Correio braziliense, n. 20837 , 10/06/2020. Política, p.4

 

"Rachadinha" pega deputada

Alessandra Azevedo

10/06/2020

 

 

A nova base de apoio do presidente Jair Bolsonaro no Congresso segue na mira das autoridades. A Procuradoria-Geral da República (PGR) denunciou, ontem, a deputada federal Iracema Portella (PP-PI) ao Supremo Tribunal Federal (STF) por organizar esquema de rachadinha no gabinete. Ela é ex-mulher de um dos cardeais do Centrão, o senador Ciro Nogueira (PI).

Segundo a acusação, a parlamentar teria embolsado mais da metade de salários de assessores, em parceria com o ex-deputado distrital Cristiano Araújo (PSD). A investigação aponta que Iracema teria cometido peculato — desvio de dinheiro público, por abuso de confiança, para proveito próprio —  e associação criminosa.

O esquema veio à tona durante busca e apreensão na casa do senador, no âmbito da Operação Metanoia, desdobramento da Lava Jato. A Polícia Federal apreendeu um envelope com R$ 8,2 mil em dinheiro, dois contracheques de Rogério Cavalheiro, assessor do gabinete de Araújo e indicado pela deputada. Ele era obrigado a repassar a ela mais da metade do que recebia, todo mês, na Câmara Legislativa, desde que assumiu o cargo. Do salário de R$ 11,7 mil, ele ficava com R$ 4 mil, diz trecho da denúncia.

Ciro Nogueira é um dos mais influentes líderes do Centrão. No mês passado, Bolsonaro colocou na presidência do Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação (FNDE) um ex-chefe de gabinete dele, Marcelo Lopes da Ponte. O presidente tem aprovado uma série de indicações políticas do grupo para cargos de chefia no governo, em troca de apoio no Congresso.

O PSD, de Cristiano Araújo, também integra o Centrão. O Correio tentou contato com a deputada Iracema Portella, mas, até o fechamento desta edição, não obteve resposta. O espaço está aberto para manifestação.

Na semana passada, a PGR denunciou o deputado federal Arthur Lira (PP-AL), também líder do Centrão e aliado do Palácio do Planalto, por corrupção passiva. Ele teria recebido propina de R$ 1,6 milhão da empreiteira Queiroz Galvão, no âmbito da Operação Lava Jato.