Correio braziliense, n. 20844 , 17/06/2020. Política, p.3

 

Busca e apreensão contra 21 alvos

Sarah Teófilo

Jorge Vasconcellos

Luiz Calcagnos

17/06/2020

 

 

A Polícia Federal, com apoio do Ministério Público Federal (MPF), cumpriu, ontem, mandados de busca e apreensão contra 21 pessoas em cinco estados e no Distrito Federal, no âmbito do inquérito do Supremo Tribunal Federal (STF) que investiga atos antidemocráticos. As ações ocorreram em São Paulo, Rio de Janeiro, Minas Gerais, Maranhão e Santa Catarina.

Os mandados foram expedidos pelo ministro Alexandre de Moraes, relator do inquérito, a pedido da Procuradoria-Geral da República (PGR). A investigação apura a origem de recursos e a estrutura de financiamento de grupos que são suspeitos de organizarem atos nos últimos meses pedindo o fechamento do STF e do Congresso. A operação é mais uma fase das investigações que buscam provas sobre o financiamento e organização dos atos realizados nos últimos meses.

Segundo MPF, há indícios de que os 21 alvos da operação têm envolvimento com a realização de manifestações antidemocráticas. Conforme o órgão, uma linha de apuração é de que os investigados teriam agido de forma articulada com agentes públicos que possuem foro privilegiado no STF “para financiar e promover atos que se enquadram em práticas tipificadas como crime pela Lei de Segurança Nacional (7.170/1983)”.

Os alvos são apoiadores do presidente Jair Bolsonaro. Entre eles, está o deputado federal Daniel Silveira (PSL-RJ), o único com foro, que também teve o sigilo bancário levantado, ontem, por Moraes. Também estiveram na mira da ação o blogueiro Allan dos Santos.

Pessoas ligadas ao Aliança pelo Brasil, partido que Bolsonaro quer criar, também foram alcançadas pelos mandados. Um deles é o advogado e empresário Luis Felipe Belmonte, vice-presidente da eventual legenda e suplente do senador Izalci Lucas (PSDB-DF). Belmonte é marido da deputada federal Paula Belmonte (Cidadania-DF). Nas eleições de 2018, quando se elegeu suplente, ele declarou R$ 65,7 milhões em bens.

Em nota, Belmonte disse ter recebido “com perplexidade a ‘visita’ de agentes da Polícia Federal”. “Sempre me pautei pelo respeito às instituições e pela estabilidade democrática. Jamais estimulei, financiei ou participei de atos com o objetivo de derrubar, ou mesmo afrontar, o Supremo Tribunal Federal, o Congresso Nacional, ou qualquer outra instituição da República”, enfatizou.

O publicitário Sérgio Lima, marqueteiro do Aliança, também foi alvo. Em nota, Lima disse que seu relacionamento “com os políticos e com os grupos de direita é totalmente contrário a agressões e desrespeito a qualquer instituição do país”. “O trabalho que faço com o Aliança é justamente para resgatarmos os valores de democracia, respeito e união”, frisou.

Também entrou na mira da PF o empresário Otávio Fakhoury, um dos fundadores do Aliança. Fakhoury já tinha sido alvo de busca e apreensão no inquérito das fake news. Em seu Twitter, ontem, escreveu: “(...) já colaborei para realização de manifestações pacíficas e ordeiras, em favor das pautas do governo, sempre patrióticas”.

Outros alvos foram Fernando Lisboa, blogueiro e youtuber; o dono do canal Ravox Brasil, o professor Emerson Teixeira, youtuber de um canal chamado “Professor opressor”; a youtuber Camila Abdo e o youtuber Alberto Silva.

Em nota, Lisboa disse que respeita a decisão do STF, apesar de achar ilegal, e que não tem nada a temer. Ravox publicou no Twitter sobre a ida da PF à casa dele: “Estamos sendo censurados por uma instituição que deveria fazer justiça ao encontro de cidadãos de bem”, afirmou. Camila Abdo reafirmou seu apoio a Bolsonaro e disse: “Estamos sendo caçados”. Ela foi prestar depoimento à PF ainda ontem.

Em vídeo, Emerson Teixeira chamou a ação de “inacreditável”. “Um trabalhador de bem que vai para a rua pedir um país melhor, democracia de verdade, e é isso que a gente recebe”, protestou. No Twitter, Alberto Silva escreveu que estava tranquilo. “Eu posso receber a polícia na minha casa, se fossem outros, estariam escondidos debaixo da cama até agora.” 

Alvos da operação

Veja alguns dos implicados no cumprimento de mandados

Allan dos Santos

Empresário e um dos sócios do site conservador Terça Livre, já mencionado nas postagens do presidente Bolsonaro nas redes sociais, Allan Lopes dos Santos é um dos principais blogueiros alinhados com o bolsonarismo. Ele também é investigado no inquérito das fake news.

Luis Felipe Belmonte

Milionário, ele já foi filiado ao PSDB, fez doações para legendas de esquerda, como PCdoB, e atuou como advogado do empresário Luiz Estevão, condenado a 26 anos de prisão por fraudes na construção do Tribunal Regional do Trabalho (TRT) de São Paulo. Conforme o Estadão, Belmonte já auxiliou na organização de atos antidemocráticos em Brasília, como o que ocorreu em 3 de maio.

Sérgio Lima

Marqueteiro do Aliança pelo Brasil, Sérgio Lima vinha sendo incentivado por bolsonaristas a disputar a Prefeitura de SP. Segundo O Globo, ele foi o responsável pela identidade visual do partido e também pela criação do site da legenda.

Otavio Fakhoury

Investidor, administrador de um fundo imobiliário e um dos coordenadores do grupo Avança Brasil. É suspeito de integrar grupo que financia publicações e vídeos com conteúdo difamante e ofensivo ao STF.

Também foram alvo

» Daniel Silveira, deputado federal; Emerson Teixeira, professor no DF; os blogueiros, Alberto Silva e Camila Abdo; os youtubers Ravox Brasil, Marcelo Frazão, Valter Cesar Oliveira, Fernando Lisboa e Roberto Boni, além de Ernani Fernandes Barbosa Neto e Thais Raposo Chaves, que têm páginas de apoio ao governo

Frase

“Jamais estimulei, financiei ou participei de atos com o objetivo de derrubar, ou mesmo afrontar, o Supremo Tribunal Federal, o Congresso Nacional, ou qualquer outra instituição da República”

Luis Felipe Belmonte, vice-presidente do Aliança pelo Brasil