Correio braziliense, n. 20847 , 20/06/2020. Brasil, p.7

 

Frio pode acelerar covid no Sul

Renata Rios

Fernanda Strickland*

20/06/2020

 

 

Aumento de casos na região indica que novo coronavírus está mudando o eixo de infecção. Paraná está com, aproximadamente, 75% do território afetado pela doença e, no Rio Grande do Sul, percentual atinge cerca de 74%. Retorno ao fechamento continua no radar

O crescimento de casos do novo coronavírus no Sul pode indicar que a região, até então com baixos números de óbitos e de contágio em relação ao resto do Brasil, precise voltar atrás em medidas de flexibilização do isolamento. A chegada do frio ameaça agravar ainda mais a situação. No Paraná, por exemplo, a curva de infecção cresceu nos últimos dias e o vírus atinge mais 75% dos municípios do estado. O mesmo acontece no Rio Grande do Sul, que tem casos da covid-19 em 74% do território.

Até a noite de ontem, a situação no Paraná era, em somente 24 horas, de 13 óbitos e 868 novos casos confirmados. Entre segunda e terça-feira, o estado havia registrado 30 mortes, o maior número desde primeiro informe com casos confirmados da covid-19. Os dados indicam um aumento na curva de contágio, que totaliza 12.785 pessoas infectadas e 419 vidas perdidas.

Nos outros estados da região, os números também preocupam. Em Santa Catarina, o total de óbitos chegou 234 e 16.322 casos. Já no Rio Grande do Sul, com os números mais altos, foram 423 pessoas mortas pela doença até agora e 18.587 infectadas.
Para o médico Hemerson Luz, entre as dificuldades da flexibilização está o comportamento das pessoas, um fator imprevisível. "Essas medidas de reabertura de atividades se baseiam em números e estimativas levando-se em conta uma previsão de que o distanciamento e isolamento que tinha antes das medidas de flexibilizar seria mantido, o que nem sempre acontece", observou. "Hoje, temos pessoas andando na rua sem máscaras, aglomerações em shopping e lojas, coisas que o comportamento pode pôr em risco".

Outra preocupação é que os casos estão cada vez mais espalhados pelos estados. No Rio Grande do Sul, por exemplo, 358 dos 497 municípios têm casos da doença, um percentual de 72% dos municípios. Mas, segundo a Secretaria de Saúde do Estado, os casos estão concentrados nos principais polos regionais, como a Região Metropolitana de Porto Alegre, a Serra Gaúcha e a Região dos Vales. No Paraná, a situação da covid-19 teria atingido mais de 300 cidades. Com mais de 75% dos municípios afetados, passou a marca dos 10 mil casos.

"No Brasil, ocorre uma interiorização dos casos. Como essas cidades muitas vezes dependem de outras maiores, isso pode levar a um desgaste maior da saúde", disse Hemerson, acrescentando que não acredita que a situação do Sul chegue aos níveis que o Norte do país enfrentou. Mesmo assim, o lockdown não está descartado no Rio Grande do Sul e no Paraná. "Esta possibilidade é estudada diariamente nas reuniões do COE de acordo com a situação da doença no Estado. Ainda não há uma estimativa ou certeza se o Paraná irá adotar este tipo de medida", esclarece a assessoria de imprensa da Secretaria de Saúde do Rio Grande do Sul.

*Estagiária sob supervisão de Fabio Grecchi

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Crivella: retomada preocupa

20/06/2020

 

 

O prefeito Marcelo Crivella admitiu, ontem, preocupação com a possibilidade de que a reabertura das atividades econômicas no Rio possa provocar uma segunda onda de casos da covid-19. Neste cenário, ele avisou que pode adiar o plano de flexibilização ou retroceder etapas.

“Se o Hospital Ronaldo Gazolla e o hospital de campanha do Riocentro ficarem entupidos de gente, e o mesmo acontecer na Baixada Fluminense, nós vamos fechar tudo. Não tenha dúvida. Curitiba fez isso, Porto Alegre também. As pessoas têm que continuar usando máscaras, higienizando as mãos e não se aglomerando”, disse Crivella. O Rio, atualmente, está na segunda fase das seis do processo de liberação. Entre as atividades autorizadas, estão o funcionamento de shoppings mas com um terço da capacidade , e de centros comerciais e áreas de lazer.

Segundo o prefeito, a nova onda “se vier nunca será igual à anterior”. As declarações foram dadas durante uma cerimônia no Riocentro, em que emprestou 50 respiradores e 40 monitores para que Duque de Caxias, Queimados, Itaguaí e Petrópolis possam abrir novos leitos de UTI na Região Metropolitana e na Região Serrana do estado. A ideia é tentar desafogar a demanda por vagas na rede municipal do Rio.

De novo, ele destacou que a evolução do cronograma para o retorno à normalidade também depende que o governo estadual cumpra sua parte, ampliando oferta de leitos, conforme prometido quando lançou o plano de enfrentamento à covid. Crivella lembrou, por causa das denúncias de superfaturamento nos contratos firmados pela Secretaria de Estado de Saúde para a montagem das estruturas móveis e aquisição de respiradores, que a programação está atrasada.

Crivella, porém, salientou as quedas no número geral de óbitos na cidade, mas não apenas pela covid-19. De acordo com o prefeito, até quinta-feira, o Rio tinha registrado seis sepultamentos a menos, se comparado com o mesmo período de junho de 2019. Ele atribuiu os dados à quarentena, que reduziu tanto o número de casos do novo coronavírus e de outras ocorrências, quanto mortes por acidentes de trânsito e tiroteios devido às incursões policiais.

“Se o Hospital Ronaldo Gazolla e o hospital de campanha do Riocentro ficarem entupidos de gente, e o mesmo acontecer na Baixada Fluminense, nós vamos fechar tudo. Não tenha dúvida. Curitiba fez isso, Porto Alegre também. As pessoas têm que continuar usando máscaras, higienizando as mãos e não se aglomerando”

Marcelo Crivella, prefeito do Rio

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MG: 88% das UTIs cheias

Gabriel Ronan

20/06/2020

 

 

Um crescimento de 15 pontos percentuais em três dias: a situação dos leitos de UTI em Minas Gerais está cada vez mais crítica. De acordo com números da Secretaria de Saúde estadual, divulgados ontem, restam apenas 441 das 3.019 unidades de terapia intensiva em todo o território: uma taxa de ocupação de 88,4%. Para efeito de comparação, na última terça-feira, 72,7% dos leitos desse tipo estavam em uso.

O crescimento na ocupação dos leitos de UTI no estado foi puxado, sobretudo, pela macrorregião Central, onde está Belo Horizonte e sua Região Metropolitana. Na terça-feira, a taxa era de 38%. No boletim de ontem, o indicador saltou para 86%, uma diferença de 48 pontos percentuais. A regional é a que mais tem vagas de terapia intensiva em toda Minas Gerais: são 995, sendo 854 ocupadas e 141 livres.

A situação é de colapso em quatro macrorregiões: Vale do Aço, Triângulo do Norte, Nordeste e Leste não têm mais leitos para pacientes em estado grave disponíveis. E o quadro pode piorar nos próximos dias, uma vez que apenas três das 14 regionais não estão na faixa vermelha do indicador. A classificação é dada quando a ocupação ultrapassa a marca dos 70%. Salvam-se Triângulo do Sul, Leste do Sul e Norte.
"Isso é um sinal muito importante. Nos obriga a exigir da população que mantenha todos os cuidados por amor às próprias vidas. De agora para frente, vamos insistir muito na necessidade de distanciamento", disse o secretário de Estado adjunto de Saúde, Marcelo Cabral, em entrevista coletiva de ontem de manhã.

Quanto aos leitos de enfermaria, outro indicador importante durante a pandemia do novo coronavírus, Minas tem ocupação geral de 74,9%, também na zona vermelha. Das 12.496 unidades clínicas, apenas 3.712 estão vagas. Duas macrorregiões não oferecem mais o serviço: Triângulo do Norte e Central. Apesar de Belo Horizonte estar nessa última, a prefeitura garante que há vagas na capital mineira.

Até o último boletim, o estado tem 26.052 casos confirmados. Desses, 10.314 estão em acompanhamento, 15.138 recuperados e 600 óbitos.