O Estado de São Paulo, n.46225, 09/05/2020. Política, p.A6

 

AGU envia ao Supremo vídeo de reunião citada por Moro

09/05/2020

 

 

Material com inteiro teor do encontro ficará em sigilo; Augusto Heleno, Braga Netto e Ramos serão ouvidos no dia 12
A Advocacia-Geral da União (AGU) entregou ontem à noite ao Supremo Tribunal Federal (STF) o vídeo da reunião do presidente Jair Bolsonaro com o ex-ministro da Justiça Sérgio Moro e outros auxiliares do governo. O decano do STF, ministro Celso de Mello, decidiu colocar o material temporariamente sob sigilo.

Segundo a AGU, o vídeo entregue ao Supremo “contém o inteiro teor” da reunião, “sem qualquer edição ou seleção de fragmentos”. “Esse sigilo, que tem caráter pontual e temporário (...), será por mim levantado, em momento oportuno”, escreveu Celso de Mello, que vai aguardar um parecer da Procuradoria-Geral da República (PGR) para decidir sobre o tema.

O material vai agora compor o inquérito que investiga as acusações do ex-ministro Sérgio Moro de “interferência política” do presidente Jair Bolsonaro. Segundo o ex-juiz da Lava Jato, na reunião de 22 de abril, Bolsonaro falou sobre sua vontade de tirar Maurício Valeixo do comando da PF e ameaçou demitir Moro. Ministros que participaram da reunião relataram ao Estadão que a substituição da PF foi tratada, mas que a ameaça de demissão foi generalizada. Reportagem publicada na edição de ontem mostrou que a reunião foi marcada por palavrões, briga de ministros, anúncio de distribuição de cargos para o Centrão e ameaça de Bolsonaro de demissão “generalizada” a quem não adotasse a defesa das pautas do governo.

A agenda com o presidente foi convocada inicialmente para apresentação do programa Pró-Brasil, de recuperação econômica, e teve a participação de 26 autoridades, incluindo o vice presidente, Hamilton Mourão, todos os ministros e presidentes dos bancos públicos. Outros auxiliares diretos de Bolsonaro também acompanharam.

A AGU pedia, desde quartafeira que o decano do STF revisasse a ordem de entrega da gravação, inicialmente afirmando se tratar de uma reunião que tratou de assuntos sensíveis. Na quinta-feira, a defesa do governo pediu para enviar somente trechos do vídeo e, ontem, antes de entregar o vídeo, pediu pra saber quem teria acesso à gravação. O governo alega que na reunião foram tratados “assuntos potencialmente sensíveis e reservados de Estado”.

A defesa de havia alegado que “destacar trechos que são ou não importantes não pode ficar a cargo do investigado”.

Depoimentos. Ontem, foram divulgados os dias dos depoimentos de algumas das pessoas citadas por Moro. Os ministros Augusto Heleno (GSI), Walter Braga Netto (Casa Civil) e Luiz Eduardo Ramos (Secretaria de Governo) serão ouvidos na terça-feira. Além de participar da reunião do dia 22, eles também se encontraram com Moro no dia seguinte, quando o ex-juiz da Lava Jato teria relatado que não pretendia tirar Valeixo da chefia da PF.

Valeixo deverá ser ouvido na segunda-feira, mesmo dia em que estão marcados os depoimentos do diretor da Agência Brasileira de Inteligência (Abin), Alexandre Ramagem, cuja posse foi impedida pelo ministro Alexandre de Moraes, e do ex-superintendente da PF no Rio, Ricardo Saadi. O “número dois” da PF, Carlos Henrique de Oliveira Sousa, o superintendente da PF no Amazonas, Alexandre Saraiva, e o ex-chefe da corporação em Minas, Rodrigo Teixeira, também devem ser ouvidos na semana que vem, em data a ser confirmada.

A Polícia Federal marcou para o dia 13 o depoimento da deputada Carla Zambelli (PSLSP). A parlamentar será ouvida por troca de mensagens com Moro em que pede ao ex-ministro que aceite a mudança na direção-geral da PF solicitada por Bolsonaro e, em troca, ela se comprometeria ‘a ajudar’ com uma vaga no STF.

Mourão. Ontem, Mourão disse que a reunião citada por Moro “não teve nada de mais”. “A reunião do dia 22 de abril não teve nada de mais e o presidente, eu acho, já tomou as providências para entregar o vídeo que está sendo requerido”, disse, após deixar o Ministério da Defesa.

- Normal

“A reunião do dia 22 de abril não teve nada de mais e o presidente, eu acho, já tomou as providências para entregar o vídeo”

Hamilton Mourão

VICE-PRESIDENTE