O globo, n. 31710, 01/06/2020. Especial Coronavírus, p. 12

 

Alfabetização em risco

01/06/2020

 

 

Crianças de ate sete anos sofrem com a suspensao de aulas

Em um envelope, Fernanda Mendes, de 7 anos, guarda as atividades enviadas pela escola durante a suspensão das aulas devido à pandemia da Covid-19. No segundo ano do ensino fundamental, ela estava aprendendo a ler e a escrever antes da interrupção das atividades presenciais, mas, agora, mal consegue fazer os trabalhos escolares em casa. Sua mãe, Maria da Graça Mendes, de 31 anos, é analfabeta.

— Como vou ensinar para eles se não sei? Eu não estudei, não consigo ajudá-los no dever —diz Mariada Graça, que tem mais quatro filhos e vive em um cômodo no Morro dos Macacos, em Samambaia Norte, no Distrito Federal.

Fernanda é uma entre os 4.580.245 estudantes brasileiros que, segundo o Censo Escolar 2019, estão no ciclo de alfabetização das redes federais, estaduais e municipais, e podem sofrer o impacto da falta de aulas presenciais.

Embora municípios e estados forneçam materiais impressos e exercícios por meios virtuais, educadores dizem que a complexidade da etapa requer a mediação de um professor para ser concluída com sucesso e será a mais afetada pela pandemia.

Desde a homologação da Base Nacional Comum Curricular(BN CC) em 2017, a diretriz do Ministério da Educação é que a alfabetização seja feita até o segundo ano do ensino fundamental.

— Vamos ter um atraso de um semestre, no mínimo. Não sabemos quando isso vai acabar, e, noca soda alfabetização,vai ser começar do zero — afirma a pedagoga Magda Soares, maior especialista do país em alfabetização.

O resultado da última Avaliação Nacional de Alfabetização, divulgado em 2017, mostrou que mais da metade dos estudantes brasileiros até o 3º ano apresentaram nível insuficiente de leitura e de matemática. O cenário pode piorar coma pandemia.

Um parecer aprovado pelo Conselho Nacional de Educação (CNE) no final de abril sugeriu que as redes de ensino orientassem as famílias durante a pandemia, ressaltando que a atuação dos pais não substitui o papel da escola nessa etapa, que deveria mandar materiais de apoio. Masa realidade socieconômica dos estudantes, muitas vezes, acaba impedindo esse processo.

O Censo Escolar mostra que 67,6% das matrículas nos anos iniciais do ensino fundamental estão sob responsabilidade dos municípios. Para o presidente da União Nacional dos Dirigentes Municipais de Educação, Luiz Miguel Martins Garcia, articula rações vol ta dasà alfabetização durante apandem iaéaqu estão mais sensível no momento:

—Esse é o maior nó  que temos em termos metodológicos. T antona educação infantil com onos anos iniciais, orientamos que haja atividades que trabalhem para que os alunos não percam o que já conquistaram.

Garcia diz que o papel do Ministério da Educação é fundamental para apoiar as redes, já que boa parte delas não têm condições técnicas e financeiras para lidar com o processo. OM EC afirma que“disponibiliza, em ambiente virtual, vídeos com orientações simples e diretas para que os pais comecem o quanto antes a colocar em prática com seus filhos estratégias de alfabetização”.

Com o programa “Tempo de Aprender”, o MEC oferece um curso de formação em práticas de alfabetização para professores e coordenadores.