Correio braziliense, n. 20841 , 14/06/2020. Brasil, p.7

 

País bate 850 mil casos

Bruna Lima

Maíra Nunes

14/06/2020

 

 

Segunda nação com mais infectados e mortos pela covid-19, Brasil registra 892 novos óbitos em 24 horas, totalizando 42.720; além de acréscimo de 21.704 diagnósticos. Estudo mostra que vírus já havia se disseminado quando quarentena foi adotada

Segundo país com mais infectados e mortos pelo novo coronavírus em números absolutos, atrás apenas dos Estados Unidos, o Brasil segue liderando o ranking de óbitos diários. Segundo balanço do Ministério da Saúde, mais 892 fatalidades foram contabilizadas nas últimas 24 horas no país, contra 782, nos EUA. No total, o Brasil soma 42.720 óbitos e 850.  infectados, sendo 21.704 de sexta para sábado.

Na sexta-feira, o país ultrapassou o Reino Unido em número absoluto de mortes e chegou à vice-liderança no triste ranking global. Os norte-americanos seguem na frente, com 115.251 óbitos, segundo contabilização da Universidade Johns Hopkins.

De acordo com o estudo apoiado pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp), mais de 100 linhagens diferentes do novo coronavírus chegaram ao Brasil entre fevereiro e março de 2020, mas apenas três delas — muito provavelmente vindas da Europa  — continuaram a infectar os brasileiros.

“Nossos resultados evidenciam a existência de duas fases da epidemia no país. A primeira é de transmissão a curta distância, dentro das fronteiras estaduais de São Paulo e Rio de Janeiro. No início de março teve início a fase dois, de longa distância. Ou seja, as pessoas contaminadas nesses dois estados já estavam levando o vírus para as demais regiões do país quando foram adotadas as NPIs (sigla que significa intervenções não farmacológicas)”, conta uma das coordenadoras da pesquisa Ester Sabino, do Instituto de Medicina Tropical da Universidade de São Paulo (IMT-USP).

O estudo também concluiu que, antes das medidas de isolamento social serem adotadas, um infectado pelo vírus estava transmitindo a doença para três outras pessoas, o que favorecia o crescimento exponencial da doença. Com a adoção das medidas de distanciamento, esse índice ficou abaixo de 1 em São Paulo e Rio de Janeiros, estados que lideram o ranking brasileiro de mortes e casos da doença.

“À medida que a adesão da população ao isolamento diminuiu, a taxa de contágio foi lentamente aumentando para valores entre 1 e 1.3 e não mais baixaram. Especialistas em epidemiologia afirmam que somente quando a taxa de contágio se estabiliza abaixo de 1 durante algumas semanas o crescimento no número de casos e de mortes começa a desacelerar”, diz a pesquisa da Fapesp.

Estados

São Paulo continua sendo o estado com maior número de mortes. Foram registradas mais 213 perdas nas últimas 24 horas, somando 10.581 óbitos. Sozinha, a unidade federativa tem mais fatalidades do que a Bélgica (9.650) e a Índia (8.884), por exemplo. Dos 645 municípios do território paulista, há pelo menos uma pessoa infectada em 578 cidades, sendo que em 306 há registro de um ou mais óbitos.

De acordo com a última atualização do Ministério da Saúde, também já ultrapassaram a marca de mil óbitos cada: Rio de Janeiro (7.592), Ceará (4.829), Pará (4.177), Pernambuco (3.784), Amazonas (2.465), Maranhão (1.436), Bahia (1.069) e Espírito Santo (1.022). Juntos, os nove estados somam 37.955 mortes, ou seja, 86,5% de todas as mortes.

A pasta de Saúde divulgou, também, o número de pacientes recuperados da covid-19. Foram liberados 379.245 pacientes diagnosticados com o vírus. Isso representa 44,6% das pessoas que tiveram a doença. Outras 428.549 continuam em acompanhamento. Além disso, 3.571 óbitos estão em investigação.

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Curitiba volta a fechar as portas

Maíra Nunes

Bruna Lima

14/06/2020

 

 

Após Curitiba flexibilizar as medidas de isolamento social, o salto no número de infectados por covid-19 e o aumento dos atendimentos na rede de saúde fizeram a capital do Paraná endurecer a quarentena. A partir de amanhã, fecham as portas academias, igrejas e templos religiosos, praças e parques, além de atividades de entretenimento. Comércio de rua, shoppings, restaurantes e galerias também passam a ter restrição de horário.

O anúncio foi feito pela secretária municipal de Saúde de Curitiba, Márcia Huçulak, ontem, motivado pela aceleração na disseminação do vírus desde a reabertura de grande parte das atividades econômicas. Até 28 de maio, a capital paranaense tinha média diária de 14 a 15 novos casos, mas o número saltou para três vezes mais nas semanas seguintes. Ontem, foram 97 novos infectados.

Curitiba soma 1.676 diagnósticos positivos e 76 mortes pelo novo coronavírus, segundo o boletim divulgado pela Secretaria de Estado da Saúde (Sesa). A cidade passou da bandeira amarela (nível 1 de alerta) para a laranja (nível 2), de alerta médio, conforme estabelecido no Protocolo de Responsabilidade Social e Sanitária. Nessa fase, as restrições são maiores.

“Fizemos isto, por ordem médica, (...) por excessos, infelizmente, cometidos por pessoas sem instinto de sobrevivência, desrespeitosas com a vida e a saúde dos outros”, explicou o prefeito Rafael Greca, por meio das redes sociais. “Não vamos facilitar no combate sanitário. Todas as vidas importam”, completou.

Aglomeração em RJ e SP

Na cidade do Rio de Janeiro, a reabertura dos shoppings está liberada desde quinta-feira. O primeiro sábado de portas abertas foi marcado por filas do lado de fora dos centros de compras e das lojas. O desrespeito às normas de isolamento pressionou o prefeito Marcelo Crivella a anunciar que reforçará as ações de fiscalização, tanto nos shoppings, quanto nas praias, que também vêm registrando aumento da circulação de pessoas.

O cenário não foi diferente na Grande São Paulo, onde a liberação dos shoppings se somou à reabertura do comércio de rua. Novamente, filas foram formadas antes mesmo da abertura de algumas lojas e muita gente circulou pelas principais avenidas do comércio da cidade. Os estabelecimentos têm horário de funcionamento reduzido e precisam seguir regras de higiene e restrição da entrada dos clientes.

Uma multidão ocupou as principais ruas de comércio do Brás, na região central de São Paulo, ontem. Defensoras da flexibilização do isolamento social, entidades do comércio reconheceram que enfrentam dificuldades para fiscalizar o cumprimento das medidas de proteção da Prefeitura e do governo.

Diretor da Associação de Lojistas do Brás (Alobrás), Lauro Pimenta estima que 200 mil consumidores passaram, ontem, pela região. “Em uma situação normal seriam de 800 mil a 1 milhão de pessoas. É hipocrisia dizer que não vai ter aglomeração no Brás. São 4 mil lojas e 8 mil boxes, só a movimentação interna já é grande. Mas o lojista está preocupado e tem medo de fechar de novo”, afirmou.