Correio braziliense, n. 20847 , 20/06/2020. Cidades, p.16

 

Covid-19 põe consumo em xeque

Jéssica Eufrásio

20/06/2020

 

 

CORONAVÍRUS » Mantendo a tendência desde março, quando houve os primeiros casos da doença, preços de diversos produtos estão em queda no DF, exceto de grupos como alimentos, bebidas e saúde. Mas, por conta das incertezas econômicas, as vendas sofreram retração

No momento em que a economia do Distrito Federal caminhava a passos lentos rumo à recuperação e animava o setor produtivo, a chegada do novo coronavírus ao país conteve expectativas e reverteu o cenário do início do ano. Os efeitos da pandemia atingiram empresas e também o bolso dos consumidores. De janeiro a maio, os preços de produtos básicos caíram no DF, mas isso não significa que a situação econômica se tornou mais favorável para a população. O período é de incertezas e os efeitos da crise a longo prazo ainda são indeterminados.

Na capital federal, a inflação oficial, verificada pelo Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), está em ritmo de queda desde março, mesmo mês em que as medidas de isolamento social entraram em vigor. A mudança nos hábitos de consumo da população teve forte impacto sobre os resultados acumulados, e a redução de preços, puxada principalmente pelo grupo dos transportes, só não foi maior por causa da alta demanda por alimentos e bebidas.

Em março, o medo de um possível desabastecimento gerou insegurança entre os brasilienses e correria aos supermercados. Como consequência, os preços de produtos como frutas, verduras, legumes, carnes e alimentação fora do domicílio foram os que mais subiram. Em abril, a situação continuou parecida — exceto pelas carnes, que registraram pequena queda. Essa pressão sobre as finanças dos brasilienses só se atenuou no mês passado, quando alimentos e bebidas tiveram a primeira variação negativa desde o início da pandemia.

Moradora da Asa Sul, Sumara Gallo, 45 anos, não sentiu muito a queda nos preços e percebeu a falta de mais promoções no varejo, especialmente para frutas, verduras e legumes. Para tentar economizar, a servidora pública passou a dar preferência para feiras locais. “Elas estão bem melhores do que os mercados. Algumas mercearias até mantiveram preços, mas os mercados estão superando muito. A meu ver, o impacto maior foi em (produtos de) hortifrúti”, comenta.

Sumara acrescenta que os gastos em casa subiram principalmente porque a família não tem comido fora. “Estamos comprando mais vezes e voltando para casa com menos produtos. Antigamente, conseguíamos passar todo o mês com as compras. Agora, nem até a metade do mês elas chegam”, afirma. Em relação à diminuição das promoções nas redes de mercados, Sumara acredita que a mudança ocorreu pelo fato de haver menos clientes nas lojas físicas. “Costumávamos ir a um mercado diferente a depender do dia da semana por causa disso. Mas, desde que começou a pandemia, nunca mais vimos essas ofertas.”

Sazonalidade

Gerente de contas e estudos setoriais da Companhia de Planejamento do Distrito Federal (Codeplan), Jéssica Milker considera que os efeitos do momento são, primordialmente, deflacionistas. “A redução da oferta não foi tão grande quanto a redução da demanda. Isso fez com que víssemos em março e abril uma contração dos preços”, observa. “O comportamento dos preços nos dois primeiros meses estava de acordo com a sazonalidade do período. A partir de março, tivemos menos circulação de pessoas e, por isso, redução no consumo de bens não essenciais, além da suspensão de atividades econômicas. Houve demissões e diminuição da carga horária, com a contrapartida da redução de salários. Isso reduz o poder de consumo das famílias.”

O panorama impacta o bolso dos consumidores de maneiras bem diferentes. Enquanto alguns não sentiram mudanças significativas no orçamento doméstico desde que o novo coronavírus chegou ao DF, 333 mil brasilienses enfrentam essa fase sem um emprego. Além disso, uma parcela das pessoas teve de contar com auxílio de algum programa temporário de transferência de renda para conseguir se sustentar.

Doutora em economia e professora da Fundação Getulio Vargas (FGV), Virene Matesco destaca que há muita incerteza em torno das projeções para os próximos meses. Porém, ela lembra que o movimento econômico atual é “relativamente esperado”. “Não há demanda, as pessoas estão muito comedidas, elas não sabem se amanhã terão emprego. O que elas podiam cortar (de gastos) já cortaram e estão fazendo ajustes. Tem muita gente em casa ganhando menos do que ganhava, outros não sabem se voltarão para o trabalho na mesma posição. Estamos todos cautelosos”, pontua.

Sobre o cenário de queda nos preços, Virene avalia que ainda não é possível considerá-lo como uma fase de deflação, ainda que essa seja a direção. “Por enquanto, estamos com uma queda acentuada de preços. Mas não é o Brasil, é o mundo inteiro. Só consideramos deflação quando há acúmulo de três trimestres. Tivemos dois meses de queda de preços (no IPCA do Brasil), e a tendência é essa. Mas não se pode dizer que estamos em deflação. No acumulado de 12 meses, a inflação ainda é positiva. É muito baixa historicamente, mas não podemos dizer isso, ainda”, completa.

Oscilação

Confira as flutuações nas médias de preços na Ceasa-DF nos últimos seis meses:

Em queda

» Abacate

» Abacaxi

» Beterraba

» Cará

» Coco verde

» Couve-flor

» Inhame

» Maracujá azedo

» Pepino

Pouca variação no período

» Abóbora

» Abobrinha

» Alface

» Banana-nanica

» Banana-prata

» Batata-doce

» Brócolis

» Cenoura

» Chuchu

» Couve

» Jiló

» Laranja pera

» Maçã nacional

» Mandioca/aipim

» Mandioquinha

» Manga

» Melancia

» Milho verde

» Morango

» Pera estrangeira

» Pimentão verde

» Repolho

» Tangerina

» Tomate

» Uva Itália

» Uva Niágara

» Uva rubi

» Vagem

Em alta

» Alho

» Batata

» Berinjela

» Cebola

» Goiaba

» Limão Tahiti

» Mamão Formosa

» Mamão Havaí

» Melão amarelo

» Ovo

» Quiabo

Fonte: Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), em 15/6/2020

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Perdas levam a repasse de gastos pelas empresas

20/06/2020

 

 

Apesar da baixa na inflação, o setor dos supermercados começa a calcular os prejuízos do segundo trimestre. Mesmo com o aumento das vendas, principalmente no meio on-line, o segmento registrou perdas consideráveis devido às despesas com aquisição de equipamentos de proteção individual (EPIs) e produtos de limpeza.

Dados do Sindicato dos Supermercados do Distrito Federal (Sindsuper) mostram que os gastos com EPIs por parte de donos dos estabelecimentos subiu 190% entre março e abril. No caso dos materiais de limpeza, o total foi 188% maior no período.

Diretor de comunicação do sindicato, Jefferson Macedo acredita que alguns custos serão repassados aos consumidores. "É algo que você não espera. Isso (os gastos extras) ainda não está na conta e vai impactar nos preços do futuro, nos produtos de uma forma geral. Não fizemos isso ainda porque não fechamos (os cálculos para) o trimestre", explica. "Tivemos redução de caixa para aumentar a higienização. Saímos de quatro limpezas por dia para 12, então há três vezes mais uso de material."

Jefferson também estima que houve aumento do gasto médio no site dos supermercados de R$ 260 para R$ 280. No entanto, as compras on-line diminuíram no último mês. "Essa demanda diminuiu quando o governo liberou as atividades. Sabemos que as pessoas compram muito durante o deslocamento para casa ou para o trabalho, então elas passaram a ir mais ao estabelecimento", analisa.

 

Vegetais
Após a alta gerada pela demanda do início da pandemia, itens que começaram inflacionados, como álcool e produtos de limpeza, voltaram a um patamar menor. As variações deste mês para o DF tendem a ocorrer por questões sazonais e devem afetar a produção de leite, arroz, trigo, bem como de algumas verduras (veja Oscilação).

Nas Centrais de Abastecimento do Distrito Federal (Ceasa-DF), os valores dos itens ficaram dentro da normalidade entre janeiro e maio. O destaque foi verificado no cálculo do volume. "Em março, houve um pico que superou o padrão histórico. Nossa média mensal (de vendas) é de 28 mil toneladas. Naquele mês, ela chegou a 30 mil", afirma João Bosco Soares, chefe da seção estatística da Ceasa-DF.

Com a queda nas temperaturas, a previsão é de subida nos preços de alimentos como pepino, maxixe, quiabo, berinjela, tomate, batata, chuchu e cebola, segundo João Bosco. "Tem muito a ver com o cultivo e com a demanda (durante períodos frios), mesmo sendo possível fazer pratos quentes com praticamente todos os que citei. No caso da batata, ela está se mantendo em alta. Mas o cultivo da cebola e do tomate sofre um pouco com a chegada do frio", completa.