O Estado de São Paulo, n.46223, 07/05/2020. Política, p.A7

 

Planalto deve alegar que vídeo é incompleto

Jussara Soares

07/05/2020

 

 

Em resposta a Celso de Mello, governo pretende dizer que só grava parte das reuniões ministeriais, como a citada por Moro

Após o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Celso de Mello determinar a entrega do vídeo de uma reunião citada em depoimento pelo ex-ministro da Justiça Sérgio Moro, o Palácio do Planalto tentará alegar que as gravações são pontuais e curtas e que, portanto, não tem a íntegra do conteúdo à disposição. Além da suposta pressão que o presidente Jair Bolsonaro teria feito sobre Moro para trocar o comando da Polícia Federal (PF), o vídeo também conteria o registro de um desentendimento entre os ministros da Economia, Paulo Guedes, e do Desenvolvimento Regional, Rogério Marinho.

O argumento, no entanto, contraria declaração do próprio presidente. Segundo revelou na semana passada, os encontros do primeiro escalão são filmados e os arquivos ficam guardados em um cofre. Na ocasião, Bolsonaro chegou a afirmar que divulgaria o vídeo da reunião com Moro, mas depois desistiu. “Último conselho que tive é não divulgar para não criar turbulência”, afirmou.

A Advocacia-Geral da União apresentou ontem pedido ao ministro pela “reconsideração” da decisão. O governo alega que na reunião foram tratados “assuntos potencialmente sensíveis e reservados de Estado”. O pedido é assinado pelo advogado-geral da União, José Levi Mello do Amaral Junior.

Na terça-feira, o ministro o ministro Celso de Mello, do Supremo Tribunal Federal, mandou o Palácio Planalto apresentar, em 72 horas, as cópias da reunião entre Bolsonaro e o primeiro escalão do governo do dia 22 de abril, dois dias antes da demissão de Moro. A ordem do decano também obriga o governo a preservar a integridade do conteúdo da gravação.

Secom. A gravação está atualmente sob responsabilidade do secretário de Comunicação, Fabio Wajngarten.

Citado pelo site Antagonista como o responsável por ter formatado o cartão de memória da reunião do dia 22, o chefe da assessoria especial da Presidência, Célio Faria Júnior, negou ao Estadão que tenha ficado com a gravação. “Não é da minha competência gravar, manter, ou trabalhar qualquer tipo de mídia na Presidência da República. Essa competência é da Secom (Secretaria Especial de Comunicação)”, disse.

Questionado se a gravação citada por Moro ainda existe, o chefe da assessoria de Bolsonaro voltou a citar a órgão comandado por Wajngarten. “Não é da minha competência. Se existe ou não quem pode responder é a Secom”, disse.

Questionada sobre a existência do vídeo e protocolos sobre gravação e armazenamento das reuniões ministeriais, a Secom informou apenas que “o Planalto não comentará”.

  

'Competência'

“Não é da minha competência gravar, manter, ou trabalhar qualquer tipo de mídia na Presidência da República.”

Célio Faria Junior

CHEFE DA ASSESSORIA ESPECIAL DA PRESIDÊNCIA