Correio braziliense, n. 20838 , 11/06/2020. Brasil, p.12

 

Pandemia no Brasil segue mortal e veloz

Maria Eduarda Cardim

Bruna Lima

11/06/2020

 

 

Enquanto estados flexibilizam quarentena, o país registrou, nos últimos sete dias, a maior média mundial de óbitos, passando os EUA e o Reino Unido. Em 24 horas mais 1.274 vidas perdidas foram contabilizadas, totalizando 39.680

O descompasso das estratégias de enfrentamento à covid-19 por parte do governo federal e a resistência da população em manter a quarentena refletem nos aumento catastrófico do número de mortos e infectados pela doença. Antes mesmo de o relaxamento das medidas de isolamento ser efetivamente adotado em alguns estados e municípios, estudos demonstram aumento de circulação nas grandes cidades. Com 772.416 casos e 39.680 vítimas da doença, o Brasil é atualmente o país com maior atualização diária. Somente ontem, foram contabilizados mais 32.913 infectados e 1.274 óbitos pelo novo coronavírus no país, deixando para trás Estados Unidos e Reino Unido, que ainda têm maior número absolutos de mortes, respectivamente.

Na última semana o Brasil registrou 7.197 mortes pela covid-19, média de 1.028 por dia, segundo números da Organização Mundial da Saúde (OMS). Os EUA, que encabeçam a lista de óbitos, contabilizaram nesse período 5.762 mortes, média de 823 por dia. Já o Reino Unido, o 2º lugar, teve em sete dias 1.552 registros, média de 221. O Brasil também bate países onde a curva da doença é ascendente, como o México, com 3.886 mortes na última semana. Após a reinclusão do Brasil no levantamento da Universidade Johns Hopkins, a comparação mostra que o país está cada vez mais perto de se tornar o segundo do mundo com mais mortes pelo novo coronavírus. A previsão é de que amanhã os números brasileiros superem os do Reino Unido. Na frente do ranking continuam os Estados Unidos, com 112.726 mortes.

Isolamento

De acordo com a última atualização do Ministério da Saúde, sete estados já ultrapassaram a marca de mil óbitos cada. São Paulo encabeça a lista com 9.862 óbitos. Em seguida estão: Rio de Janeiro (7.138), Ceará (4.480), Pará (3.927), Pernambuco (3.531), Amazonas (2.363), e Maranhão (1.322). Juntas, as unidades federativas somam 32.623 mortes, ou seja, 82,2% de todos os óbitos. Apenas Mato Grosso do Sul (MS) registra menos de 100 vidas perdidas no país. Até o momento, o estado soma 24 mortes.

Estado que chegou a ser exemplo no combate à covid e que liderou o ranking brasileiro com maiores índices de isolamento, chegando a registrar 62%, o Goiás começou esta semana a disparar na curva do Centro-Oeste. Ontem, 571 novos casos foram confirmados, somando 7.221 infectados. O número de mortos chegou a 188, com acréscimo de oito fatalidades. Enquanto os índices de isolamento da unidade federativa caíram pela metade, em 10 dias, os números de internação mais que dobraram e, com isso, quase todos os leitos de UTI do estado estão ocupados.

Apesar de ainda registrarem o crescimento dos números da doença, parte do grupo que lidera o ranking de mortes no país também já começou o plano de reabertura de comércio e a flexibilização das regras de isolamento. No entanto, pesquisas relatam uma situação ainda mais dramática, já que constatam que a população começou a circular mais pelas grandes cidades antes mesmo da reabertura.

De acordo com pesquisadores do Instituto de Comunicação e Informação em Saúde (Icict/Fiocruz), houve aumento da mobilidade de veículos em cinco regiões metropolitanas — São Paulo (SP), Rio de Janeiro (RJ), Recife (PE), Manaus (AM) e Porto Alegre (RS) —, nas duas últimas semanas. O estudo, que usa sinais de telefones celulares para medir a velocidade do trânsito e a ocorrência de engarrafamentos, constatou que quando começou o isolamento, em meados de março, houve redução do trânsito em todas as cinco cidades.

Especialista em Saúde Pública e vice-diretor do Icict, Christovam Barcellos indica que é importante estudar o comportamento social na pandemia da covid-19 para entender a verdadeira causa da queda das taxas de isolamento. “Nosso sentimento é de que as práticas de investigação epidemiológica vêm se perdendo. É preciso ter agentes de saúde, enfermeiros e médicos de família que conversem mais profundamente com os pacientes e seus contatos, para saber como eles podem ter se infectado, por onde andaram e qual a possibilidade de terem infectado outras pessoas”, avalia.

___________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________

OMS rebate Pazuello

11/06/2020

 

 

A Organização Mundial da Saúde (OMS) negou, ontem, que haja relação comprovada entre baixas temperaturas e um aumento na disseminação do novo coronavírus. Na terça-feira, o ministro interino da Saúde, Eduardo Pazuello, disse que, “para efeitos da pandemia”, as regiões Norte e Nordeste do Brasil estariam mais “ligadas ao inverno do Hemisfério Norte”, enquanto as demais estariam mais “ligadas ao inverno do Hemisfério Sul”. A frase viralizou nas redes sociais, e o general virou meme. Segundo a entidade, no entanto, não há qualquer evidência científica sobre o impacto da covid-19 em diferentes estações.

Embora o vírus da influenza apresente um salto de infecções no inverno, ainda não é possível estabelecer semelhanças entre as duas enfermidades. “Sabemos que o vírus da influenza tem um ciclo, mas não sabemos como o novo coronavírus vai se comportar diante da mesma situação. E mesmo na influenza não há um padrão, pois temos diferenças entre as zonas temperadas e as regiões mais próximas à linha do Equador, no inverno do Hemisfério Sul. Não temos nenhum dado que sugira que haverá uma transmissão maior ou um comportamento mais agressivo do coronavírus nesse período”, esclareceu o diretor do programa de emergências da OMS, Michael Ryan.

Para ele, aumentos ou quedas de doenças virais de acordo com as estações estão ligadas ao comportamento humano, e não apenas ao clima. No verão, exemplifica, as pessoas tendem a sair mais de casa e frequentar ambientes abertos, mas também podem ficar mais reclusas, em lugares fechados, principalmente por conta do ar condicionado. Preocupado com a situação da América do Sul, o diretor alertou que a temperatura não trará solução para os problemas.

“Independentemente da estação, temos um aumento progressivo de casos na América Latina, principalmente na América do Sul. Precisamos nos concentrar em conter a transmissão, não podemos esperar que a temperatura dê uma resposta ao problema. O que funciona são medidas de distanciamento social”, afirmou.

Frase

“Precisamos nos concentrar em conter a transmissão, não podemos esperar que a temperatura dê uma resposta ao problema. O que funciona são medidas de distanciamento social”

Michael Ryan, diretor do programa de emergências da OMS

__________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________

Fiocruz testará vacina em animais

11/06/2020

 

 

Uma vacina contra a covid-19 será testada em seres vivos pela Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), por meio do Instituto de Tecnologia em Imunobiológicos (Bio-Manguinhos). O teste será em modelo animal, fase de desenvolvimento chamada de estudos pré-clínicos. A informação foi divulgada em nota, ontem, pela Fiocruz.

“A abordagem do projeto é de uma vacina sintética, com base em peptídeos antigênicos de células B e T — ou seja, com pequenas partes de proteínas do vírus capazes de induzir a produção de anticorpos específicos para defender o organismo contra agentes desconhecidos — neste caso, o Sars-CoV-2 [covid-19]”, explicou a Fiocruz.

Segundo o instituto, essas biomoléculas, identificadas em modelo computacional (in silico), foram produzidas por síntese química e validadas in vitro. Os peptídeos foram acoplados em nanopartículas, que funcionam como uma forma de “entrega”, para apresentar essas biomoléculas para o sistema imune com melhor imunogenicidade e ativar sua defesa.

 “As vantagens da abordagem vacinal sintética são a rapidez no desenvolvimento em comparação às metodologias tradicionais e o não requerimento de instalações de biossegurança nível 3 para as primeiras etapas de desenvolvimento (sendo necessárias somente a partir dos estudos pré-clínicos), bem como o custo reduzido de produção e a estabilidade da vacina para armazenagem”, detalhou a Fiocruz.

A fundação explicou que, na próxima etapa, serão feitas formulações vacinais com essas biomoléculas acopladas em nanopartículas, para avaliação in vivo, onde serão obtidos os primeiros resultados relacionados à imunidade conferida ao novo coronavírus.

 “A partir dos resultados dos estudos pré-clínicos, parte-se para a fase dos estudos clínicos de fases I, II e III. De qualquer forma, mesmo em processo acelerado de desenvolvimento tecnológico e, obtendo resultados positivos em todas as etapas futuras, a vacina autóctone de Bio-Manguinhos/Fiocruz não chegará ao registro antes de 2022”, concluiu.

2022

Ano em que imunizante brasileiro deve ficar pronto, no mais otimista dos cenários