Correio braziliense, n. 20838 , 11/06/2020. Cidades, p.23
DF tem 19 mortes, maior número em 24h
Walder Galvão
11/06/2020
CORONAVÍRUS » Com essa quantidade registrada em um dia, o total de óbitos no Distrito Federal subiu para 232, com 1.343 novos casos. Pesquisa da Codeplan mostra que a letalidade do novo coronavírus é maior nas cidades periféricas, como Recanto das Emas e Riacho Fundo
O Distrito Federal registrou a maior quantidade de mortes por coronavírus num período de 24 horas. Ontem, a Secretaria de Saúde contabilizou 19 óbitos provocadas pela covid-19. Com os novos registros, a quantidade de vítimas subiu para 232. A maioria das pessoas que perderam a vida para a doença moravam em cidades da periferia. Pesquisa da Companhia de Planejamento (Codeplan) indica que essas regiões apresentam maior taxa de letalidade.
Além dos óbitos, mais 1.343 pessoas testaram positivo para a doença, e o total de diagnosticados chegou a 19.433. Os pacientes que perderam a vida tinham mais de 30 anos e apenas um não tinha comorbidades — outras doenças que agravam os sintomas do coronavírus. Ao todo, as vítimas moravam em Ceilândia (6), Gama (2), Samambaia (2), Brazlândia (1), Itapoã (1), Lago Sul (1), Planaltina (1), Plano Piloto (1), São Sebastião (1), Sudoeste (1), Taguatinga (1) e Vicente Pires (1).
A Secretaria de Saúde registra, ainda, 24 óbitos de moradores de outras unidades da Federação, um deles ontem, mas que perderam a vida em unidades hospitalares da capital. Apesar da quantidade de óbitos, 10.403 pessoas estão recuperadas da covid-19. Dos diagnosticados, 65 têm quadro clínico considerado grave e 165 moderado. Com 2.470 casos, Ceilândia continua como a região administrativa de maior incidência da doença. Em seguida, aparecem Plano Piloto (1.549) e Taguatinga (1.337).
Letalidade
O novo coronavírus chegou ao DF por cidades onde o poder aquisitivo é maior, como Lago Sul e Plano Piloto. Hoje, após três meses do início da pandemia, as regiões administrativas da periferia passaram a ser as mais afetadas pela doença. Nas cidades mais afastadas do centro, a covid-19 tem se revelado mais fatal, segundo pesquisa da Codeplan. A taxa de letalidade é medida pela quantidade de vítimas de uma doença em relação ao número de diagnosticados. No Distrito Federal, esse valor é maior no Recanto das Emas, onde 13 pessoas morreram e há 438 infectados. Lá, o índice é de 3,7%, maior do que a média da capital, de 1,3%. A situação é semelhante em outras regiões afastadas do centro.
O Riacho Fundo é a segunda cidade da capital com maior taxa de letalidade: 2,7%. São sete vítimas e 377 diagnósticos da covid-19. Em seguida, está Samambaia, que tem a quarta maior incidência da doença na capital. Com índice de 2,5%, a cidade contabiliza 28 óbitos e 1.137 casos confirmados.
Entretanto, nas cidades de maior poder aquisitivo, não se morre tanto como na periferia. O Plano Piloto, por exemplo, é a segunda região administrativa com mais casos da doença. No total, há 1.549 infectados e 12 mortos. Apesar da quantidade alta, a taxa de letalidade no lugar é de 0,8%.
Hemerson Luz, médico especialista em operações humanitárias e desastres no Brasil e no exterior, explica que a periferia é mais vulnerável às doenças infecciosas e respiratórias. “Elas têm maior incidência de tuberculose e outras enfermidades infecciosas. Com a covid-19, não foi diferente”, ressaltou Hemerson, que atua nos hospitais de Base e das Forças Armadas. “Geralmente, esse grupo tem menor acesso ao sistema básico de saúde, a alimentação não é saudável e muitos trabalham em excesso, o que deixa pouco tempo para se cuidar”, frisou. Ele esclareceu que a letalidade da covid-19 está ligada ao acesso de recursos.
O epidemiologista ressaltou que o Executivo local adotou algumas ações para frear essa taxa, como fechamento do comércio em algumas cidades e aumento da testagem. Para Hemerson, a distribuição de máscaras e material para higienização, como álcool em gel, e orientação de como se prevenir, são ações importantes, que podem impactar nos números. “Para a população, o ideal é evitar aglomerações e contato com outras pessoas. Sabemos que há dificuldade do acesso ao transporte público, que está sempre lotado. Mas o ideal é seguir as regras de distanciamento ao máximo”, orientou.