O Estado de São Paulo, n.46223, 07/05/2020. Política, p.A7

 

Ex-coordenador da Lava Jato vai assumir PF no Rio

Fausto Macedo

Pepita Ortega

Caio Sartori

07/05/2020

 

 

Governo em risco. Tácio Muzzi atuou nas operações que prenderam Sérgio Cabral e Eike Batista; Moro citou interesse de Bolsonaro na superintendência

O novo diretor-geral da Polícia Federal, Rolando Alexandre de Souza, escolheu o delegado Tácio Muzzi para chefiar a superintendência da corporação no Rio. Muzzi, que atuou na Lava Jato no Estado, substitui Carlos Henrique Oliveira, convidado para assumir a diretoria executiva da PF, segundo cargo na hierarquia do órgão. A promoção de Oliveira foi vista por delegados como uma forma “estratégica” de mudar o comando da PF fluminense.

A Polícia Federal está no centro da crise provocada pela demissão de Sérgio Moro do Ministério da Justiça – o ex-juiz acusou o presidente Jair Bolsonaro de interferência política na corporação para ter acesso a relatórios sigilosos de inteligência e relatou, em depoimento, interesse de Bolsonaro pela superintendência do órgão do Rio. Um inquérito foi aberto no Supremo Tribunal Federal para apurar as declarações de Moro.

Atualmente, Muzzi é delegado regional executivo da PF no Rio. No ano passado, atuou interinamente na superintendência da corporação fluminense. Além disso, chefiou a Delegacia de Repressão à Corrupção e Crimes Financeiros (Delecor) no Rio e foi coordenador da Lava Jato no Estado. O nome de Muzzi não estava na lista de indicados por Bolsonaro para a vaga.

Muzzi assumiu a PF no Rio como interino em 2019 após crise envolvendo o então superintendente da corporação, delegado Ricardo Saadi. Em agosto do ano passado, Bolsonaro tentou substituir Saadi, o que causou atritos com então ministro Sérgio Moro e o então diretor-geral da PF, Maurício Valeixo. Na ocasião, o presidente alegou que a troca seria por “questão de produtividade”. A PF, no entanto, afirmou que a saída de Saadi já estava acertada e não tinha “relação com desempenho”.

A escolha de Muzzi para a PF no Rio foi um dos primeiros atos de Rolando Alexandre de Souza, que tomou posse como diretor-geral da corporação na segunda-feira passada. A troca na superintendência do Rio chegou a entrar no radar do inquérito que apura as acusações de Moro contra Bolsonaro. “Moro, você tem 27 superintendências, eu quero apenas uma, a do Rio de Janeiro”, afirmou Bolsonaro, de acordo com depoimento do ex-ministro. Ainda segundo Moro, no período em que esteve no Ministério da Justiça, “houve solicitações do presidente para substituição do superintendente do Rio, com a indicação de um nome por ele”.

Histórico. Doutor em Direito Empresarial pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), Muzzi atuou entre 2017 e 2018 (governo Michel Temer) como diretor-geral do Departamento Penitenciário Nacional (Depen) e diretor adjunto do Departamento de Recuperação de Ativos e Cooperação Jurídica Internacional (DRCI), órgãos ligados ao Ministério da Justiça. Com larga experiência, o delegado tem fama entre seus pares de “competente” e “honesto” e de “aberto ao diálogo”.

A delegada Tania Prado, presidente do Sindicato dos Delegados de Polícia Federal em São Paulo, afirmou que a indicação de Muzzi é “positiva”, diante do “histórico” do delegado. “Entendemos que Tácio é um nome sensato, de extrema confiança dentro da categoria, porque conhece internamente a Polícia Federal do Rio de Janeiro”, disse o presidente do Sindicato dos Servidores do Departamento de Polícia Federal no Rio, Gladiston Alves da Silva.

Lava Jato. Muzzi participou da Operação Calicute, que levou às prisões do ex-governador Sergio Cabral (MDB), em 2016, e do empresário Eike Batista, em 2017. Após a detenção de Eike, ainda em janeiro de 2017, Muzzi se mudou para Brasília, onde assumiu o Delecor.