Correio braziliense, n. 20846 , 19/06/2020. Política, p.5

 

O "imprecionante" Weintraub

Ingrid Soares

Renata Rios

19/06/2020

 

 

GOVERNO » Demissão põe fim a uma gestão tumultuada, provocada pelo estilo sem filtro e agressivo do ex-ministro na defesa ideológica do governo. Indicado para um cargo no Banco Mundial, só assume se tiver o nome aprovado por um grupo de países

Após um ano e dois meses, Abraham Weintraub foi demitido do Ministério da Educação, na tarde de ontem. Em meio a uma gestão marcada por polêmicas e projetos parados, ele anunciou a saída por meio de um vídeo postado nas redes sociais, ao lado de Jair Bolsonaro. Afirmou que deixará o governo para, provavelmente, assumir um cargo na direção do Banco Mundial (Bird) –– conforme indicação do presidente, numa saída honrosa para não abandonar seu fiel escudeiro. Assim, o presidente tenta diminuir o atrito entre o Executivo e o Judiciário cujos insultos do ex-ministro aos integrantes do Supremo Tribunal Federal (STF) foram uma mancha a mais no relacionamento.

“Sim, desta vez é verdade. Eu estou saindo do MEC e vou começar a transição, agora. E, nos próximos dias, eu passo o bastão para o ministro que vai ficar no meu lugar, interino ou definitivo”, anunciou, no vídeo.

Weintraub também não quis comentar os motivos que levaram a sua saída. “Neste momento não cabe. O importante é dizer que eu recebi o convite para ser diretor de um banco. Já fui diretor de um banco no passado. Volto ao mesmo cargo, porém, no Banco Mundial. O presidente já referendou e, com isso, eu, minha esposa, nossos filhos, e até a nossa cachorrinha, Capitu, vamos poder ter a segurança que hoje está me deixando muito preocupado”.

E completou: “Estou fechando um ciclo e começando outro. E é claro que eu continuo apoiando o senhor (Bolsonaro), como fiz nos últimos três anos, desde que a gente se conhece. Neste período, eu vi um patriota, que defende os mesmos valores que eu sempre acreditei: a família, a liberdade, a honestidade a franqueza o patriotismo e que tem Deus no coração. Agradeço a honra que foi participar do seu governo, desejo toda sorte e o sucesso que o senhor merece, nesse desafio gigante que é tentar salvar o Brasil. Eu continuarei lutando pela liberdade, mas de outra forma”, concluiu.

Com ar grave, Bolsonaro comentou, em seguida, classificando o momento como “difícil”. “É um momento difícil. Todos os meus compromissos de campanha continuam de pé. Busco implementá-los da melhor forma possível. A confiança você não compra, você adquire. Todos que estão nos ouvindo agora são maiores de idade, sabem o que o Brasil está passando. E o momento é de confiança. Jamais deixaremos de lutar por liberdade. Eu faço o que o povo quiser”, disse.

Na volta ao ministério, após reunião com Bolsonaro, Weintraub se recusou a falar com a imprensa e justificou ironizando a multa que recebeu do governo do Distrito Federal por não usar máscara numa manifestação, na Esplanada dos Ministérios. “Não estou podendo falar. Estou obedecendo ao Ibaneis e, com isso aqui (a máscara), não consigo falar”.

Com a saída de Weintraub, o secretário executivo do MEC, Antonio Paulo Vogel, assume interinamente. Na lista de possíveis sucessores, o secretário nacional de Alfabetização, Carlos Nadalim, tido como favorito, está praticamente fora. Como o ex-ministro, é seguidor do escritor Olavo de Carvalho e defensor do homeschooling, mas, também por ter perfil radical, perdeu pontos na indicação.

O governo também oficializou a indicação de Weintraub para diretor-executivo do grupo de países –– conhecido como constituency — que o Brasil lidera no Bird (do qual fazem parte Colômbia, Equador, Trinidad e Tobago, Filipinas, Suriname, Haiti, República Dominicana e Panamá, que precisam aprovar o nome do ex-ministro para que ele possa assumir o cargo).

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No último ato, a suspensão de cotas

Ingrid Soares

Renata Rios

16/09/2020

 

 

Antes de ser demitido do Ministério da Educação, Abrahan Weintraub revogou uma portaria de cotas para minorias poderem ter acesso à pós-graduação. A Portaria Normativa nº 13, de 11 de maio de 2016, estipulava que programas reservassem vagas para negros, índios e pessoas com deficiência. O cancelamento surpreendeu a comunidade acadêmica, que, tal como aconteceu com a medida provisória que o ex-ministrou tentou emplacar –– que possibilitava a ele indicar reitores de universidades federais durante o período em que durar a pandemia do novo coronavírus ––, promete reagir para que o último ato de Weintraub seja suspenso.

A nota do MEC tenta esclarecer a decisão: “O Ministério da Educação esclarece que a Portaria Normativa nº 13/2016, cujo teor trata de ações afirmativas e cotas para cursos de pós-graduação, foi revogada com base no artigo 8º, do Decreto nº 10.139/2019. Cabe acrescentar que a Lei nº 12.711/2012, em vigor, prevê a concessão de cotas e ações afirmativas exclusivamente para cursos de graduação”.

Segundo Charles Morphys, coordenador do Colégio de Pró-reitores de Pesquisa, Pós-graduação e Inovação das IFES (Copropi), “normatizações como a PN 13 foram um importante estímulo para mudar essa situação (de desequilíbrio no acesso às vagas de pós-graduação), dando possibilidades às instituições de discutirem suas estratégias de operacionalização das demandas por inclusão”.

Apesar da medida assinada por Weintraub, Charles explicou que as instituições federais de ensino superior (Ifes) têm autonomia para decidir sobre reserva de vagas. “Revogar a PN 13 não significa mudar as normativas internas de cada Ifes”, pontuou.

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Unanimidade nas críticas: foi o pior

Ingrid Soares

Renata Rios

19/06/2020

 

 

A saída de Abraham Weintraub repercutiu, dentro e fora das redes sociais. Políticos de diversas legendas se manifestaram sobre a saída do MEC. Com ironia, o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), comentou a ida do ex-ministro para o Banco Mundial (Bird) durante entrevista de ontem: “Não sabem que trabalhou no Banco Votorantim, que quebrou em 2009?”.

O ex-bolsonarista e hoje tucano Alexandre Frota (SP) também lembrou do passado do ex-ministro, fazendo um vídeo no qual dança com um guarda-chuva, assim como Weintraub havia feito, ano passado, para rebater as críticas que recebeu por promover um contingenciamento no orçamento das universidades públicas.

Já o PSDB salientou que “Weintraub nunca se portou como um ministro, mas como um provocador barato em nome de uma ideologia autoritária e obscura. Que o próximo nome esteja à altura dos desafios do cargo”. A União Nacional dos Estudantes (UNE) também se pronunciou. “Educação é prioridade para os brasileiros. Não tente seguir com o seu projeto de desmonte da educação pública”, tuitou.

A deputada federal Tábata Amaral (PDT-SP), expoente da bancada em defesa da educação na Câmara, publicou: “Não fosse uma crônica de morte anunciada, diria que a saída do Weintraub, hoje, seria artimanha do PR para abafar a prisão do Queiroz. A saída do pior ministro da Educação da história é um alívio”. Marcelo Ramos (PL-AM), também deputado federal, publicou: “Presidente Bolsonaro acaba de tomar a sua mais importante decisão a favor da educação brasileira desde que tomou posse”, ironizou.

O ex-presidenciável Guilherme Boulos listou as controvérsias do ex-ministro: “437 dias de Weintraub no MEC: ataques diários à ciência, Erros gramaticais, ofensas a Paulo Freire, desrespeito à autonomia universitária, ida a manifestações pelo AI-5. Weintraub é o pior ministro que já passou pelo MEC”.