Título: Multas em queda
Autor: Bernardes, Adriana ; Abreu, Roberta
Fonte: Correio Braziliense, 05/01/2013, Cidades, p. 21

Balanço do Detran aponta redução em oito das nove infrações mais cometidas pelo motorista brasiliense. Para especialista, é preciso aguardar para avaliar melhor os dados

Em 2012, o brasiliense cometeu duas infrações de trânsito por minuto, em média. Ao todo, foram aplicadas 1.189.928 multas. Apesar de alto, o número ainda é 8,6% menor que o de 2011, quando a fiscalização flagrou 1.303.139 irregularidades. Até mesmo as notificações por equipamento eletrônico, como avanço de sinal e excesso de velocidade, caíram. Para o Departamento de Trânsito (Detran), o motorista está mais cauteloso, especialmente em relação à lei seca.

Da lista de infrações mais praticadas, apenas estacionar em local proibido teve aumento, de 6,24%. Dirigir sob o efeito de álcool foi a irregularidade com a maior queda nos registros: 58,1% menos do que em 2011 (leia ilustração). O produtor Matheus Paiva de Oliveira, 28 anos, foi um dos 4.389 brasilienses punidos por dirigir alcoolizado no ano passado. Parado em uma blitz do Batalhão de Policiamento de Trânsito (BPTran) em fevereiro, ele se recusou a fazer o teste do bafômetro, mas acabou notificado pelos sinais de embriaguez. “Perdi a carteira e tive que pagar a multa de quase R$ 1 mil. Fui irresponsável”, admite. “Devido à fiscalização mais rígida, as pessoas têm medo e, de certa forma, estão mais conscientes”.

O gerente de Policiamento e Fiscalização de Trânsito do Detran, agente Luiz Carlos Souto Junior, defende que tanto a redução das infrações quanto dos acidentes e dos mortos se deve à intensificação da fiscalização e à maior conscientização dos motoristas. “É impressionante como em 95% dos casos em que há o aumento da fiscalização constatamos a redução dos acidentes”, diz. “A Operação Funil, coordenada por nós e integrada com outros órgãos, foi, sem dúvida, muito importante nessa conquista. E você pode ter a certeza que a infração de hoje é o acidente de amanhã. Estamos reduzindo as duas coisas ”, comemora.

Questionado se a queda dos flagrantes não teria relação direta com a operação tartaruga da PM no início do ano passado e com o uso de aparelhos que avisam sobre a proximidade dos pardais, o agente nega. “O universo de multas aplicadas manualmente é infinitamente menor do que o de equipamentos eletrônicos. Mesmo que a parada da PM tenha prejudicado a fiscalização, o reflexo não seria tão grande”, assegura. O fato de os pardais das rodovias distritais terem sido desligados por quase três meses em 2012, segundo Souto, também não refletiu nas estatísticas do Detran.

Cautela

Imprudência e falta de atenção. Para o aviador Marcos Calais, 25 anos, essas foram as duas razões que o levaram a avançar o sinal vermelho. “Estava com pressa e, quem seguia na frente, dirigia devagar. Achei que dava para passar. O vacilo foi meu. Eu deveria ter esperado”, admite. Em 2012, a infração foi registrada 198.137 vezes nas pistas da capital. Ele acredita que a fiscalização está mais rigorosa e, com isso, o motorista dirige com cautela. “O governo instalou um monte de pardal no Eixão. É menos estressante seguir na velocidade regulamentada do que acelerar a 100km/h e reduzir para 80km/h, acelerar de novo e reduzir logo na frente. Com isso, as pessoas acabam respeitando mais”, avalia Marcos.

O sociólogo e especialista em segurança no trânsito Eduardo Biavatti enxerga a redução dos acidentes, do total de mortos e da quantidade de infrações com cautela. Segundo ele, é cedo para fazer uma relação entre a queda das estatísticas a uma postura mais responsável e respeitosa do motorista. “Mas, sem dúvida, as cidades onde os órgãos de trânsito adotaram uma estratégia de fiscalização conjunta com outros órgãos têm conseguido os melhores resultados. São Paulo e Rio Grande do Sul estão na lista”, cita.

O que diz a lei

Desde 20 de dezembro, a punição para quem dirige alcoolizado está mais pesada. A multa subiu de R$ 957 para R$ 1.915,40. A suspensão de um ano para os condenados no processo administrativo foi mantido. Os reincidentes pagam o valor da infração em dobro. As mudanças na lei sancionada pela presidente Dilma Rousseff incluem ainda a ampliação de provas para atestar a embriaguez. O agente de trânsito ou o policial militar poderá se valer de provas testemunhais, vídeos, exames clínicos e perícia para comprovar que o condutor se encontra embriagado.

Análise da notícia

Em busca da civilidade

» GUILHERME GOULART

O ano de 2012 chegou ao fim com reduções importantes nas estatísticas do trânsito brasiliense, do total de multas ao número de acidentes e de óbitos. Apesar das 414 mortes registradas no período — ainda assim, o menor índice desde 1995 —, é preciso, sim, reconhecer que ações organizadas por órgãos como Detran, DER e Polícia Militar ajudaram a derrubar índices que há décadas desafiavam as autoridades públicas. Com isso, a capital, pela primeira vez, registrou uma quantidade de vítimas abaixo da meta aceitável pela ONU.

A atual situação, no entanto, é apenas o primeiro passo para um trânsito mais seguro. É preciso, por exemplo, continuar a investir em melhoria nas vias e na sinalização e a intensificar a fiscalização da lei seca. Até porque alcançar a civilidade e a boa educação no tráfego também depende do cidadão. Brigas, xingamentos, buzinaços e até mortes durante discussões no trânsito continuam frequentes no dia a dia de Brasília. Só quando houver mais respeito ao volante o Distrito Federal conquistará a excelência no trânsito.