Título: Presidente reconhece: PT não é perfeito
Autor: Braga, Juliana; Lyra, Paulo de Tarso
Fonte: Correio Braziliense, 28/12/2012, Política, p. 4

Sem comentar o julgamento do mensalão, Dilma Rousseff defende, com ressalvas, o papel do PT na política brasileira. Diz que "o Brasil deve muito" ao partido, mas admite que a agremiação tem falhas

No ano em que o PT foi o centro das atenções ao ver alguns de seus integrantes serem julgados publicamente pelo Supremo Tribunal Federal (STF), a presidente Dilma Rousseff, maior representante do partido no poder, poucas vezes deixou sua imagem ser atrelada à legenda. Ontem, porém, ao ser provocada por jornalistas em café da manhã com a imprensa, Dilma defendeu, com ressalvas, o Partido dos Trabalhadores. Durante a conversa, disse que reconhece a importância de outros partidos, mas o PT, para ela, é “um dos grandes produtos da democracia” do país. A presidente também admitiu que a agremiação tem falhas. “Como qualquer obra humana, (o PT) não é perfeito”, ponderou.

A presidente comentou a relação com a sigla ao responder uma pergunta sobre como avaliava o ano para o partido, que enfrentou, além do julgamento do mensalão, a Operação Porto Seguro, da Polícia Federal, que desbaratou uma quadrilha de venda de pareceres com tentáculos na alta cúpula do governo, inclusive no gabinete da Presidência em São Paulo. “O PT é um dos grandes produtos da democratização do país. Dá grandes contribuições ao país. Não só respeito, como integro o PT. O Brasil deve muito ao que o PT fez”, argumentou.

As declarações foram feitas a menos de um mês da conclusão do julgamento do mensalão, que condenou petistas históricos — como o ex-ministro da Casa Civil José Dirceu e o ex-presidente da sigla José Genoino. Ainda assim, a presidente se esquivou do assunto e disse que não comentaria a decisão do Supremo Tribunal Federal. “Vocês não vão ver eu me manifestar sobre isso. Tem dois aspectos: eu não me manifesto sobre decisões de outro Poder. Eu posso concordar, discordar, divergir ou não. Como presidente da República, se eu fizesse isso, se eu manifestasse as minhas opiniões, eu não estaria contribuindo para a governabilidade deste país”, contestou. “A separação dos poderes é a pedra basilar da democracia”, completou.

A relação de Dilma com o PT tem sido naturalmente conflituosa. Os petistas não gostaram, ao longo de 2012, das concessões feitas à iniciativa privada para investimentos em rodovias e ferrovias, apontadas pelos tucanos como privatização. Outro foco de ciúmes é o bom diálogo que ela tem com o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso. A relação com os correligionários foi amenizada após a presidente divulgar uma nota rebatendo as críticas de FHC ao governo Lula.

STF independente A presidente também respondeu se tinha arrependimento sobre a indicação ao STF do ministro Luiz Fux, que acompanhou o relator do processo na condenação de alguns dos réus do mensalão. “Eu não me arrependo de nada, estou muito velha para isso”, brincou. Mas fez questão de sustentar que, depois de indicados, eles têm uma “distância integral” da presidente. “Pelo fato de eu os ter indicado, esse é um ato do Poder Executivo, não é um ato da presidente Dilma Rousseff. E, portanto, a partir daí, eles vivam as suas vidas”, filosofou.

Questionada sobre as eleições de 2014, Dilma também desconversou. “Eu não falo sobre sucessão presidencial no meio do meu governo. Por quê? Vou explicar o porquê. Se eu falasse sobre sucessão presidencial, eu, no fim do segundo ano de governo, estaria antecipando 2014. E eu pretendo governar de hoje até 31 de dezembro de 2014 com absoluto empenho, como se fosse sempre o início”, alegou. Segundo ela, se falasse sobre o assunto, estaria “antecipando o fim” de seu governo.