Correio braziliense, n. 20836 , 09/06/2020. Economia, p.8

 

PIB do país cairá 8%, prevê Banco Mundial

09/06/2020

 

 

A pandemia do novo coronavírus levará a atividade econômica no Brasil a encolher 8% em 2020, prevê o Banco Mundial em relatório divulgado ontem. Uma queda dessa magnitude seria a maior em 120 anos, período para o qual o IBGE, tem dados sobre a evolução do Produto Interno Bruto (PIB) do país.

Na comparação com os outros países, a estimativa sobre o desempenho da economia brasileira é pior que a do Brics (além do Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul). Na América Latina, entre os emergentes, só o Peru deve ter um recuo pior do que o Brasil — de 12%.

O tombo da economia brasileira é apenas uma das inúmeras faces da “recessão severa” que o Banco Mundial antevê no cenário global por causa da covid-19. A necessidade de isolamento social obrigou diversos países a impor medidas de fechamento temporário de escolas, parques e estabelecimentos comerciais, com reflexos sobre a produção, a renda e o emprego.

Nas projeções do Banco Mundial, o “choque rápido e maciço” da pandemia e as medidas de bloqueio total para contê-la farão a economia global encolher 5,2% neste ano.

“Isso representaria a recessão mais profunda desde a Segunda Guerra Mundial, com a maior proporção de economias desde 1870 a experimentar declínio do produto per capita”, afirma a instituição na publicação Global Economic Prospects. Segundo o relatório, mais de 90% de 183 economias devem experimentar uma retração por causa da covid-19, uma proporção maior do que na grande depressão da década de 1930 (quando ficou em 85%).

A expectativa de queda para a renda per capita é de 3,6%, o que levará milhões de pessoas à situação de pobreza extrema neste ano, prevê o Banco Mundial.

No diagnóstico da instituição, o golpe afeta mais os países onde há forte dependência do comércio global, do turismo, da exportação de produtos primários e do financiamento externo. Embora a magnitude dos distúrbios varie de uma região para outra, as economias emergentes apresentam vulnerabilidades que são intensificadas por choques externos. Maior informalidade no mercado de trabalho é uma delas.

“Além disso, interrupções no sistema escolar e no acesso à atenção de saúde primária provavelmente terão impactos duradouros no desenvolvimento do capital humano”, diz o Banco Mundial.

Cicatrizes

“Trata-se de uma perspectiva profundamente desanimadora, com a probabilidade de a crise causar cicatrizes duradouras e impor grandes desafios globais", disse a vice-presidente de Crescimento Equitativo, Finanças e Instituições do Grupo Banco Mundial, Ceyla Pazarbasioglu. Para 2021, o banco fixou algumas projeções de referência, que pressupõem que a pandemia se atenue o suficiente para permitir a suspensão das medidas de mitigação do contágio pela doença até meados do ano nas economias avançadas — e um pouco mais tarde nos emergentes. Nesse cenário, o crescimento global deve ser de 4,2% em 2021, mas menos intenso no Brasil, com alta de 2,2%.

“No entanto, as perspectivas são extremamente incertas, com o predomínio de riscos no sentido descendente, incluindo a possibilidade de uma pandemia mais prolongada, instabilidade financeira e retração do comércio global e cadeias de suprimento”, reconhece a instituição.

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Horizonte nebuloso

Vera Batista

09/06/2020

 

 

Previsões de que o país voltará a crescer com força em 2021, após atravessar, neste ano, a maior crise em décadas, são vistas com ceticismo. Para economistas, cenário afeta potencial de desenvolvimento a longo prazo

O Boletim Focus, do Banco Central, atualizou, ontem, a previsão de queda no Produto Interno Bruto (PIB, soma das riquezas do país) para 6,48%, em 2020, em consequência dos impactos financeiros do novo coronavírus. Um cenário mais pessimista do que o da semana passada, quando o tombo previsto era de 6,25%. Chamou a atenção, no entanto, a previsão de alta de até 3,50% em 2021. Esse número positivo divide economistas. Para alguns, revela um otimismo excessivo. Para outros, se trata apenas de crescimento medíocre, estimado a partir de uma base deprimida deste ano.

A economista e consultora econômica Zeina Latif disse que as projeções do Focus, que refletem a mediana das apostas de analistas de instituições financeiras, ultrapassaram suas expectativas. “Não que seja impossível um avanço de 3,5%. Mas acho a previsão muito otimista”, afirmou. Para chegar a esse patamar, nos cálculos de Zeina, o Brasil precisaria registrar bom desempenho em 2021. “Se nada acontecer, quer dizer, se ao longo do ano que vem o PIB ficar estável, a gente fecha com alta. Significa que, para chegar a esses 3,5% do mercado, o país tem que crescer 1,3%, em média, nos quatro trimestres. Muito difícil, diante da atual conjuntura”, assinalou Zeina.

Ela lembrou que a economia brasileira já vinha de um quadro de fragilidade. E uma crise como essa vai impactar o potencial de crescimento de longo prazo. “As empresas passarão por muitas dificuldades financeiras, algumas quebrarão, e a inadimplência tende a se elevar. Todos esses diferimentos (adiamentos de cobrança tributos, que, em abril representaram R$ 3,5 bilhões, segundo o Tesouro Nacional) de impostos uma hora terão que ser pagos. A situação fiscal é preocupante — talvez o Banco Central acabe elevando os juros antes do que a gente imagina. Então, eu acho 3,5% no ano que vem muito otimista”, reforçou Zeina.

A revisão de queda de quase 6,5% ao ano, em 2020, na análise de Zeina Latif, aconteceu em função da divulgação do PIB do primeiro trimestre —o recuo de 1,5% surpreendeu o mercado, que esperava retração maior. “Mas o que essa queda embute é um tombo de 10% ou 11% no segundo trimestre, em relação ao primeiro, com ajuste sazonal, e em seguida recuperação importante, mas ainda lenta da economia”, destacou a consultora econômica.

Falsa recuperação

Alex Agostini, economista-chefe da Agência Austin Rating, entende que não há otimismo algum no Boletim Focus. “É um crescimento em cima da uma base deprimida. Um cálculo matemático, ou seja, crescer 3,5% no ano que vem, em cima de uma queda de quase 6,5%, é praticamente nada. É medíocre”, afirmou. Para recuperar as perdas desse ano, 2021 deveria registrar resultado bem mais animador, sustenta. Ele admite, no entanto, que há, sim, um otimismo em relação à pandemia pela covid-19 nas perspectivas dos agentes financeiros de que, a situação no país e no mundo deve se normalizar até o final de 2020.

“Sobre a capacidade de reação dos setores da economia, o principal ponto é a confiança de que o governo vai continuar fazendo a coisa certa, que é recuperar o nível de austeridade fiscal, ainda que tenha esses gastos adicionais com o setor de saúde, de combate à covid-19”, detalhou Agostini. Concluído o dever de casa, ele prevê que os investimentos aumentarão e os bancos voltarão a dar crédito. “É claro que a equipe econômica precisa dar sinais que manterá os esforços para o equilíbrio fiscal”, afirmou. 

Emerson Casali, diretor da CBPI Produtividade Institucional, concorda que, após a forte queda esse ano, se vencido o problema sanitário, a perspectiva é de que a estrutura que ficou mais ociosa volte à carga e isso se traduza em crescimento expressivo sobre a base comprimida. “Os números certamente se baseiam em premissas razoáveis, mas o problema é que ainda há um grau de incerteza em ralação à covid-19”, disse. “A reação dos setores vai depender de uma estabilização das atividades e do quanto à estrutura produtiva (empresas e empregos) conseguirem ser preservados nesta crise. Há muitos setores com perdas críticas”, reforçou.

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Estados têm alívio na dívida

09/06/2020

 

 

O Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) anunciou a suspensão da cobrança de dívidas de estados e municípios até o fim do ano, seguindo o determinado no pacote federal de cerca de R$ 60 bilhões de socorro aos governos subnacionais, fechado no fim do mês passado. No caso do BNDES, essas suspensões somarão R$ 3,9 bilhões até o fim de 2020.

A lei que criou o socorro a estados e municípios, sancionada no último dia 27, autorizou, além do repasse de recursos, a suspensão de R$ 35,34 bilhões em dívidas dos governos regionais com a União, que serão retomadas somente em janeiro de 2022.

Outros R$ 13,98 bilhões em dívidas com dois bancos públicos, a Caixa Econômica Federal e o BNDES, também serão pausados. Além disso, o pacote inclui R$ 10,73 bilhões em renegociações de obrigações com organismos multilaterais e mais R$ 5,6 bilhões na suspensão de pagamentos de dívidas previdenciárias.

Além da suspensão do pagamento de dívidas de estados e municípios, o BNDES anunciou que os governos que ainda têm contratos ativos, com recursos a desembolsar, poderão sacar logo esses recursos e destiná-los para o enfrentamento da pandemia — desde que a mudança no destino dos valores não afete a conclusão de obras em andamento que sejam custeadas por esses créditos.

Segundo o BNDES, Acre, Amapá, Bahia, Espírito Santo, Goiás, Maranhão, Minas Gerais, Mato Grosso do Sul, Pará, Paraíba, Piauí, Rio Grande do Sul e Santa Catarina poderão ser contemplados com a medida. Se todos desembolsarem logo valores que têm a receber, o total liberado poderá chegar a R$ 456 milhões.

O anúncio se soma a outras medidas recentes anunciadas pelo BNDES, como o reforço de até R$ 20 bilhões no fundo de aval para pequenas e médias empresas, uma linha de R$ 2 bilhões para a cadeia de fornecedores de grandes empresas e outra linha de R$ 3 bilhões para o setor sucroalcooleiro.

Saúde

O BNDES também confirmou o lançamento de mais uma linha de R$ 2 bilhões, o programa BNDES Crédito Direto Emergencial, “para atender à necessidade de capital de giro de setores cuja preservação é de vital importância para a retomada da economia brasileira”. O primeiro foco do programa serão “as empresas de saúde, como hospitais e laboratórios” com faturamento anual acima de R$ 300 milhões. Segundo o presidente do BNDES, Gustavo Montezano, o banco seguirá lançando medidas conforme as necessidades sejam identificadas.