Título: Alternativas para os usuários
Autor: Franco, Pedro Rocha
Fonte: Correio Braziliense, 09/01/2013, Economia, p. 11

Belo Horizonte — Se o cenário atual é de completo descaso, uma luz no fim do túnel pode ser avistada. Duas décadas depois de a malha ferroviária ter sido desestatizada, os estados e a União se mexem para reativar antigos trechos. Em Minas, o modal sobre trilhos pode ser a solução para o transporte de passageiros na Região Metropolitana de Belo Horizonte. Três linhas estão em estudo pela Secretaria Estadual de Gestão Metropolitana, incluindo um ramal que permitiria o deslocamento de trem do Aeroporto Internacional Tancredo Neves, em Confins, e outro que levaria turistas até a cidade histórica de Ouro Preto — antiga capital do estado.

Os trilhos criados no século 19 podem ser aproveitados, mas com um detalhe: é latente a necessidade de modificações nos traçados para aumentar a velocidade. À época, as composições trafegavam a 60km/h e a ideia é que as novas superem a média de 120km/h. “Tem que ter material competitivo para brigar com ônibus e automóvel”, afirma o engenheiro ferroviário da Companhia Brasileira de Trens Urbanos (CBTU) e ex-diretor do Departamento de Transporte Ferroviário da Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT), Afonso Carneiro Filho, responsável pelos projetos elaborados pelo governo federal em 2002 para reativar o sistema férreo. Além de novos trens, ele considera necessário separar o transporte de cargas de passageiros, criando linhas paralelas na mesma faixa de domínio.

A ligação com o trem de alta velocidade (TAV), ou trem-bala, é vista como possibilidade para restaurar a comunicação férrea com as duas maiores cidades do país (Rio de Janeiro e São Paulo). A ANTT estuda ampliar o projeto até Belo Horizonte. A expectativa inicial é que seja criado ramal direto com a capital paulista, mas Carneiro e outros especialistas defendem que seja feita uma conexão com Resende (RJ), o que possibilitaria ao usuário descer no meio do caminho entre as duas grandes capitais, aumentando também a demanda da linha principal. Em menos de três horas, seria possível viajar de BH até as praias cariocas, criando competição até mesmo com o setor aéreo.

Velocidade, no entanto, não é o único fator a ser considerado, segundo o mestre em transportes pela Coordenação dos Programas de Pós-Graduação de Engenharia da Universidade Federal do Rio de Janeiro (Coppe-UFRJ) e membro da ONGTrem, Nelson de Mello Dantas Filho. Ele aponta outros três fatores a serem considerados na implantação do novo sistema ferroviário: tarifa, conforto, tempo de viagem e confiabilidade do horário. “É preciso ter controle de todas as variáveis. É horário britânico. Se está previsto sair de Belo Horizonte 16h02 e chegar a Juiz de Fora às 18h30, tem que sair 16h02 e chegar 18h30”, afirma. (PRF)

» Carga lucrativa

A Estrada de Ferro Vitória a Minas (EFVM), controlada pela Vale, ligando o Espírito Santo a Minas Gerais, é a mais produtiva do país. Apenas no período de junho a setembro, ela transportou 37,2 milhões de toneladas, entre minério de ferro e carga geral. No acumulado dos nove primeiros meses, o volume total foi de 106,6 milhões de toneladas. Considerada uma das mais modernas, graças aos investimentos em tecnologia e recursos humanos, a EFVM tem 905 quilômetros de extensão e transporta 40% de toda a carga ferroviária do Brasil. Por ela circulam pelo menos 60 tipos de produtos, desde minérios e aço até soja e carvão.