Valor econômico, v.21, n.5007, 25/05/2020. Especial, p. A12

 

Presidente abre espaço na agenda para políticos 

Fabio Murakawa

Raphael Di Cunto

25/05/2020

 

 

Em busca de reaproximação com o Congresso para afastar o risco de impeachment, o presidente Jair Bolsonaro recebeu 61 deputados federais, senadores ou presidentes de partidos políticos nos dois meses desde que foi aprovada a calamidade pública em razão da covid-19, segundo levantamento da E-Relgov. Mas um teve atenção especial na agenda e se tornou interlocutor frequente do presidente: o deputado Fábio Faria (PSD-RN), mais recebido até que os líderes do governo.

Genro do dono do SBT, Silvio Santos, Faria participou de 14 compromissos com o presidente nesses 60 dias. Foram mais visitas até do que parte dos ministros, como o da Ciência e Tecnologia, Marcos Pontes, recebido 13 vezes - e que teve sua substituição pelo parlamentar ventilada nos bastidores, o que o deputado considera uma “armação” para queimá-lo junto ao governo.

Para Faria, o motivo de tantas agendas é que poucos deputados têm ido a Brasília em razão da pandemia de covid-19. “Estou em Brasília toda semana e vou ao Palácio. Tenho boa relação com o [presidente da Câmara] Rodrigo [Maia] e sempre tento fazer essa ponte. E tem algumas demandas dos colegas que eu levo”, disse.

Bolsonaro está tentando melhorar a relação com o Congresso e recebeu os presidentes ou líderes do PP, PL, PSD, Republicanos, MDB e DEM. O líder do PP na Câmara, deputado Arthur Lira (AL), um dos expoentes do Centrão e dessa nova aliança, compareceu a quatro encontros com o presidente, sendo um dos políticos mais assíduos na agenda.

Além disso, Bolsonaro teve dois encontros com o presidente do Senado, Davi Alcolumbre (DEM-AP) - seu aliado, mas que ficou parte desse período afastado por covid-19 -, e um com Maia, com quem rompeu e se reaproximou no período. Ao todo, foram 116 agendas com políticos durante esses 60 dias.

Fora Faria, o líder do governo na Câmara, Vitor Hugo (PSL-GO), foi o interlocutor mais frequente do presidente no Congresso. Ele esteve com Bolsonaro nove vezes, enquanto o líder no Congresso, senador Eduardo Gomes (MDB-TO), só esteve em duas ocasiões e o líder no Senado, Fernando Bezerra (MDB-PE), nenhuma.

Alvo de acusações desde antes de assumir o mandato, o que o colocou numa posição defensiva no início, o senador Flávio Bolsonaro (Republicanos-RJ) tornou-se figura frequente no gabinete do pai durante a pandemia, constando de oito agendas públicas - além de outros encontros aos finais de semana que não constam da agenda oficial.