Valor econômico, v.21, n.5005, 21/05/2020. Política, p. A7

 

Após dois meses, Regina Duarte deixa cargo

Andrea Jubé 

Fabio Murakawa

Matheus Shuch

21/05/2020

 

 

Depois de se reunir duas vezes com o presidente Jair Bolsonaro, o ator Mário Frias deve ser anunciado como o novo titular da Secretaria Especial de Cultura, sucedendo à atriz Regina Duarte, que ficou dois meses e meio na função. Regina será nomeada para um cargo de direção na Cinemateca Brasileira.

Na terça-feira, enquanto intensificavam-se os rumores da iminente demissão de Regina, Frias participou de um almoço no Palácio do Planalto com Bolsonaro, dirigentes do Flamengo e do Vasco, e o senador Flávio Bolsonaro (Republicanos-RJ).

Ontem Frias voltou ao Planalto no meio da tarde, acompanhado da deputada Carla Zambelli (PSL-SP). A parlamentar confirmou que Frias é o favorito para assumir a secretaria, que é vinculada ao Ministério do Turismo. Zambelli tentou despistar, dizendo que não havia definição. Mas recorreu à metáfora preferida de Bolsonaro, que também se aplicou a Regina no passado: "Como diria o presidente, eles estão namorando", desconversou.

Ainda segundo Zambelli, Regina Duarte continuará no cargo mais alguns dias até a conclusão do processo de sua transferência para a principal instituição de memória do cinema nacional.

Frias se tornou conhecido nacionalmente como galã da novela adolescente "Malhação", entre 1999 e 2001. Depois participou de outras produções da emissora, atuou em novelas da Record, e se tornou apresentador de programas no SBT e na Rede TV! Nas redes sociais, Frias é um defensor ferrenho do governo Bolsonaro.

Em paralelo à pressão da ala ideológica pelo afastamento de Regina Duarte, Bolsonaro também estava insatisfeito com o desempenho no comando da secretaria. O presidente estava incomodado com a ausência da atriz de Brasília; e se ressentia da falta de resultados, embora a atriz não tenha completado três meses no cargo.

Segundo uma fonte do governo que acompanhou de perto a fritura da atriz pelo palácio, Bolsonaro estava irritado com a insistência de Regina em ficar em São Paulo. Essa fonte relata que, entre a nomeação e a posse, Regina havia pedido ao presidente para trabalhar em definitivo de São Paulo, mas Bolsonaro havia negado essa prerrogativa à auxiliar.

O desejo de não sair de São Paulo foi expressado por Regina no vídeo de despedida do cargo que gravou ontem ao lado de Bolsonaro e foi divulgado nas redes sociais. "Acabo de ganhar um presente", disse a atriz, sobre a nomeação para um cargo na Cinemateca. "É um braço da cultura que funciona lá em São Paulo, vou ficar ali secretariando o governo, dentro da cultura", comemorou.

"Você quer ajudar o Brasil e eu quero o seu bem, ali em São Paulo você vai poder ir para a cinemateca, do lado do seu apartamento", complementou Bolsonaro no mesmo vídeo, ao lado de Regina. "Você vai ser feliz e produzir muito mais", acrescentou.

O presidente também avaliava, internamente, que Regina não revelou "afinidade com a gestão pública", e se mostrava distante, como se estivesse desconectada da realidade do governo. Por isso, Bolsonaro menciona no vídeo que em São Paulo, Regina vai "produzir mais". Frias também não tem experiência de gestão pública, mas há uma expectativa de que ele atue mais conectado com o governo. (Colaborou Raphael Di Cunto)