Título: Fatah reúne multidão em Gaza
Autor: Valente, Gabriela Freire
Fonte: Correio Braziliense, 05/01/2013, Mundo, p. 17

Comemoração aponta para possível unificação das facções que disputam a Palestina

O movimento Fatah demonstrou força na região de Gaza ao reunir milhares de seguidores na comemoração de seu 48º aniversário, ontem. Esta foi a primeira reunião oficial do grupo no território controlado pelo Hamas desde 2007, ano em que o partido do presidente palestino — e líder do Fatah — Mahmud Abbas foi expulso de Gaza pela facção rival. Fatah e Hamas governam a Cisjordânia e Gaza, respectivamente, e vêm ensaiando uma reconciliação desde o ataque de Israel a Gaza, em novembro do ano passado. De acordo com a agência de notícias France-Presse, os líderes dois grupos acreditam que a manifestação desta sexta-feira é um passo para a unificação dos territórios palestinos sob a mesma autoridade, conforme previa o acordo de reconciliação assinado em 2011 e adiado muitas vezes.

Durante a celebração, o público agitava bandeiras amarelas —cor que representa o Fatah — ao lado de bandeiras palestinas e de outras formações. De Ramallah, na Cisjordânia, Mahmud Abbas fez um breve discurso televisionado e transmitido em telões à multidão reunida em um antigo quartel-general em Gaza. "Logo nós recuperaremos nossa unidade. Gaza é o primeiro território palestino livre da ocupação e da colonização e nós expressamos o nosso desejo de torná-lo ligado ao restante da nação", falou, referindo-se à retirada unilateral de Israel, em 2005.

Apesar das questões ideológicas que separam Fatah e Hamas, as facções dariam força política à Palestina, que acaba de ser reconhecida como Estado Observador pelas Nações Unidas. “O fato de que as bandeiras do Fatah foram publicamente exibidas em Gaza (além de bandeiras do Hamas em Ramallah) sinaliza uma mudança psicológica significativa na mente dos palestinos, que estão bem cientes de que a divisão, política ou não, só vai servir para prejudicar a sua causa”, disse Alon Ben-Meir, professor de relações internacionais da Universidade de Nova York e especialista em Oriente Médio.

Segundo Ben-Meir, a reconciliação também traria mudanças nas relações dos palestinos na região. “Apesar de o Hamas assumir uma posição muito forte contra o Estado de Israel, os seus membros estão conscientes de que o país vizinho é uma realidade e que eles têm de aprender a conviver com ele. Assim, alcançar a unidade política colocaria pressão significativa sobre Israel, na medida em que o Hamas formalmente aceitasse uma solução de dois Estados e abandonasse a violência como um meio de atingir esse objetivo político. Caso a unidade seja formada sob tais circunstâncias, Israel será colocado sob crescente pressão internacional para conter o programa de regularização e, gradualmente, aliviando o bloqueio em torno de Gaza, o que já começou a fazer”, disse.

Estado palestino

Uma pesquisa realizada pelo jornal israelense Hayom mostra que a maioria dos israelenses apoia a criação de um Estado palestino, mas não acredita em um acordo de paz na região. De acordo com o levantamento divulgado ontem, 54% dos mais de 800 entrevistados disseram ser a favor e 38% se opuseram a ideia. Os 8% restantes não quiseram se posicionar sobre o assunto.

Apesar do número significativo, 54% dos que foram consultados consideram que um acordo de paz com os vizinhos palestinos é impossível . A pesquisa evidenciou a falta de confiança dos israelenses no atual presidente da Autoridade Palestina, Mahmud Abbas, já que 55% dos entrevistados não acredita que ele seja um "sócio para a paz".