Título: Campanha começa bem antes da hora
Autor: Colares, Juliana
Fonte: Correio Braziliense, 06/01/2013, Política, p. 2

Favorito para assumir a presidência da Câmara em fevereiro, Henrique Eduardo Alves percorrerá 12 capitais neste mês para encontros com governadores e deputados federais. Gastos, no entanto, serão mais modestos do que os de eleições anteriores

A corrida presidencial à Mesa Diretora da Câmara dos Deputados já não é mais a mesma. Gastos exorbitantes, tótens com fotos de candidatos em tamanho real e belas moças desfilando pelos corredores do Congresso com camisetas de campanha perderam o espaço que ocuparam num passado bem recente. A farra publicitária que marcou a eleição de 2005 — quando Severino Cavalcanti ganhou de virada — foi tão constrangedora que normas internas foram baixadas para moralizar as campanhas. A disputa daquele ano, por sinal, deixou lições não só no campo do marketing, mas das negociações e dos acordos políticos. Os custos — que chegaram a beirar a casa dos R$ 2 milhões em uma única candidatura — diminuíram. As campanhas ficaram mais modestas e discretas.

Nas eleições para o biênio 2013/2014, os deslocamentos aéreos representam a conta mais alta a ser paga pelos principais interessados na cadeira de presidente da Câmara. Com o "fantasma Severino" assombrando candidatos favoritos, o nome oficial do governo para ocupar o cargo, Henrique Eduardo Alves (PMDB-RN), já montou um cronograma de viagens. Estão previstas visitas a 12 estados, sendo seis em uma única semana. Alves garante que o jatinho será emprestado por um colega de partido, o que restringiria os custos da empreitada ao combustível da aeronave. O valor não foi divulgado pelo parlamentar. Com base no plano de voo do peemedebista, o Correio fez as contas. Alves gastará, por baixo, cerca de R$ 17 mil só com combustível. Isso sem contar as diárias dos pilotos.

O peemedebista aposta em viagens por capitais estratégicas. Em 15 de janeiro, embarca de Natal para Porto Alegre. No mesmo dia, viaja para Curitiba. A agenda segue até 23 de janeiro. Na lista de destinos, estão ainda Campo Grande, Belo Horizonte, Rio de Janeiro, São Paulo, Salvador, Recife, Fortaleza e João Pessoa, entre outros.

Em cada uma dessas cidades, Alves vai se reunir com governadores e deputados federais. A estratégia é a mesma utilizada na última eleição pelo atual presidente da Câmara, Marco Maia (PT-RS). Foi o petista quem ajudou Henrique Eduardo Alves a traçar a geografia das visitas. "Os critérios de escolha incluem os estados com as maiores bancadas (São Paulo, Minas, Rio e Bahia) e a ideia de se fazer uma distribuição equilibrada. Estou seguindo praticamente o mesmo roteiro que o Marco Maia fez na campanha dele", disse o candidato.

Henrique Eduardo Alves garante que não utilizará a cota parlamentar para pagar o combustível do avião. O jatinho, segundo ele, será emprestado por outro deputado federal, Newton Cardoso (PMDB), que é ex-governador de Minas Gerais. Sobre o pedido de empréstimo, Cardoso afirmou: "Ele não pediu (o avião). Deve ter esquecido". Sobre a possibilidade de Alves vir a contactá-lo a respeito, o peemedebista mineiro respondeu: "Vou ver se consigo para ele um avião. Vou tentar".

Pronunciamento Não é de hoje que os custos com viagens encarecem as campanhas dentro do Congresso. Um dos envolvidos na campanha de João Paulo Cunha à presidência da Câmara em 2003 calcula em cerca de R$ 1,5 milhão o custo do aluguel do jatinho usado durante a candidatura do petista. A conta, disse, foi paga pelo partido. "O presidente Lula havia acabado de ser eleito e existia uma resistência em dar o comando da Casa ao PT. Também tinha havido uma renovação de quase 40% dos parlamentares e João Paulo Cunha não era conhecido. Ele foi a todos os estados e promoveu cafés da manhã, almoços e jantares com as bancadas", contou. Em 2005, a situação mudou e o foco dos gastos também. Naquele ano, excepcionalmente, o Congresso funcionou entre 19 de janeiro e 13 de fevereiro e a campanha ficou concentrada em Brasília. Foi o ano da farra de banners, cartazes e brindes, como as famosas (e caras) canetas Sheaffer. As críticas aos excessos vieram de todos os lados, até dos próprios parlamentares.

"A disputa para a Mesa Diretora da Câmara dos Deputados num colégio pequeno de 513 ilustres cidadãos e cidadãs absolutamente informados pode se dar nos limites da proposta, do folheto, do anúncio da condição de candidato desse ou daquele deputado. Nós, que condenamos o abuso do poder econômico, talvez da boca para fora, nas campanhas eleitorais, o praticamos aqui. Houve demasia. Pessoas muito bonitas e simpáticas — parecia um desfile de moda ou um carro alegórico das escolas de samba do Rio de Janeiro — tentavam convencer os deputados. Não tem cabimento", disse o então petista deputado fluminense Chico Alencar (hoje no PSol), em pronunciamento em fevereiro daquele ano.

Muito mudou de lá para cá. Além das viagens, os candidatos à presidência da Câmara na eleição deste ano focaram a campanha em informativos, telefonemas, almoços e jantares. Alguns ainda recorreram a brindes. Henrique Eduardo Alves distribuiu aos demais 512 deputados federais exemplares do livro O que eu não quero esquecer, de autoria do próprio peemedebista. O presente foi entregue em dezembro e custou R$ 6,4 mil. A assessoria do peemedebista nega que a benesse faça parte das estratégias de campanha. O candidato gastou R$ 25 mil com a impressão de 2 mil exemplares do livro, que reúne os principais pronunciamentos feitos pelo peemedebista nas últimas 11 legislaturas. Cogita-se a possibilidade de ele escrever outro, daqui a dois anos, incluindo entre as memórias parlamentares o período como presidente da Casa.

Tranquilo com o apoio que recebeu da maioria dos partidos, Alves aproveitou o início de janeiro para curtir sombra e água fresca em Natal. Atendeu a imprensa na última quinta-feira, mas negou entrevistas na sexta. Em plena reta final de campanha, evitou, inclusive, atender o telefone. Por mensagem de celular, disse a uma repórter do Correio que só queria "praia, praia e família".

Colaborou Adriana Caitano

As regras

Em setembro de 2005, foi determinado que a propaganda das candidaturas deve ser feita somente por meio de panfleto em papel tamanho ofícioCinco anos depois, outra norma entrou em vigor sem revogar a anterior. O ato da Mesa Diretora nº 69, de dezembro de 2010, definiu o que pode na divulgação das candidaturas para os cargos de comando da CâmaraO entendimento da Secretaria-Geral da Mesa da Câmara é de que as regras de 2010 anulam as de 2005O ato nº 69 proíbe a afixação de cartazes, banners, balões, faixas, sistemas sonoros com amplificação de voz e equipamentos eletrônicos que fazem a projeção de imagens nos espaços internos e externos na Casa, durante o período eleitoral

"Os critérios de escolha incluem os estados com as maiores bancadas (São Paulo, Minas, Rio e Bahia) e a ideia de se fazer uma distribuição equilibrada" Henrique Eduardo Alves (PMDB-RN), pré-candidato a presidente da Câmara