Correio braziliense, n. 20844 , 17/06/2020. Brasil, p.7

 

Em maio, 28 milhões sem trabalho

Vera Batista

17/06/2020

 

 

Pnad Covid-19 mostra o avanço do desemprego no país e a dificuldade de retomar a vida profissional por causa do fechamento de vagas ou por medo de contrair a doença. Levantamento traça um perfil dos efeitos da pandemia no mercado

Por falta de vagas ou por receio de contrair o novo coronavirus, 28,6 milhões de pessoas ficaram fora do mercado de trabalho, em maio. No mês, 3,6 milhões de brasileiros com sintomas de gripe procuraram a rede pública de saúde e registrou-se o aumento de 94 mil para 127 mil no número de internações hospitalares. Os dados são os primeiros resultados da Pnad Covid-19, uma versão da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad Contínua), do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), com apoio do Ministério da Saúde, nos quais se pretende identificar os impactos da pandemia no mercado de trabalho e quantificar as pessoas com sintomas associados à pandemia.

O levantamento destaca que aproximadamente 17,7 milhões de pessoas não procuraram emprego na última semana de maio por causa da covid-19 ou por falta de oportunidades onde vivem. Outros 10,9 milhões de desempregados buscaram uma ocupação, mas não encontraram. Unidos, os dois grupos chegam à marca de 28,6 milhões de pessoas fora do mercado no mês passado, quando 84,4 milhões estavam ocupados no país, embora 169,9 milhões tivessem idade para trabalhar. Isso significa que menos da metade (49,7%) estava exercendo alguma atividade remunerada em maio.

A Pnad mostrou, ainda, que o país tinha 29,1 milhões de trabalhadores informais, mas esse contingente caiu ao longo do mês. Na primeira semana do mês passado, a taxa de informalidade foi de 35,7% e, na quarta, recuou para 34,5%, com menos 870 mil postos de atividades sem carteira assinada. De acordo com Cimar Azeredo, diretor-adjunto de Pesquisas do IBGE, essa redução não deve ser comemorada. “A informalidade funciona como um colchão amortecedor para as pessoas que vão para a desocupação ou para a subutilização. O trabalho informal seria uma forma de resgate do emprego. Portanto, não podemos dizer que essa queda é positiva”, afirma.

Azeredo assinala que é necessário aguardar os próximos resultados para avaliar com mais precisão o impacto da pandemia nesse grupo. A pesquisa também avaliou que, entre as 74,6 milhões de pessoas que estavam fora da força de trabalho na última semana de março, 23,7% gostariam de trabalhar, mas não foram em busca por falta de oportunidade no local onde vivem.

Dos 84,4 milhões ocupados, na última semana do mês, 14,6 milhões (17,2% do total) estavam temporariamente afastados por causa do isolamento social. “Da primeira para a quarta semana de maio, o número de trabalhadores afastados caiu em aproximadamente 2 milhões, e 8,8 milhões estavam em trabalho remoto na última semana do mês. Na primeira semana, esse número era de 8,6 milhões de trabalhadores em regime de home office ou teletrabalho”, reforça a Pnad/Covid-19.

Quatro semanas

Segundo o IBGE, as entrevistas começaram no dia 4 maio e estão sendo feitas, exclusivamente, por telefone, devido ao distanciamento social. Pouco mais de dois mil agentes do Instituto estão ligando para 193,6 mil domicílios distribuídos, em 3.364 municípios de todos os estados do país. Para definir a amostra da nova pesquisa, o IBGE utilizou como base de 211 mil domicílios que participaram da Pnad Contínua, no primeiro trimestre de 2019, e selecionou aqueles com número de telefone cadastrado.

Os dados correspondem às quatro semanas de maio. A partir da próxima divulgação, os indicadores agregados serão divulgados toda a semana. Na última semana do mês, com a consolidação dos números, o IBGE vai apresentar dados por grandes regiões e unidades da federação, idade e sexo, entre outros indicadores mais detalhados de afastamento do trabalho e home office. A coleta está prevista para acontecer até um mês após o fim das medidas de distanciamento social.