciais não pode ocorrer ao custo de a doença se espalhar mais pelos estados e municípios, alertando sobre a possibilidade de novas medidas restringirem a circulação de pessoas. “O risco de abrir é depois ter de fazer lockdown. Essa pandemia é complexa em todos os ramos da ciência. As respostas usuais não servem para este momento”, destacou. O ministro fez as declarações durante live realizada pela Associação Brasileira de Franchising.

Fux afirmou que entende a ânsia social pelo retorno das atividades, mas lembrou que a doença continua avançando nacionalmente. “É claro que há uma preocupação natural para a retomada econômica. Mas a retomada da economia não pode ser levada a efeito desta contaminação pela pandemia”, afirmou.

O ministro lembrou que o Supremo entende que os governos municipais e estaduais têm competência para definir sobre medidas de isolamento, e que não cabe ao governo federal definir ações locais sobre o comércio. “Em um confronto entre a competência do estado e a competência do município, permanece o interesse local. Pois o lucro que estamos tratando é a saúde pública”, completou. O presidente Jair Bolsonaro defende a retomada da economia, mesmo com o avanço do número de mortos e infectados.

Fux disse que a decisão do STF, no começo, gerou “incompreensão do governo federal”, mas a Corte seguiu o que determina o Estado democrático de direito. Ele lembrou orientações do ex-ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, que defende o isolamento social e a quarentena. “Os ônibus são lotados, com pessoas em pé. Um ambiente propício para a contaminação. O Estado não tem um panorama homogêneo. Como a União poderá dispor sobre Manaus, que tem um caos? O grande problema é a falta de insumos”, disse.