Valor econômico, v.21, n.5007, 25/05/2020. Brasil, p. A4

 

Não estava alinhado com Bolsonaro, afirma Teich

25/05/2020

 

 

O ex-ministro da Saúde Nelson Teich afirmou ontem que saiu do governo por não ter alinhamento com o presidente Jair Bolsonaro, embora não tenha sido pressionado pelo mandatário, seja para se posicionar contra medidas de isolamento, seja para aprovar o uso da cloroquina como tratamento para a covid-19.

"Não houve alinhamento com o presidente e ele que define, ele que é chefe da nação. Se por um motivo não tem alinhamento, eu que tenho que sair, e é justo. E desalinhamento não significa conflito", disse Teich em entrevista ao canal GloboNews. "Eu conversava com o presidente e, por mais que tivesse problema com ele, não tinha como ele me pressionar. Eu não ia aceitar", afirmou Teich, que classificou sua saída como "confortável".

Segundo ele, ter uma gestão com instabilidade, medo e polarização é "muito difícil". "Eu sempre falei pouco e a razão principal disso é que percebi rapidamente que as coisas que falava eram mais usadas que ouvidas."

A polarização, de acordo com Teich, é um problema também no debate sobre o uso da cloroquina, atualmente liberado pelo Conselho Federal de Medicina, ainda que não recomendado pelo órgão. Para Teich, o conselho deve rever essa decisão, e o correto seria esperar estudos definitivos sobre a eficiência do medicamento. Segundo ele, a cloroquina não foi decisiva para o seu pedido de exoneração.

Como os recursos para a saúde são escassos, recomendar um tratamento que ainda não tem resultados efetivos comprovados não seria uma medida correta na avaliação do ex-ministro. "Pra mim, eu tinha que esperar para tomar alguma decisão."

Questionado sobre se a decisão do governo de classificar academias, salões de beleza e barbearias como serviços essenciais também influenciou em sua saída, Teich afirmou que a pessoa responsável pela medida se desculpou com ele depois. Teich foi informado sobre a definição durante uma coletiva de imprensa.

"Ali eu não sabia mesmo, só que no dia seguinte, quando fui conversar com a pessoa que liberou o documento, ela me pediu desculpa, disse que estava em uma correria, que podiam ter me ligado e não lembrou que eu estava na coletiva." De qualquer forma, disse Teich, é preciso ter definições claras do que seriam serviços essenciais. "Não dá pra perguntar o que cada um acha."

De acordo com Teich, também não houve pressão de Bolsonaro sobre a posição do ministério a respeito do isolamento social. Na entrevista, o ex-ministro defendeu um isolamento "seletivo". "O caminho é testar pessoas e criar uma política de isolamento dessa pessoa, dos contatos."