Título: Discussão sobre armas se fortalece
Autor: Tranches, Renata
Fonte: Correio Braziliense, 09/01/2013, Mundo, p. 17

Iniciativas a favor e contra leis restritivas tentam atrair o apoio da opinião pública

Enquanto os EUA vivem a expectativa de que o governo Barack Obama apresente novas medidas para o controle de armas, entusiastas a favor e contra regras restritivas lançam ofensivas pelo país. Ontem, no segundo aniversário do tiroteio de Tucson (Arizona), a ex-deputada democrata Gabrielle Giffords, ferida no incidente, anunciou uma campanha contra a violência. A iniciativa surge um dia depois de grupos contrários ao rigor nas leis estabelecerem 19 de janeiro como o dia do armamento. Eles pediram que, nessa data, os americanos compareçam em massa às lojas e aos locais de tiro. O debate ganha força na sequência ao tiroteio na escola primária de Newtown (Connecticut), que completa um mês na segunda-feira. Encarregado por Obama de liderar uma força-tarefa que vai elaborar as propostas, o vice-presidente, Joe Biden, se encontrará nos próximos dias com a Associação Nacional do Rifle (NRA, na sigla em inglês), o maior lobby pró-armas dos EUA. Hoje, ele se reunirá com vítimas de armas e, amanhã, com representantes de associações de proprietários e atiradores esportivos. Biden terá encontros ainda com a indústria de videogames e de entretenimento.

Capital político

Ontem, Giffords e seu marido, o astronauta Mark Kelly, lançaram a campanha American for Responsible Solutions (Americanos por Soluções Responsáveis, na tradução livre). Eles esperam impulsionar leis que reduzam a violência e diminuir a influência política do NRA no Congresso. Ferida gravemente no tiroteio de Tucson, Giffords tem usado seu capital político para advogar pelo tema. Na sexta-feira passada, ela visitou as famílias das vítimas em Newtown. Um jornal da cidade, o Hartford Courant, noticiou ontem que o atirador Adam Lanza, 20 anos, usou um tampão de ouvido enquanto disparava mais de 200 vezes contra alunos e funcionários da escola Sandy Hook. Entre as vítimas, 20 eram crianças de 6 e 7 anos.

O USA Today publicou uma carta aberta de Giffords e Kelly em que conclamam a sociedade a cobrar ação do Congresso. “Em resposta à série de horríveis tiroteios que têm espalhado o terror em nossas comunidades, vitimando dezenas de milhares de americanos e deixando um dos seus (a própria deputada democrata Gabrielle Giffords) sangrando até quase morrer no estacionamento em Tucson, o Congresso tem feito algo extraordinário: nada”, dizia a carta. Eles disseram que pretendem “se alinhar aos líderes que defendem o que é certo”. O casal tem mantido contato com o prefeito de Nova York, Michael Bloomberg. Conhecido defensor do controle de armas, ele lidera um grupo de 800 prefeitos que também lançaram ontem uma campanha pedindo medidas restritivas.

As iniciativas se contrapõem à da aliança de conservadores e militares em favor do direito às armas, que estipulou 19 de janeiro como o dia do armamento. A coalizão conclamou os americanos a demonstrar apoio às armas e a comparecer às lojas de armamento nesse dia, batizado de Jornada de Reconhecimento das Armas. Enquanto isso, o país vive o temor de novos ataques. Ontem, no Alabama, um jovem de 17 anos foi liberado após cinco dias preso por supostamente planejar usar explosivos contra uma escola. Segundo autoridades citadas pela mídia local, o jovem pode ter se inspirado no ataque à escola de Newtown. Seu plano foi descoberto na sexta-feira por seus professores.

Deputada baleada

O tiroteio de Tucson ocorreu em 8 de janeiro de 2011 durante um evento político no estacionamento de um supermercado na cidade de Tucson, no Arizona. O atirador, Jared Lee Loughner, 24 anos, abriu fogo e matou seis pessoas, incluindo uma menina de 9 anos e um juiz federal. Outras 13 pessoas foram feridas, entre elas, a deputada democrata Gabrielle Giffords. Ela foi atingida na cabeça e os ferimentos causaram sequelas que afetaram a fala da congressista, que até hoje está em recuperação. Em agosto, Loughner reconheceu a culpa e foi condenado a sete sentenças de prisão perpétua. A parlamentar, que renunciou em janeiro do ano passado, estava presente na audiência, mas não se manifestou.