Título: Hacker viola dados de mensaleiros
Autor: Colares, Juliana
Fonte: Correio Braziliense, 09/01/2013, Política, p. 5

Informações como telefones e e-mails pessoais de José Dirceu, de José Genoino, de Delúbio Soares e do bicheiro Carlinhos Cachoeira são divulgadas na rede. Internauta classifica ato de protesto

Um hacker publicou ontem na internet informações pessoais de três condenados pelo Supremo Tribunal Federal (STF) por envolvimento no caso do mensalão. Foram divulgados CPFs, endereços, nomes dos pais, telefones e e-mails do ex-ministro da Casa Civil José Dirceu, do ex-tesoureiro do PT Delúbio Soares e do ex-presidente do partido José Genoino, que tomou posse na Câmara dos Deputados na semana passada. Identificado apenas pela conta que usa no Twitter, nbdu1nder publicou os dados em uma página que recebeu o nome de Leaked and exposed (vazados e expostos, em tradução livre do inglês). Em outro site, também foram expostos dados do contraventor Carlos Augusto Ramos, o Carlinhos Cachoeira.

Citando o poeta Fernando Sabino, o hacker diz que “o diabo desta vida é que entre 100 caminhos, temos que escolher apenas um e viver com a nostalgia dos outros 99”, e conclui, em referência aos condenados do mensalão: “Vocês escolheram o errado. Só restam as consequências”. Em entrevista ao Correio via Twitter, o hacker afirmou que conseguiu os dados sozinho e que obteve as informações com a Serasa, empresa que armazena o maior banco de dados sobre consumidores da América Latina.

Questionado sobre o quão comprometedoras são as informações divulgadas, o hacker respondeu: “Se não fossem comprometedores, os dados dos brasileiros não seriam privados. Já criaram empresas falsas no nome de Genoino”. Ele ameaçou vazar informações de outros condenados no processo do mensalão, incluir informações sobre os familiares dos envolvidos no escândalo e as empresas com as quais eles têm ligações. “Pretendo pesquisar a fundo esses criminosos. Vamos ver no que vai dar”, afirmou. Segundo ele, o ato configura um forma de protesto.

O ciberpirata também listou códigos de linguagem de programação que, segundo ele, teriam sido obtidos no site do Palácio do Planalto (www.planalto.gov.br). “Invadi apenas para provar a falha de segurança e procurar dados confidenciais. Não vale a pena perder tempo derrubando a página do Planalto”, afirmou o hacker, que participou, nos dois últimos anos, da invasão de páginas governamentais, de bancos e de grandes empresas. A assessoria de imprensa do Planalto informou que o site abriga somente informações públicas da presidente Dilma Rousseff, do vice-presidente Michel Temer e dos ministros. Afirmou, ainda, que a página funcionou normalmente durante a terça-feira.

Punições Se for identificado e houver a comprovação de que houve invasão da rede de computadores do Planalto, o hacker pode ser punido com pena de três meses a um ano de reclusão, além de multa. Segundo Gisele Arantes, advogada especializada em direito digital, mesmo que o ato não seja enquadrado como crime, o responsável por ele pode responder por danos morais.

De acordo com Gisele, a divulgação dos nomes de familiares das pessoas expostas e as consequências da publicação de e-mails e telefones podem causar constrangimento. O hacker disse que não tem medo. “Era para eles (os envolvidos no mensalão) apodrecerem na cadeia. As penas foram pequenas”, afirmou.

O advogado de Genoino, Luiz Fernando Pacheco, considerou a divulgação dos dados “uma grande bobagem, uma idiotice”. “Não era algo de relevância para que eu ligasse para ele nem ele ligasse para mim.” Arnaldo Malheiros Filho, que defende Delúbio Soares, também disse que não falou com o cliente sobre o assunto. “É uma violação de privacidade, mas vai dar muito trabalho descobrir quem foi.” Comentando a declaração do advogado de Dirceu, José Luiz Mendes, que afirmou que tomará providências se ilegalidades tiverem sido cometidas contra o ex-ministro, o hacker ironizou: “Ele (Dirceu) ainda quer vir falar sobre ilegalidade. (Risos)”.

Memória Ataques na internet Nos últimos anos, foram frequentes as notícias de invasão e derrubada de sites por hackers. Páginas governamentais, de grandes empresas e até de eventos, figuraram entre os alvos desses grupos em 2012. Indignados com os preços dos ingressos da Campus Party, grande evento de inovação tecnológica e internet, hackers tiraram do ar o site oficial do evento, em outubro do ano passado. Em janeiro de 2012, o grupo Anonymous derrubou diversas páginas do governo federal, além de endereços terminados em df.gov.br.

Naquele mês, o grupo iniciou uma ação para impedir o acesso a sites de grandes bancos que atuam no Brasil. O Bradesco, o Itaú e o Banco do Brasil foram atingidos. No caso dos sites do Distrito Federal, a ação foi justificada pelo grupo como protesto contra o fechamento do Megaupload.com, site de armazenamento de arquivos fechado após o fundador ser acusado de violar a lei contra pirataria dos Estados Unidos. Em relação aos ataques aos bancos, os hackers disseram que a medida era uma resposta à corrupção no Brasil. O responsável pela divulgação dos dados de Delúbio Soares, José Dirceu e José Genoino usa, na foto do Twitter, a mesma máscara adotada pelos integrantes do Anonymous. (JC)