Título: Carro sobe e puxa a inflação
Autor: Martins, Victor
Fonte: Correio Braziliense, 09/01/2013, Economia, p. B13

Diante do atual cenário, analistas acreditam que índice que mede encarecimento dos preços chegue a mais de 6%

O otimismo do governo está sendo engolido pela realidade. A crise energética iminente, a previsão de alta dos preços dos combustíveis e o fim dos benefícios fiscais na compra de automóveis pode, inclusive, comprometer a missão do Banco Central em 2013 de manter a inflação sob controle. Carlos Thadeu de Freitas Filho, economista da gestora de recursos Franklin Templeton, calcula que todos esse fatores, mais a pressão oriunda dos serviços, devem, em julho, levar a carestia para 6,60% no acumulado de 12 meses — 0,10 ponto percentual a mais que o limite de tolerância.

Entre as montadoras, a Honda foi a primeira a elevar preços. Anunciou alta de até 5,15% para seus carros após o fim dos benefícios fiscais — um reajuste que já deve ser captado no Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) de janeiro. Outras empresas devem apresentar também novas tabelas. A Kia informou ontem que consegue manter os descontos do Imposto sobre Produto Industrializado (IPI) até 21 de janeiro, quando começam a chegar os novos lotes da Coreia do Sul. A empresa, no entanto, não divulgou de quanto será a alta após essa data.

“O IPI, sem dúvida, vai ter impacto na inflação”, afirmou Carlos Thadeu. Para ele, depois de julho, porém, o IPCA, em 12 meses, deve começar a ceder, para fechar o ano em 6,10%. “A volta do IPI vai ter efeito disseminado no ano. Os reajustes não devem ocorrer de uma única vez. Isso vai depender do poder econômico de cada empresa”, avaliou Newton Rosa, economista-chefe da gestora de recursos Sul América Investimentos. “Talvez seja um incremento de 0,20 ponto percentual no IPCA ao longo do ano”, calculou Elson Teles, economista do Itaú Unibanco.

Missão impossível

As previsões do mercado estão no sentido contrário das do Banco Central. A instituição, ainda otimista, projeta uma carestia de 4,9% para o terceiro trimestre de 2013 e de 4,8% para o ano — números que foram desenhados antes do anúncio de ajuste nos combustíveis e dos problemas nas usinas hidrelétricas, o que deve atrapalhar a redução das tarifas de energia para o consumidor. Economistas de grandes bancos e instituições financeiras, diante desse quadro, estimam um carestia acima da meta no terceiro trimestre do ano ou, ao menos, muito próxima do teto. Caso as previsões mais pessimistas se concretizem para o fim de 2013, será o quarto ano consecutivo em que o governo falha na missão de deixar a inflação em 4,5% ao ano. A última vez que em que o BC obteve êxito foi em 2009, quando a taxa havia sido de 4,31%.

A avaliação dos analistas é de que o Palácio do Planalto, desde que teve início a gestão da presidente Dilma Rousseff, está disposto a aceitar mais inflação em troca de um crescimento maior do Produto Interno Bruto (PIB). Essa percepção ganhou tanta força entre os analistas que algumas tesourarias de bancos já apostam em mais cortes de juros (Selic) em 2013, mesmo não havendo espaço para esse movimento. “Nosso cenário-base é de dois cortes de juros de 0,50 ponto percentual a partir de março. Olhando para a atividade mais à frente, o BC poderia cortar”, disse Teles.