O globo, n. 31707, 29/05/2020. País, p. 7

 

Reação digital bolsonarista reforça ataques ao Supremo

Guilherme Caetano

29/05/2020

 

 

Investigados no inquérito contra ataques à Corte mantêm discurso contra o tribunal e buscam coesão após buscas

 

EDU ANDRADE/FATOPRESS/27-5-2020Tensão. Manifestantes chamam Alexandre de Moraes de “ditador”

 A operação da Polícia Federal que bateu à porta de aliados de Jair Bolsonaro para investigar disseminação de notícias falsas e ataques ao Supremo Tribunal Federal (STF), na última quarta-feira, energizou a militância virtual bolsonarista. No mesmo dia, nada acuados, apoiadores do presidente cerraram fileiras e retomaram os ataques à Corte pelo Twitter.

O aceno para a mobilização parti udo perfil Movimento Brasil Conservador( M BC ), ao reagira um tuíte de Bolsonaro. Às 23h06m, presidente escreveu que “ver cidadãos de bem terem seus lares invadidos, por exercerem seu direito à liberdade de expressão, é um sinal que algo de muito grave está acontecendo com nossa democracia”.

Meia hora depois, o MBC, que tem 142,3 mil seguidores, replicou a mensagem e acrescentou: “Declaro destituído o STF! Todos em um só coro, repitam: Declaro destituído o STF!”

Em seguida, perfis de pouca expressão, como a conta genérica @Jeff42815858, com apenas sete seguidores, trataram de espalhara mensagem. A hashtag #Declaro Destitui do STF foi compartilhada dezenas de milhares de vezes e se manteve ao longo do dia de ontem entre os assuntos mais comentados do Twitter.

A hashtag serviu para catalisar outros ataques ao Supremo, sendo utilizada por ativistas como Bernardo Küster e Bárbara Destefani, do perfil @taoquei1. Ambos são citados no inquérito das Fake News, assinado pelo ministro Alexandre de Moraes, como propagadores de difamação.

Fundado por Anderson Sandes, Maurício Costa, Henrique Oliveira e Rodrigo Moller, o MBC tem relações estreitas com o bolsonarismo.

MILITARES, NÃO MILITANTES

Além de Bia Kicis (PSLDF), Daniel Silveira (PSL-RJ), Filipe Barros (PSL-PR), o blogueiro Allan dos Santos, a ativista Sara Winter e Bernardo Küster, todos investigados pela PF, marcarão presença em um evento do grupo Eduardo Bolsonaro (PSL-SP), o ministro da Educação, Abraham Weintraub, e seu irmão, Arthur Weintraub, assessor especial da Presidência. .

Sara Winter é líder do acampamento 300 do Brasil, cujo objetivo é “exterminar a esquerda” e “tomar o poder para o povo”. O grupo prega que seus participantes, que planejam ficar acampados em Brasília até derrubar o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEMRJ), “não são militantes, mas militares”.

Após ser alvo de busca e apreensão, Sara foi às redes sociais ameaçar Alexandre de Moraes. Disse que tem vontade de “convidar ele para trocar socos” e incitou a militância a persegui-lo.

"(...) o senhor me aguarde, Alexandre de Moraes. O senhor nunca mais vai ter paz na vida. Agente vai infernizara tu avida, descobrir que lugares ose nhorf requenta, quem são as empregadas domésticas que trabalham para o senhor. Agente vai descobrir tudo da sua vida, até o senhor pedir para sair”, ameaçou num vídeo veiculado em suas redes sociais.

Atacar o Supremo tem sido comum na militância reunida pelo MBC. Na reunião ministerial de 22 de abril tornada pública pelo STF, Abraham Weintraub propôs “botar esses vagabundos todos na cadeia, começando no STF”.

FAMÍLIA REAL

O deputado Eduardo Bolsonaro, em 2018, afirmou que seria preciso apenas “um soldado e um cabo” para fechar o tribunal e, desde então, chama a atenção por criticas ao funcionamento da instituição. O blogueiro Allan dos Santos, um dos alvos da operação da PF, já publicou fotos mostrando o dedo médio ao prédio do STF. É de Olavo de Carvalho, no entanto, a declaração mais radical.

Após a ação da PF, ele pediu a pena de morte a Moraes numa transmissão do canal Terça Livre, de Allan dos Santos, na presença de Eduardo Bolsonaro.

Ao lado do grupo NasRuas, ligado à deputada federal Carla Zambelli (PSL-SP), e do Movimento Conservador (MC), o MBC é um dos principais organizadores de manifestações pró-Bolsonaro e carreatas que defendem o governo e criticam instituições. Em seus carros de som já passaram figuras como Dom Bertrand, apontado como herdeiro da família imperial brasileira, e o empresário Oscar Moroni, dono da boate Bahamas, um dos principais pontos de prostituição de São Paulo. As manifestações são alvo de um inquérito específico que corre no Supremo Tribunal Federal.